Certas marcas vivem no imaginário. Mesmo que não tenham jingles ou campanhas memoráveis, mesmo que hoje não abusem de todo o arsenal publicitário, em algum momento de suas histórias zelaram pelo que mais importa: a qualidade.

Acontecem melhorias no ciclo de vida do produto. Talvez um perfume hoje conceituado tenha começado sua trajetória como uma marca secundária. Certos processos produtivos, entretanto, parecem azeitados desde as primeiras peças de montagem.

Patek Philippe

“Você nunca é dono de um Patek Philippe. Você só cuida dele para a próxima geração.”

Por mais superficiais e frívolos que sejam, os relógios revelam muito da nossa personalidade para as mulheres. São um termômetro de seu estilo e de suas disponibilidades financeiras.

Assim, perguntei a um amigo meu, filho de ourives, qual marca ele sugeriria. Logo de cara, sem pensar, ele me mandou: Patek Phillipe. Já tinha ouvido esse nome nas orelhadas da vida, mas não sabia o preço. Para uma peça da (rara) linha comercial, não se paga menos de R$ 20.000. Quando vi essa cifra, pensei: queria ter tanto dinheiro quanto meus amigos pensam que eu tenho!

Os pateks foram idealizados por um imigrante polonês (Antoni Patek) juntamente com um francês (Andrien Phillipe) por volta de 1844.  O pulo do gato da marca para a posteridade está em seu processo produtivo. Sempre focados na inovação, o fabricante suíço lançou inovações que hoje consideramos corriqueiras em um relógio de pulso, como o calendário perpétuo.

Assim, tornar-se referência tem suas vantagens. Além de ser sempre lembrado quando o assunto é relógio de qualidade, a maioria das peças da Patek Phillipe são vendidas em leilões por preços mínimos em torno de US$ 1 milhão.

Manteiga Aviação

Manteiga Aviação, um sabor que está na memória de muita gente.
Manteiga boa é essa que dispensa comerciais de margarina.

Manteiga é uma coisa comum que nem todo mundo paga sua devida atenção. Nós, modernos, consumimos margarina, que é mais barata e não fica dura quando colocada na geladeira. Além de bens substitutos, a principal diferença entre as duas é que a margarina é feita de óleo vegetal e a manteiga de gordura animal (leite). Sem entrar no mérito da questão, uma contém mais gordura que a outra, mas isso não cabe nesse post.

Mas quando se fala de manteiga, de quem lembramos? Claro, daquelas margarinas que fazem propagadas aconchegantes na tevê. Quando se fala de manteiga propriamente, temos que falar de manteiga caseira. Mas hoje, quem produz manteiga em casa? Existem aquelas matadoras manteigas de garrafa, quais são facilmente encontradas em restaurantes de comida nordestina. No entanto, essas não valem. Quando falamos de manteiga, pensamos logo na Aviação.

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A manteiga Aviação está no mercado desde 1920. Fruto de uma parceria entre paulistas e mineiros, o produto homenageava as primeiras companhias aéreas que se instalavam no Brasil. Desde então, sua embalagem continua a mesma. Uma latinha laranja com um avião sobrevoando uma cidade. A única mudança ocorreu em 1940, quando o bimotor da estampa deu lugar a um trimotor. Somente em  1995 a empresa decidiu automatizar seu processo de produção.

O sabor nunca mudou.

Ternos Colella

Um bom terno faz milagre

Ao chegar na cidade grande, completamente deslumbrado e amplamente desorientado, pensava em ser um homem de terno e gravata. Esse traje tem um histórico de representação de poder ou de glamour. Ou de canastrice ou de masculinidade. Passando pelo centro de São Paulo, nos idos de 2002, me deparei com uma loja austera encravada no caos de estacionamentos e lojas de arte na região da Rêgo Freitas.

Essa loja estampava um conjunto acinzentado com o brasão da CBF no bolso. A lapela bem cortada vestiria o selecionado canarinho no mundial do Japão-Coréia. Isso me chamou a atenção.

Muitos anos depois, consegui comprar meu primeiro terno da Colella. O atendimento foi personalizado na medida certa. Não me trataram como a única estrela da loja que deixaria ali muitos de seus tostões. Por outro lado, perguntaram meu gosto para cores, cortes e tecidos. Fui consultado a respeito dos acabamentos (bainha, passador, bolsos).

Apontaram faixas de preços e possibilidades de combinação. Escolhi não só de acordo com o bolso, mas também de acordo com meu corpo. Feito todo esse ritual, fui buscar a peça depois de apenas uma semana.

Até hoje, é o melhor terno que já tive.

Um outro sentido para o consumo

No Logo, de Naomi Klein: muitas vezes a melhor marca é não ter marca.
“Sem Logo”, livro de Naomi Klein: muitas vezes a melhor marca é não ter marca.

Buscar marcas não deve estar associado somente ao consumismo vulgar e beverlyhilliano. Entre a loucura da publicidade e a arregimentação de mercado, ainda existem empresas comprometidas com a qualidade. Seja ela garantida pela abordagem, seja pelas especificidades do produto em si.

Atualmente se fala muito em consumo consciente, aquele que não agride o meio ambiente. O que pensar de uma empresa que lança mão de seu produto em nome da conquista feroz de mercado? Será que ela terá algum tipo de compromisso ambiental ou social?

Flaco Marques

Rapaz do interior de SP que vive suas desventuras na cidade grande. Poliglota valente, busca equilibrar o jeito cosmopolita de ser com a simplicidade caipira de viver.