Marcelo Yuka é uma das peças mais marcantes da música brasileira dos anos 90 e foi o principal responsável por ter colocado O Rappa na lista das grandes bandas brasileiras. Não apenas era o baterista do grupo, como moldava também todo o discurso e posicionamento musical e ideológico.
A parte dolorosa de sua história é que, ao mesmo tempo, ele é conhecido por ter levado 9 tiros em um assalto que o deixou paraplégico.
Depois disso, felizmente, tivemos o nascimento de um novo Marcelo Yuka, alguém que, frente às adversidades, se viu na obrigação de descobrir novas formas de lidar com o próprio corpo, com a própria mente e também de se posicionar no mundo.
Agora, no dia 30 de novembro, ele vai lançar um documentário chamado “No Caminho das Setas” sobre toda a trajetória de transformação que sucedeu o incidente no ano 2000, contando detalhes sobre sua ruptura com O Rappa, suas novas empreitadas musicais, como foi o processo de adaptação à sua nova condição de corpo, entre outras coisas.
Eu não conhecia o que ele estava fazendo depois do incidente que o deixou paraplégico, nem mesmo ouvia O Rappa, por causa do excesso de exposição que a banda tinha, mas confesso que agora, fiquei bem interessado em assistir o documentário, ressuscitar os álbuns antigos da banda e ouvir também o material solo do Marcelo Yuka.
Alguém aí me acompanha?
Link Youtube | “A minha grande pergunta é: o que eu preciso para viver em paz?”
Mente, meditação e ação no mundo
Também assisti a esta fala de Marcelo Yuka no TEDxSudeste.
Deixo como uma sugestão e aperitivo para despertar o interesse pelo documentário.
“Eu tinha noção que o meu corpo tinha parado, mas eu achei que ia melhorar. Mas logo em seguida existe um perído em que a mente não acompanha a mudança do corpo, é uma mudança muito rápida. Passei 34 anos andando, me movimentando, trabalhando com o meu corpo. Então, é uma mudança muito rápida. Eu não conseguia entender aquilo e, logicamente, caí numa depressão profunda.”
“Então, eu tinha que me informar e eu tive acesso yoga, comecei a meditar e isso foi uma mudança incrível na minha vida. Eu comecei a ler mais sobre neurociência e cheguei até um livro publicado no Brasil recentemente, datado de 2006, que falava da busca de cientistas para pesquisar mais a fundo a neuroplasticidade. A capacidade do cérebro de buscar novas formas, uma vez que está sob uma situação de pressão. Ou seja, uma vez que o meu corpo está lesionado, existe uma tendência enorme de que a minha mente se deforme um pouco para que outros sentidos sejam mais aguçados.
(…)
Nesse livro que eu li, esses neurocientistas vão até o Dalai Lama para estudar os lamas da contemplação, monges que ficam muito tempo meditando. Então, ele deu essa permissão e eles filmaram e fotografaram esses monges em alta meditação. E o que eles viram é que essa parte responsável pela felicidade fica enorme no cérebro deles. Isso é uma constatação científica de que a mente que não é tátil, é sutil, ela consegue mover o físico, consegue dar um novo ‘formato’ para si, valorizando outros sentidos.”
“Eu comecei a ver que isso me dava uma nova noção do corpo. Que o meu corpo tinha algo como um rabo de lagartixa que podia se compensar, que podia buscar novas virtudes sempre, que não era uma coisa só de educação, que não era uma coisa só de formação, mas sim uma compensação vinda da adversidade.
Então eu pensei: que corpo eu quero ter? Qual o tamanho do meu corpo? Como um artista eu percebi que o tamanho do meu corpo, nem que seja na porrada, tinha que ser o tamanho da minha sensibilidade. Ele não é o meu tamanho físico mas o tamanho daquilo por que, por quem e como eu emociono.”
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