Keanu Reeves queria ser um baixista de sucesso. Johnny Depp aspirou ser uma estrela do rock. Bruce Willis já lançou alguns discos e toca sua gaita sempre com empolgação.

Gwyneth Paltrow chegou a fazer dueto em filme que vira e mexe toca naquela rádio que seu pai ouve e até chegou a se casar com um rockstar do novo milênio (o picareta Coldplay Chris Martin). Jack Black, Scarlett Johansson, Jamie Foxx, Woody Allen…

Toneladas de astros de Hollywood brincam de serem músicos e muitos tentam de fato inserir seu nome na indústria musical. Nenhum deles com a desenvoltura de Juliette Lewis – não medindo sucesso, público ou grana, mas no encaixe e na progressão. Juliette se molda perfeitamente ao mundo do rock’n roll e seu desempenho é ascendente.

juliettelewis
Assassinos por Natureza

A eterna Mallory Knox (de ) está de álbum novo, banda nova e alma nova. Comparações óbvias são pertinentes, porém, não devem ser ápice de qualquer análise. Não é melhor não. Também está longe de ser pior.

O novo projeto leva seu nome e seus novos parceiros são os New Romantiques. Com isso, foi-se o rock festeiro dos Licks (que se separaram em janeiro desse ano), mas fica a diversão nessa Terra Incognita. A produção é de Omar Rodriguez-Lopez (uma das cabeças do Mars Volta) e o disco se mostra sóbrio e sabiamente pop.

A sujeira deu lugar a uma loucura mais compacta, mas em caráter bem sutil.

“Noche Sin Fin”

Se antes a menina de Cabo do Medo era associada a um rock honesto e energético, agora Juliette pode receber condecorações de ousadia. Sua voz ficou deliciosamente mais rouca e, se antes era encaixada num ‘power pop’ bem executado para as devidas pretensões, agora passeia por arranjos mais potentes, confessionais, estruturados. O que antes (o trabalho com os Licks) era uma unidade simples, mas digna, agora é um desafio pontuado em diversas modalidades.

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“Noches Sin Fin” é densa e desesperada, assim como a ótima “Hard Lovin’ Woman”, um rock’n blues que rapidamente aguça o desejo etílico. “Terra Incógnita” e “Fantasy Bar” são as que mais chegam perto do passado de Juliette, enquanto “Romeo” mostra uma Juliette delicada, assim como nas baladas “Uh Huh” e “Suicide Dive Bombers”.

As viagens ‘mars voltianas’ são bem perceptíveis na sequência “Ghosts”, “All For Good” e “Female Persecution”.

“Hard Lovin’ Woman” ao vivo: Juliette em seu momento Janis Joplin

Apesar da voz de Juliette claramente não ter a mesma qualidade ao vivo, a segurança que a moça sempre teve nos palcos agora transparece também na escolha de qual caminho seguir na música e, se antes ela já tinha aval pra seguir viagem, carimba nessa nova fase o passaporte para continuar investindo em novos territórios.

“Suicide Dive Bombers”

Jader Pires

É escritor e colunista do Papo de Homem. Escreve, a cada quinze dias, a coluna <a>Do Amor</a>. Tem dois livros publicados