Confesso: amo as mulheres más. As rainhas malvadas, as femme fatales, as vilãs diábolicas, as bruxas perversas, todas elas.

Xayide (Clarissa Burt).
Xayide (Clarissa Burt), em A história sem fim II. Com essa cara e essa pose, tinha como ser uma boazinha?

Desde criança. Enquanto os outros meninos tinham tesão pela Batgirl ou pela Princesa Leia aos pés do Jabba (cena triste, uma mulher forte assim dominada), meu tesão eram a Madrasta Má, a Malévola, a Maligna. Xayide, acima, a rainha malvada do filme A História sem Fim II, me excitava mais do que qualquer exemplar da Playboy.

Uma vez, bem pequeno ainda, cheguei a perguntar à minha mãe porque sempre ficava com vontade de fazer pipi quando aparecia a Mulher-Gato, aquele mulherão de dois metros de altura, durante o seriado do Batman. Não lembro a resposta, pobre da minha mãe.

Sempre preferi a gargalhada sinistra de uma vilã sarcástica a todos os doces suspiros das mocinhas mais lindas e vulneráveis.

De vez em quando, encontrava meninas dark, que se diziam bad girls e, antigamente, ficava até mezzo-interessado. Será que eram mesmo? Meninas podem ser incrivelmente perversas. Mas, como descobri a duras penas durante a adolescência, meninas dark e misteriosas raramente são sensuais e malvadas, quase sempre apenas revoltadas, complexadas e complicadas. (Para poder vestir em si mesma o arquétipo da femme fatale, uma mulher precisa ser razoavelmente segura de sua identidade, de quem é e do que quer ser.)

Além disso, o termo “bad girl” foi deturpado. Hoje em dia, heroínas como Lara Croft e Witchblade são rotuladas de bad girls só porque são fortes e decididas, só porque tomam posse de sua própria sexualidade. Não deixa de ser um sintoma do nosso machismo galopante que qualquer mulher mais forte e sexual já receba quase que automaticamente o rótulo de “bad girl”, como se essas coisas por si só já as colocassem fora do padrão de comportamento das “boas mulheres”.

Uma mulher forte e decidida é uma delícia. Uma mulher forte e decidida é tudo o que uma mulher tem que ser. Mas não são más. São heroínas, boazinhas, querem salvar o mundo. Essas não me interessam. Não na fantasia.

Link YouTube | Pequeno “documentário” sobre Julie Newmar, a Mulher-Gato do seriado do Batman.

O que é, então, ser malvada?

Difícil de definir.

Afinal, o que é bom pra um é mau para outro. Todos fazemos pequenas crueldades no dia-a-dia. Coisas que não pensamos que são maldades, mas que são vistas como tal. A malvada, pelo contrário, seria a pessoa que pratica essas pequenas maldades conscientemente, sabendo e pensando que são maldades, e por puro prazer. Que se sabe má, que se diz má e que sente tesão em ser assim.

Amo vilãs como a Hera Venenosa, sempre tramando exterminar a raça humana e substituí-la por plantas. Não pensa nas criancinhas do mundo, não quer saber de nada, só da satisfação dos seus objetivos. Tem um plano e vai em frente. Com seus beijos venenosos, ela domina a vontade dos homens e os transforma em escravos, somente para depois descartá-los. Perfeita.

As vilãs são egos sem superegos. Nada mais sexy do que uma mulher linda, inteligente e poderosa que sabe que é linda, inteligente e poderosa. Ela não liga para mais ninguém. A felicidade dos outros, até mesmo suas vidas, tudo irrelevante. Homens? Ferramentas, pra ser usados e jogados fora. Só quer saber mesmo dos seus planos, do seu prazer, da sua felicidade.

E eu, que sou podólatra assumido, amo os belos pés das mais malvadas vilãs. Adoro aqueles filmes de época, com rainhas parcamente vestidas, cercadas de escravos plácidos, tomando reinos, conquistando países, executando sumariamente seus inimigos. E me vejo aos pés da perversa, lambendo seus dedinhos enquanto ela conquista o mundo. Ou sendo seu escravo sexual durante uma noite de ardente prazer, para depois ser jogado aos leões.

Nada disso é real, claro. Nada disso poderia ser real. A vilã das minhas fantasias é um monstro sem limites da qual eu só quero distância. Mas continuo sonhando com ela, pois não temos controle sobre os sonhos. Não tem jeito: minhas mais profundas e antigas fantasias sexuais sempre incluem vilãs perversas, rainhas malvadas, mulheres assassinas, feiticeiras diabólicas.

As mulheres realmente dominadoras que se envolveram comigo sabem que não tenho muita vocação de submisso. Sou mais para cúmplice cínico e descartável, aquele que acompanha a vilã, ajuda nos seus planos, faz todas suas vontades e, no final, é descartado junto com as vítimas.

Não tem jeito. Quem mexe com fogo é pra se queimar. Como se envolver com mulheres perversas e não acabar queimado? Alex, ela diz, com sua voz aveludada e doce, acho que não preciso mais de você… E pronto, já era eu.

Quanto mais perversa, egocêntrica e psicopata, mais me excito.

Hera Venenosa, melhores cenas e origem.

Algumas deliciosas vilãs da ficção

O fascínio pelas más é uma ocupação de alto risco. Elas não perdoam quem se apaixona por elas. Nos tornamos vítimas preferenciais.

Abaixo, uma das minhas cenas preferidas: o, digamos, rompimento entre o Superboy e a Nocaute, uma vilã com quem ele saiu por algum tempo. Ele começa jogando na cara dela todas as maldades que ela fez, e ela responde:

“Acorda! Eu sou má. Sempre fui má. Você me quer porque eu sou má. Então, por que fica surpreso quando faço maldades? O que nós tivemos não foi amor, cachorrinho, foi diversão, mas a diversão acabou. Que pena. Acho que nunca mais vou encontrar um cachorrinho tão bom…”

A Nocaute, como boa vilã, entende bem do que está falando. É fatal se apaixonar pelas malvadas.

Nocaute.
Nocaute sabe como terminar um relacionamento.

Mas como não amar Xenia Onatopp, interpretada por Famke Jannsen, em 007Goldeneye (1995)? Com certeza, a melhor Bond Girl de todas — com Barbara Carrera, em Nunca Diga Nunca Outra Vez, num apertado segundo lugar.

Xenia matava os homens esmagando-os entre suas coxas — e sentia prazer sexual nisso. Na melhor cena, ela está em um trem, com o vilão-mor, e vê Bond vindo em sua direção com um carro, e ela diz, com um sorriso totalmente psicótico:

“Ele vai nos descarrilhar!”

É difícil descrever a cena. O que chama a atenção é que ela é tão psicopata, tão louca que mesmo o herói descarrilhar o trem onde ela está é uma fonte de prazer, só pelo caos que isso vai causar. Tesão.

Link YouTube | Melhores cenas da Xenia, com uma música nada a ver.

Como bom podólatra que sou, amo especialmente as vilãs que usam seus pés para humilhar ainda mais o herói. Por exemplo, reparem nos balões das imagens abaixo, eles são os melhores. O Super-Homem é campeão de ser humilhado por belas vilãs. Essas duas imagens estão entre as minhas preferidas de todos os tempos, não só pelo desenho, mas pelo texto e pela pedolatria explícita.

Safira Estrela.
Safira Estrela. Não basta humilhá-lo: todo mundo tem que ver.

Na primeira, a vilã Safira Estrela está dizendo:

“Eu ordeno que beije minha bota, Super-Homem! Deixe o mundo inteiro ver que você virou meu escravo!”

Na segunda, a última deusa de Krypton diz:

“Não brinque comigo, cachorro! Pro chão! Pro chão! De joelhos diante de sua senhora! Por ter tentado me enganar, você vai rastejar aos meus pés! Eu vou rasgar sua alma em pedaços… até que você implore pela morte!”

Cythonna, a última deusa de Krypton.
Cythonna, a última deusa de Krypton. Apesar de frígida, o SuperHomem ardia seu coração (outro clichê: a vilã que quer dar pro herói.)

É ou não é uma pessoa maravilhosa? Quem não gostaria de apresentar uma namorada dessas pra mãe?

Melhor do que fazer os heróis adorarem seus sapatos, eu amo as vilãs que, além de extremamente más, ainda andam descalças por aí. Uma das melhores é a Abelha-Rainha, da Liga da Justiça. Na belíssima pose abaixo, com os pés pra cima, ela está lamentando que um lacaio que ameaçou de morte caso não fizesse alguma tarefa de fato conseguiu fazer a tarefa. Raios!

“Parece que o Dr.Fillmore vai ver outro nascer-do-sol. É uma pena. Eu adoro uma boa execução!”

Eu quase posso ouvir sua voz dizendo isso, misto de enfado e sexy crueldade.

Abelha-Rainha.
Abelha-Rainha. Tudo o que ela queria era poder executar o cientista chato. É pedir muito?

Outra clássica é a Dra. Cyber, inimiga da Mulher-Maravilha na década de 60. Aqui, ela está mostrando sua fortaleza do mal a Steve Trevor e está sendo bem sincera: primeiro eles vão jantar juntos, civilizadamente, e depois ela vai matá-lo. Não só ela vai acabar com ele, isso é óbvio, como não?, mas ela quer que ele saiba disso, e tem prazer em comentar o assunto de forma leve, como se não fosse nada demais.

Dra. Cyber.
Dra. Cyber. Ela acha uma pena ter que acabar com ele mas a hipótese de poupar sua vida nem passa por sua cabeça linda.

E, claro, pra ela, não é nada demais. Essa é uma das coisas mais sensuais que as vilãs gostam de fazer, jogar casualmente no ar os destinos que terão suas vítimas e ficar só degustando os resultados, o medo, a ansiedade.

Reparem como a doutora está à vontade em sua fortaleza do mal, descalça e tudo, vestindo só um saronguezinho. Eu não consigo deixar de pensar como o chão, aparentemente metálico, deve estar geladinho e gostosinho nas solas da Dra. Cyber. Será por isso que ela anda descalça? Essa pose é particularmente sexy, pernas aparecendo assim furtivamente e o detalhe da tornozeleira de pérolas mostra que alguém era muito fetichista naquela editora.

Lullaby.
Lullaby. O pior de tudo são esses homens escravizados que nem sabem massagear pé direito.

Lullaby, acima, hipnotizava homens para fazerem suas vontades e depois mandava que cometessem suicídio. Essa é uma característica comum de todas as vilãs que usam algum tipo de poder (mágico, hipnótico, sensual) para controlar as mentes e vontades dos homens. O que acho especialmente sexy, claro, é que como elas controlam as mentes dos homens, poderiam mandar que esquecessem tudo, mas isso não seria nem um pouco divertido. Legal é ver alguém se matando por um capricho delas. No meio tempo, gostava de se cercar de belos rapazes e fazer com que eles massageassem e beijassem seus pés. Ela nem precisaria me pedir duas vezes.

Abaixo, a Sereia, no velho episódio do Batman, hipnotizava os homens com sua voz mágica e, depois de usá-los, os descartava: mandou o Chefe O’Hara se atirar num lago e Bruce Wayne se jogar da cobertura. E dizia coisas lindas como:

“Quem se lembra das boas mulheres das história? Florence Nightingale e Molly Pincher empalidecem quando comparadas a Lucrécia Bórgia e Lady Macbeth. O mal faz o mundo girar… e eu quero ser bem má!”

Muitas vezes, as vilãs, além de diabólicas e perversas, ainda têm poderes mágicos e uma imaginação cruel. E eu confesso que uma das minhas fantasias é ser encolhido por uma dessas vilãs malvadas, para fins inenarráveis.

Desde ser enfiado em lugares íntimos (como em Fale com ela, do Almodóvar, abaixo) até ser forçado a beijar e lamber os seus agora enormes pés.

Por fim, como as vilãs cansam fácil, ela me colocaria no chão e me pisaria como se eu fosse uma baratinha. É a união de duas fantasias: a mulher absolutamente perversa usando seus pés para fazer maldades.

Giganta, vilã dos SuperAmigos, prestes a te esmagar como se você fosse um inseto.
Giganta, vilã dos SuperAmigos, prestes a te esmagar como se você fosse um inseto.

Por fim, eu sempre achei o Spy vs Spy da Revista Mad um saco, mas adorava quando aparecia a Dama de Cinza. Era perfeito: os dois spys bobões eram apaixonados por ela e ela não tinha pena nenhuma, usava aquele amor deles para melhor acabar com eles.

Abaixo, ela aparece deitada com os dedinhos dos pés enroscados numa rede. Como bom podólatra, também amo ver pezinhos assim, em movimento, os dedinhos fazendo alguma coisa.

A espiã cinza.
A espiã cinza. Quando estiver satisfeita, cabum.

Infelizmente, nenhuma delas existe. Ou melhor, felizmente.

Só uma fantasia. Ou não.

Confesso, sinto tesão por vilãs perversas, egocêntricas e psicopatas, mas só na fantasia. Na verdade, uma mulher assim seria um monstro que teria que ir preso. Não seria alguém com quem desenvolver nenhum tipo de relacionamento. Meu pau aqui em riste não significa endosso das malvadezas. Só tesão mesmo, puro e simples. Tesão pelo arquétipo da femme fatale, da mulher má, da diva egoísta.

Por mais cruéis e monstruosas que sejam, como não nos sentirmos fascinados por mulheres tão incrivelmente poderosas e sensuais? É o próprio perigo que nos atrai. A tentação de brincar com fogo e, quem sabe, não sair queimado.

Sim, esse arquétipo é mais antigo que andar pra frente, a Bíblia está cheia delas (confesso que tive paixonite por Jezebel), e não quer dizer necessariamente nada de bom. Pelo contrário, durante milênios, ele foi apenas o outro lado de “mulher santa pra casar”, uma identidade binária que enclausurava todas as mulheres: ou se era um ou outra. Colocar a mulher nessa posição era somente mais uma maneira de tirá-la do caminho, de lhe negar profundidade e complexidade, de desumanizá-la.

Além de ser absurdamente sexy e de me levar quase à loucura, a femme fatale tradicional cumpre uma função social importante: justificar tanto o medo que os homens têm das mulheres quanto sua tirania sobre elas. Afinal, se deixarmos as mulheres correrem soltas, imagina o que pode acontecer? Vagina dentata! Pra cozinha com elas!

Hoje em dia, entretanto, as coisas vão mudando. Um pouco.

Não são apenas os homens os únicos atraídos pelo paradigma da mulher fatal e perversa. As meninas, expostas à mesma cultura e cada vez mais independentes, não raro percebem (quase sempre pra sua imensa surpresa e estranhamento) que admiram e invejam as malvadas; que gostariam de sentar em seus tronos e entrar em suas meias arrastão; que pode ser um tesão, nem que apenas na fantasia, se imaginar assim sexy e poderosa, perversa e egoísta. Querem provar a delícia de ter um homem aos seus pés, derrotado, humilhado, entregue.

Falei que as vilãs são egos sem superegos, e talvez esse seja o ponto principal. Quase toda mulher que conheço sofre de um excesso de superego. Vivem oprimidas por mil regras, desde a obrigação de se depilar até não poder transar quando querem “porque o que ele iria pensar de mim!”, sempre vigiadas pelos olhares atentos de amigas, parentes, namorados. E a femme fatale é uma máscara, um persona, um arquétipo que podem vestir e, por algumas horas que seja, experimentar uma liberdade catártica e exuberante.

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Meu verdadeiro fetiche é pelas mulheres de carne e osso, lindas e inteligentes, tantas delas minhas amantes e amigas, que também são atraídas por esse mesmo arquétipo, que adoram a fantasia de ser essa mulher e de ter escravos apaixonados aos seus pés para usar e abusar, que gozam com a suprema liberdade de um egoísmo sem limites e de poder não se preocupar com nada nem ninguém, que se excitam ao se imaginar malvadas e poderosas, fúteis e vaidosas, gloriosas deusas do mal.

Link YouTube | Charlize Theron de Rainha Má: filme mais esperado do ano.

E a vida real?

“Mas isso tudo é ficção, Alex. Todas essas mulheres são inventadas. E a vida real?”

Bem, todas as mulheres reais que já compartilharam a vida comigo, mulheres lindas, fortes, inteligentes, tesudas, também compartilhavam dessas fantasias loucas. E brincávamos das mais diferentes maneiras, nunca deixando que nossa vida sexual se resumisse a esse aspecto.

Difícil escrever sobre isso sem um excesso de exposição, mas como a pergunta é válida e sempre aparece, lá vai. Os leitores mais sensíveis podem pular para a próxima seção.

Podem ser os comentários mais simples. Entrando num parque ao pôr-do-sol, comentei que estava ficando escuro e ela riu:

“Pior sou eu, que vou ter que voltar sozinha, depois de acabar com você e te enterrar no mato”.

Foi o suficiente para me deixar com tanto tesão que saímos nos agarrando pelas árvores e, sim, perdemos o horário de fechamento e tivemos que sair escoltados pelo guarda.

Uma ex-namorada gostava que eu a assistisse se embelezando. Seu ritual de beleza era longo, como o de todas as mulheres lindas, e ela se dedicava a ele com afinco e método. Eu tinha que ficar nu, em uma cadeira afastada, só observando, sem me tocar — e eu ficava, de fato, observando embasbacado enquanto ela andava pelo quarto, também nua, e se admirava diante no espelho, passava hidratante no corpo, tirava pelos com a pinça, fazia as unhas, penteava longamente os cabelos, se maquiava.

Ficávamos em silêncio na maior parte das vezes. Ela tinha um prazer gigantesco, quase orgásmico, de se sentir vigiada, olhada, admirada, desejada durante esse longo ritual. Meus olhos sobre ela eram seu maior prazer.

Depois, quase sempre, nada acontecia, pois tínhamos que sair logo para algum compromisso para o qual já estávamos invariavelmente atrasados. Além disso, ela se divertia ao me ver tentando vestir minhas calças com uma gigantesca ereção na virilha.

Uma mulher malvada e vaidosa, e seu espelho: dupla inseparável.
Uma mulher malvada e vaidosa, e seu espelho: dupla inseparável.

Uma vez, outra ex-namorada entrou correndo na minha casa, vestindo uma roupa listrada preta e branca. Perguntei o que era, sem saber que já estávamos em plena brincadeira, e ela disse que tinha acabado de fugir da cadeia, mas que era inocente, os porcos estavam atrás dela, eu podia escondê-la? Eu já sabia bem o que iria acontecer, mas concordei, claro.

Ela me seduziu rapidamente e me levou pra cama. Então, durante o sexo, ela teve uma pequena confissão a fazer: que na verdade não era inocente, era uma vilã perversa muito pior do que pensava a lei, e que iria acabar comigo para cobrir seus rastros. Mas, mas, você não tem gratidão?, eu perguntei, e ela riu, disse que claro que tinha, porque achava que estava me dando a oportunidade de transar com a mulher dos sonhos de qualquer adolescente, linda, inteligente e má? Afinal, ela poderia ter acabado comigo sem precisar transar. E, na verdade, confessou depois, nem era para cobrir os rastros, porque ela sabia que eu não teria coragem de denuncia-la, era só mesmo pelo prazer de livrar o mundo de mais um trouxa.

Então, ao sentir minha excitação ficando cada vez maior dentro dela, ela zoou ainda mais, que tipo de homem ouve isso tudo e, ao invés de fugir e resistir, fica com tesão? Escolhi mesmo muito bem o trouxa perfeito pra me ajudar! E etc.

E depois disso? Depois disso, dormimos abraçadinhos como dois apaixonados e, quando acordamos, fomos tomar chá com a minha tia. Como o casal de namorados mais fofo e normal do mundo.

Link YouTube | Filme Femme Fatale. A ex-namorada logo acima considerava essa a cena mais sexy do cinema de todos os tempos. Reparem no olhar cruel e deliciado da vilã ao ver a briga dos dois homens por ela.

Leitora, o que você faria com o Brad Pitt?

Nunca fiz segredo do meu tesão por malvadas.

Pelo contrário, gosto de bradar isso aos sete ventos — pois só assim elas me encontram. Em meus nove anos de blog, escrevi sobre o assunto diversas vezes. Graças a esses textos, muitas mulheres que estavam confusas, se descobrindo, se questionando, puderam entrar em contato.

Raquel, por exemplo, contou a seguinte história: de vez em quando, conversava com suas colegas sobre fantasias sexuais e galãs da moda. Entretanto, enquanto elas sonhavam com o que fariam com o Brad Pitt na cama, Raquel tinha outros desejos inconfessáveis.

Sua fantasia era fazer o Brad Pitt se apaixonar por ela e, depois, humilhá-lo, obrigá-lo a largar sua carreira no cinema, abdicar de tudo só para tê-la, e ela só provocando-o, atiçando-o, e então, quando já não lhe restasse nada, só aquela paixão irreprimível por ela, ela riria na cara dele, diria que agora que ele não é mais um astro, não lhe serve, não lhe tem serventia alguma, o que vai querer com um pobretão inútil desses?, que vá pintar paredes, arranjar mulheres na zona, qualquer coisa assim, mas saia da minha presença agora!, e ele sairia, arqueado, derrotado, humilhado, e o que mais a excitava, nessa sua fantasia, era a ideia de acabar com a vida de um astro de Hollywood por puro capricho, sem motivo algum, e, melhor ainda, ele ter feito tudo voluntariamente, por puro tesão, um tesão que ele carregaria pra sempre, acumulado e frustrado! (Ao terminar de contar tudo isso, ela estava quase sem fôlego, olhinhos brilhando, voz arquejante.)

Na sua vida civil, Raquel é mignon, educada, quase tímida, se vira ao avesso pelos amigos, faz de tudo para agradar as pessoas. Em suas fantasias, porém, é uma deusa do mal, uma devoradora de homens, cercada por dezenas de escravos devotados que ela joga aos leões depois de abusar sexualmente, adorada e desejada por multidões apaixonadas e sempre frustradas, absolutamente egoísta e mentirosa, interessada somente em si mesma, em seu poder, em sua glória, em sua vitória, em seu final feliz.

Tudo o que ela não é.

Porque, na vida, por definição, a gente só fantasia ser aquilo que não é.

Kimura Ryoko, uma artista japonesa de desenhos sempre muito sugestivos.
Kimura Ryoko, uma artista japonesa de desenhos sempre muito sugestivos.

Desmascarada por um escorpião

Victoria era uma colega de trabalho. Bem comportada, caladona, roupas sóbrias. Parecia crente. Nunca me chamou atenção. Um belo dia, se abaixou para pegar uma coisa e eu vi uma tatuagem de escorpião logo acima de sua bunda.

Um escorpião! Um animal perverso, venenoso, sexy. Na bunda daquela quase freira.

Bastou o escorpião para atiçar minha curiosidade. Fui me aproximando. Duas semanas depois, transamos pela primeira vez. Ficamos juntos por oito meses. Aquelas roupas da vovó escondiam umas das mulheres mais lindas, sensuais e cruéis que jamais conheci.

Desmascarada por um escorpião.

Apaixono fácil.
Apaixono fácil.

Toda malvada é vaidosa

Vaidoso que sou, costumo sempre tirar os óculos durante eventos sociais, ainda mais se potencialmente românticos.

Então, em nosso primeiro encontro, ela perguntou quantos graus eu tinha e se enxergava bem.

Respondi que não era muito, que sem óculos eu fazia tudo menos ler, dirigir e usar computador, que acabava usando mais por preguiça de tirar mas que, em saídas sociais como aquela, eu tirava para ficar mais bonitinho.

E ela pediu para eu colocar os óculos de novo, e explicou, no tom frio que lhe era peculiar:

Eu era feio. Tirar os óculos me causava um ganho estético insignificante, que não compensava a perda da visão. Ela não estava comigo pela beleza, não fazia diferença alguma. Pelo contrário, ela queria o prazer de saber que eu estava com a visão perfeita, pois alimentava a sua vaidade saber que eu podia apreciar a sua beleza nos mínimos detalhes, lhe dava tesão se saber adorada e admirada por mim.

Apaixonei, né? Não tenho nenhuma defesa contra um comentário desses. Fomos homem e mulher, vaidosa e admirador, vilã e capanga, por cinco anos e foi lindo.

Ninguém é mais vaidosa do que a Rainha Má, muito mais bela que aquela boboca da Branca de Neve.
Ninguém é mais vaidosa do que a Rainha Má, muito mais bela que aquela boboca da Branca de Neve.

Como descobrir as malvadas

Com o tempo, fui descobrindo cada vez mais maneiras de detectar onde estão e quem são as mulheres malvadas que tanto gosto. Não é nem muito difícil. Indicadores não faltam. Os nossos gestos revelam quem somos, principalmente em público. Linguagem corporal é tudo.

Pode ser num café, numa praça, na biblioteca, até mesmo na sala de aula. Estão vendo aquela moça, sapatos largados no chão, pés em cima da mesa, da cadeira ou do banco, languidamente fumando um cigarro, lendo um livro ou falando no celular? Deixa eu apresentar ela pra vocês.

Essa mulher não se preocupa muito com o que os outros estão pensando, ou se a sua postura é apropriada, ou mesmo se ela pode colocar os pés ali: ela adapta o mundo a ela, não vice-versa; sabe o que quer e faz, sem se importar muito com os outros. Seu gesto é transgressor e, como toda transgressão, é egoísta e arrogante: o transgressor é aquele que pensa primeiro em si e depois na coletividade. O que lhe interessa é seu conforto e seu prazer: se tiver que quebrar algumas regras para isso, paciência.

A Rainha Branca, em um universo alternativo onde ela ainda é malvada como antigamente.
A Rainha Branca, em um universo alternativo onde ela ainda é malvada como antigamente.

(Já a mulherzinha tímida, humilde, inibida, fraca, dependente jamais colocará os pés para cima em público. Ela será tomada por milhares de dúvidas: “será que pode? Será que não vão me chamar a atenção?” Olhará em volta: “não tem mais ninguém com os pés em cima do banco, melhor não…” Depois, vai pensar na sua imagem e nas coisas que sua vovozinha lhe ensinava, não é feminino colocar as pernas pra cima, “coisa de homem, minha neta!”, mulher senta é de joelhinho apertado, ou de perninha bem cruzada, tentando se dobrar em si mesma, ocupar o mínimo possível de espaço, e quase sumir, pra não incomodar de ninguém – jamais se espalhando languidamente em um banco como se ele fosse sua própria casa. E mesmo assim, ainda haveria uma última dúvida cruel: tiro os sapatos ou não? “ai meu deus, seria falta de consideração colocar os sapatos assim em cima do banco, estão sujos, alguém vai sentar aí depois, o que iriam pensar de mim…?” Mas, por outro lado, “ai jesus, como é que eu vou tirar os sapatos?!, meu pés são horríveis, que vergonha!, e ainda não fiz as unhas essa semana, e cruzes, acho que estão com cheirinho…!, será que alguém vai perceber? ai minha santa virgem!, melhor não…” Com essa mulher, deus me livre, eu não quero nem conversa.)

Estamos sempre transmitindo informações para todos à nossa volta. O enorme e desengonçado rabo colorido do pássaro macho simboliza que ele é tão foda e saudável que, mesmo com aquela tremenda desvantagem prática, ainda conseguiu não ser comido por nenhum predador. E a mulher que tira os sapatos em um lugar público e coloca os pés para cima está sinalizando que ela é, a princípio, tudo o que eu procuro. Desinibida, transgressora e dominadora. Individualista, exibicionista e hedonista. Forte, livre e egoísta. Uma diva. Perfeita.

Eu levanto minhas anteninhas vibrando e venho de onde quer que esteja. Puxo papo, convido pra um café, peço pra tirar uma foto, qualquer coisa. Assim como a leoa que vai se esfregar no macho com maior juba, estou tranquilo na certeza de estar fazendo nada mais do que o meu dever biológico.

Link YouTube | Salma Hayek e a cena (claramente idealizada pelo doente do Tarantino) que perverteu toda uma geração, em Um drink no inferno.

Atraindo as leoas

Quando digo que gosto de mulheres malvadas, a maioria das pessoas simplesmente não entende o que quero dizer com isso. Não tem problema: meu objetivo não é explicar o mundo aos desavisados, mas atrair os entendidos.

Não conto essas coisas à toa. Não tenho prazer em chocar nem em me mostrar. Sei que a caixa de comentários desse texto vai ser feia. Muitos idiotas vão me sacanear e serão olimpicamente ignorados por mim.

Mas tenho prazer em desentocar iguais. Não me interessa quem vai achar isso tudo um absurdo, mas quem vai achar isso tudo um tesão.

Eu me revelo justamente para descobrir quem vai bailar comigo e quem vai se encostar na parede. Muita gente me acha esquisito? Claro. Essa é a ideia. Não tenho medo de rejeição. Ser rejeitado pelas pessoas pequenas só faz bem. Os pequenos se afastarem de mim por conta própria me poupa o trabalho de espantá-los a pauladas.

Troco alegremente a rejeição dos pequenos pela aceitação dos grandes. Vale a pena afastar mil bois para atrair uma única leoa.

Quero saber das mulheres. Já teve fantasias assim? Tem prazer em se imaginar perversa, poderosa, malvada? Já teve vergonha desses desejos? Já cedeu a eles?

Se você quer se abrir e conversar sobre isso, não precisa se expor nos comentários: escreve pra mim.

Mais algumas belas imagens que não couberam no post

Spider Priestess, vilã criada por Frank Cho, que desenha algumas das melhores mulheres do universo.
Spider Priestess, vilã criada por Frank Cho, que desenha algumas das melhores mulheres do universo.
Circe, uma vilã mitológica que sempre aparece nos quadrinhos, no cinema, na TV.
Circe, uma vilã mitológica que sempre aparece nos quadrinhos, no cinema, na TV.
Tetra, no gibi do Conan.
Tetra, no gibi do Conan, já planejando o que fazer depois da morte do herói.
Rainha Má.
Rainha Má. A mais clássica.
Zaladane, X-Men, uma vilã tão doce.
Zaladane, X-Men, uma vilã tão doce.
Morgana Le Fey, assim como Circe, é a malvada mitológica que mais aparece na mídia. A última foi Eva Green em Camelot.
Morgana Le Fey, assim como Circe, é a malvada mitológica que mais aparece na mídia. A última foi Eva Green em Camelot.
P'Gell, a maior femme fatale dos quadrinhos, a um passo de devorar o Spirit.
P’Gell, a maior femme fatale dos quadrinhos, a um passo de devorar o Spirit.
Speedy Racer.
Uma vilã de aparição única, mas pose inesquecível, no gibi do Speedy Racer.
Mônica Bellucci, em Irmãos Grimm, uma das melhores, mais lindas e mais vaidosas Rainhas Más do cinema.
Mônica Bellucci, em Irmãos Grimm, uma das melhores, mais lindas e mais vaidosas Rainhas Más do cinema.
Michelle Pfeiffer, de Bruxa Má: único mas excelente motivo para ver Stardust
Michelle Pfeiffer, de Bruxa Má: único mas excelente motivo para ver Stardust

Alex Castro

alex castro é. por enquanto. em breve, nem isso. // esse é um texto de ficção. // veja minha <a title=quem sou eu