Leonardo DiCaprio é um ator de sortes e de fases. Fora, em outros tempos, um jovem ator que participava de ótimos filmes com estrelas que, se não possuíam uma carreira muito renomada, ainda haveriam de ter.
Mais tarde, com o boom de dois filmes românticos que protagonizou (ah, sim, você sabe quais são), acabou entrando em um vórtex de projetos duvidosos que poderiam facilmente fazer decair uma carreira que tinha tudo para ser bem promissora.
Só que, como em um passe de competência (ou de mágica), acabou emplacando boas relações com ótimos profissionais da indústria: grandes diretores, outros ótimos atores, produtores ousados e experientes dentro de Hollywood. Tivemos, se pensarmos de forma muito rápida, a morte e redenção de um dos atores mais interessantes na sétima arte.
A fase pré-Titanic
Mas ainda que, para muitos de nós, esse tenha sido o primeiro contato com o trabalho do cara, o ator californiano não começou no cinema já de suspensórios dançando com a Kate Winslet em um salão de navio cenográfico.
Antes disso ele teve que ralar muito, o que fica claro quando você nota que o primeiro filme dele foi o (provavelmente nunca mencionado numa conversa sobre Oscars) Criaturas 3, uma película sobre uma raça de alienígenas peludos que começam a devorar pessoas em uma cidade do interior dos Estados Unidos.
Fascinante.
E você está, nesse instante, procurando o filme no Netflix. Sim, eu sei.
Depois disso e de uma breve participação no elenco fixo da série Growing Pains, Dicaprio começou, ainda em 1992, o que seria um rápido e sólido processo de ascensão no cinema.
Contracenar com De Niro em O Despertar de um Homem? Confere. Ser elogiado pela atuação ao lado de Johnny Depp em Gilbert Grape – Aprendiz de Sonhador? Também. Interpretar, no mesmo ano, um adolescente envolvido com drogas e o poeta Arthur Rimbaud em Diário de um adolescente e Eclipse de uma Paixão? Sim, ele tava lá.
Então, ainda que naquela época, talvez a gente não pudesse perceber — acredito que minha maior referência cinematográfica em 1995 ainda era o Jim Varney (o eterno Ernest) — o cara já começava a se tornar um ator em quem prestar atenção.
Romeu e Julieta, Jack e Rose, Luis XIV e o irmão gêmeo dele
Mas foi em 1996 que as coisa realmente decolaram, com o sucesso de público se juntando a simpatia da crítica.
Com o papel principal na releitura de Romeu e Julieta feita pelo Baz Luhrmann, ele se tornou o queridinho de todas as garotas e começou a ganhar fama global, sendo o sucesso estrondoso de Titanic mais um fatality do que necessariamente um golpe final, já que chega em um ponto em que não é possível as meninas de 15 anos ficarem mais apaixonadas por um cara do que já estão.
A não ser pelo fato de que, é claro, era, e com O Homem da Máscara de Ferro ele conseguiu emplacar outro sucesso, vender outros pôsteres de página dupla e possivelmente financiar mais umas cinco tiragens de revistas de adolescentes.
Mas ainda que nessa época, como eu disse, ele pudesse ter parecido pra maior parte de nós apenas um galã teen, rapidamente começou a provar que tinha potencial pra ser bem mais do que isso.
Spielberg, Allen, Scorcese, Scott e Nolan
Aproveitando o prestígio e as oportunidades surgidas a partir do sucesso de seus filmes anteriores, DiCaprio — esse texto ficaria muito esquisito se eu começasse a me referir a ele como Leo — começou a buscar oportunidades de trabalhar com diretores que admirava, ainda que no começo essas colaborações não tenham dado muito certo.
Primeiro em Celebridades, um filme que não é dos melhores do Woody Allen, mas que mostrou o ator tentando experimentar no campo da comédia e depois A Praia, que apesar de ter o mesmo diretor de Trainspotting, não chega nem a chocar e nem a divertir, ficando em um confuso “meio do caminho”.
Mas, depois disso, claro, ele veio a ter uma das melhores séries de filmes que qualquer ator contemporâneo poderia ter, emendando Gangues de Nova York (do Martin Scorsese), Prenda-me se for capaz (Steven Spielberg), O Aviador (Scorsese) e Os Inflitrados (também Scorsese), todos num período de quatro anos, empilhando indicações e ganhando o reconhecimento até do cara mais rancoroso que ainda estivesse sentido por causa daquele dia chato no cinema em 1997.
Os trabalhos depois disso, ainda que com alguns altos e baixos (afinal qual é o homem que nunca deu seus tropeços e depois voltou a mandar bem?), mostraram um ator que não tinha medo de experimentar e que estava pronto para qualquer grande papel e grande oportunidade, fosse em um filme de espionagem no oriente médio como Rede de Mentiras (de Ridley Scott), em um drama de época como Foi Apenas um Sonho (do Sam Mendes, marido da Kate Winslet), em um blockbuster sci-fi como A Origem (do Christopher Nolan) ou em uma adaptação clássica como O Grande Gastby.
Clint Eastwood o dirigiu (em ), Scorsese o dirigiu mais algumas vezes (e ainda o dirige em seu novo filme, ), Edward Zwick o dirigiu (em ).
Tarantino e DiCaprio
Sobre Django Livre é até complicado saber o que falar porque o Tarantino é famoso por ressuscitar carreiras, mas, nesse caso, lidou com um ator que já estava no seu auge e saiu dali apenas tendo provado que não apenas é capaz de encarar também papéis de vilão como também que consegue atuar mesmo sangrando. Fora que apenas não rir diante do Samuel L. Jackson agindo daquele jeito já merecia algum tipo de prêmio. Não sei.
O triunfo de estar pronto para as oportunidades
E não, nem vamos entrar na questão da vida pessoal do cara, porque misturaríamos um texto sobre cinema com um top 10 das mulheres mais bonitas do mundo — Gisele Bündchen, Bar Refaeli — mas DiCaprio se tornou uma referência no que faz aproveitando oportunidades de trabalhar com gente muito boa e absorvendo muita coisa disso. Seja em pegar papéis complexos para um ator da sua idade, para brincar com sua imagem num filme do Woody Allen ou reinventá-la num filme do Tarantino, para mostrar que era mais do que um atorzinho bonito, o cara estava lá.
E não, também nem vou mencionar que ele investe em desenvolvimento sustentável, é ativista dos direitos LGBT e, foi descrito pelo presidente Putin — aquele cara que nada com golfinhos e pratica queda de braço com ursos nas estepes russas — como um “homem de verdade”.
Acho que o único jeito da gente respeitar mais o cara seria se ele anunciasse que vai produzir Criaturas 5 (o Criaturas 4 já foi feito e se passa no espaço sideral).
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