Havia recém me formado na faculdade de Administração ao final de 2009, terminado com a namorada e me demitido do meu último estágio.

Enquanto estudei, juntei uma grana para viajar. Nada mais me segurava aqui e, com isso, fui para o outro lado do mundo. Eu estava na Austrália já fazia um mês, dormindo no chão, em um colchão achado na rua, com molas duras. Mas estava morando de graça na casa de uns amigos de infância.

Foi quando resolvi que deveria conhecer Bali. Fica umas 6 horas de avião de Sidney. Comprei na Internet uma passagem pela Virgin Blue (AUD 650) e fiz uma reserva no Bounty Hotel em Kuta, Bali (Diária AUD 52). O hotel fica na famosa Rua Poppies Lane II, perto da praia. O quarto possuía uma cama de casal, banheira, televisão, frigobar e, obviamente, um ar condicionado.

É impossível ficar lá sem ar condicionado porque é quente demais. Tipo 40 graus a noite.

Em Bali, tudo é muito barato. Por um preço de quarto compartilhado em hostel na Europa, se fica em um hotel 5 estrelas. Eu precisava de uma cama macia.

Cama!

Depois de me estabelecer no hotel, fui conhecer a noite. Havia pequenas motocicletas por todos os lados, a rua do hotel era muito movimentada. O povo de Bali é uma mistura de asiático e indiano. São muito agitados e também muito carismáticos.

Em um primeiro momento, é possível ficar preocupado, mas depois a gente vai pegando o jeito para lidar com eles.  É importante saber que, na Indonésia, todos devem escolher uma religião, sendo a maior comunidade islâmica do mundo. Nesta ilha, porém, a maioria é hinduísta, com alguma influência das religiões antigas.

Resolvi entrar em uma boate chamada Bounty Ship, indicada por um amigo brasileiro que mora na Austrália. A festa lembrava um carnaval em Porto Seguro, várias pessoas dançando freneticamente e bebendo bastante. O lugar é uma réplica de um navio pirata e possui uma série de pistas e atrações diferentes.

Na pista principal, tocou até o “Rap das Armas“, remixado na versão eletro. Acho que eu era o único que entendia os versos desta música. Havia também umas grades, onde algumas australianas levemente alcoolizadas dançavam prestes a tirar a roupa. Foi uma noite muito boa.

Acabei conhecendo duas garotas malaias, que foram dormir comigo no hotel.  Fiquei sabendo que a questão das drogas é complicada, enquanto fumar maconha pode levar a pena de morte, chá de cogumelo e pastilhas de efedrina são vendidos livremente na rua, como se fossem sucos naturais em Copacabana.

Pela tarde, quando acordei, fui ao Rainbow Café, do outro lado da rua do hotel, comer uma posta de atum recém pescado. O preço era de mais ou menos 50 mil Rupias ou 5 Dólares. Lá se come muito bem e barato.

Sexta-feira teve, no hotel, uma festa chamada Rasa Sayang, em que é apresentado o teatro local, com uma peça sobre os deuses da ilha.

Foi lá que eu conheci o Barong, o rei dos espíritos de Bali. Decidi que iria fazer uma tatuagem com a cara dele. Você deve estar pensando “tu é loco, cara, não se pode nem escovar os dentes com a água da torneira e você quer fazer uma tatuagem?”. Pois bem, os balineses são reconhecidos mundialmente como alguns dos melhores tatuadores do mundo, mas claro, tudo podia dar errado.

O Barong (não é a tatuagem do autor do texto não)
O Barong (não é a tatuagem do autor do texto não)

Após a apresentação, começaram os drinking games e os australianos que estavam no hotel começaram a beber como loucos e como sempre. Tinha comidas e bebidas liberadas. Inclusive, em alguns jogos, as garotas deviam ficar sem a parte de cima do biquíni e depois se atirar na piscina do hotel.

Fui dormir tarde esta noite…

Sábado, acordei tarde e perdi o café da manhã do hotel. Aproveitei e fui visitar a praia de Kuta e almocei em um restaurante na beira da praia. Comi um Nasi Goreng, um tipo de “PF”  local.

Leia também  você vai morrer

Para o dia seguinte, eu havia agendado uma viagem pela ilha, com o motorista que havia me buscado no aeroporto. No caminho, resolvi tirar uma dúvida: ele me disse que era Hindu, então queria saber se existia alguma relação com as vacas serem sagradas e o chá de cogumelo ser vendido livremente. Ele disse que sim.

O chá é uma bebida espiritual para eles. Começamos por Padang Padang, uma clássica praia para os surfistas. Para se chegar à beira, era preciso passar por uma escada encravada em um túnel de pedras. A praia fica entre dois penhascos, com uma água azul turquesa que mais parecia a cor de uma piscina.

Havia altas ondas e os surfistas estavam a esquerda perto do penhasco.

Seguindo viagem, fomos conhecer a praia de Uluwatu. Ulu significa “alto” e, Watu, significa “penhasco”. Lá, haviam ondas de seguramente uns quatro metros, o que deixava os surfistas alvoroçados. A essa altura, já sentia saudade da comida de casa. Oedi uma pizza marguerita e paguei um Nasi Gorang para o motorista. Comer em um país tão distinto sempre é uma surpresa e, mesmo sendo um prato trivial, os temperos são outros. Após o almoço, fomos ver o pôr do sol no templo dos macacos, onde tivemos que usar um saiote para entrar.

Nos outros dias, aproveitei as festas com um grupo de australianas de Perth que estavam de férias por lá. Uma delas foi o Sky Garden, ambiente moderno de 5 andares e um belíssimo terraço, com vista para toda cidade. Lá, provei uma estranha variação de caipirinha, com vodca, açúcar de palma, limão e Sprite (recomendo trocar o Sprite por energético). Vi também o pôr do sol em Kuta, que é muito famoso. Mas não é mais bonito que o da zona sul de Porto Alegre…

Kuta
Kuta

No último dia, resolvi fazer a minha tatuagem do Barong. Fui de carona na moto do rapaz que me indicou, pontualmente no horário agendado no dia anterior. Levei uns Gudang-garangs para fumar no intervalo. O processo todo durou três horas e meia. Foi a pior dor que já senti na vida, mas o traço fino da tatuagem me fez ver que valeu a pena. Nesse lugar não tem erro.

Você negocia tudo com as pessoas na rua. Não se assuste, tenha paciência e barganhe bastante. Há boas coisas para se comprar em Bali, como camisetas da Cerveja Bintang, por exemplo.  E você se pergunta, “mas você foi pra Bali e não surfou”?

Sim. Sou um DJ “não surfista”.

E o tal choque cultural é violento!

Nos primeiros dias, é como um soco na boca do estômago. Seja pelo barulho da rua, a buzina das motos, a sujeira, o cheiro ruim, a pobreza, a água suja que sai da torneira, a dor de barriga que dá depois de escovar os dentes.

Mas com o tempo, você vai vendo o quão sortudo eles são por morar naquele paraíso. Começa a entender certa ordem naquele caos. O povo é simpático e respeitam os visitantes. Eles podem não falar muito inglês, mas se esforçam para entender o turista. Fica claro como é possível ser feliz tendo tão pouco e vivendo uma vida tão simples.

Temos muito que aprender com eles.

Resta a saudade e a vontade de voltar um dia. Terima Kasih Bali!

Bintang
Bintang

 

Nasi Gorang
Nasi Gorang

 

Padang Padang
Padang Padang

 

Padang-Padang
Padang-Padang

 

Uluwatu
Uluwatu

Gustavo Faria

DJ Guga Brazil é formado em administração e trabalha como consultor de marketing de dia e DJ a noite. Gaúcho de Porto Alegre, morador da Zona Sul, Colorado. Já conheceu alguns países em 4 continentes, mas quer mais. Ah... e é ateu.