Hugh Laurie não é um homem que você deveria conhecer, é um homem que você já conhece.
No máximo você não sabia ou não lembrava do nome dele, mas, a não ser que esteja completamente sem contato com a civilização ocidental consumidora de cultura desde a metade da década passada, você definitivamente conhece seus trejeitos. É o House, pô!
Ao mesmo tempo, porém, ele é muito mais que o House. Esse é o lado que você talvez não conheça. E deveria.
O Sr. James Hugh Calum Laurie é um grande sujeito
Montar um currículo para Hugh Laurie seria uma tarefa trabalhosa e particularmente desnecessária. O homem terá trabalho até quando escolher não mais trabalhar, e qualificações demais para se gastar papel com elas.
Eu poderia falar algumas coisas sobre a sua infância (difícil em convivência com a mãe, apesar de ter nascido em família rica) ou sobre seus dotes esportivos (seu pai é medalhista olímpico em remo, e ele treinou muito para seguir o mesmo caminho, sendo ainda hoje membro do mais antigo clube de remo do mundo).
Poderia mencionar também que ele era mau aluno e não é graduado (apesar de ter cursado Cambridge e feito muita coisa incrível por lá) ou ainda sobre o seu notável ateísmo (assim como boa parte dos gênios da Inglaterra, como Douglas Adams e Christopher Hitchens, Laurie não acredita em Deus, apesar de ter sido criado em família religiosa).
Mas, no interesse de não tornar esse artigo um daqueles que você olha o tamanho e até broxa de ler até o fim, vou me ater aos grandes feitos profissionais do cara, nas quatro principais áreas em que resolveu se envolver.
1. Ator
Enquanto fazia faculdade, em Cambridge (onde já estudaram nomes como Isaac Newton, Charles Darwin, Alan Turing e Stephen Hawking), Laurie entrou para o clube de artes cênicas Cambridge Footlights. Se é verdade que somos a média das cinco pessoas com quem passamos mais tempo, deve ter sido aqui que Laurie se tornou o grande ator que é – afinal, se enturmou com gente do naipe de Stephen Fry, Douglas Adams, Eric Idle, Graham Chapman e John Cleese, entre vários outros.
Seja por esse ou por qualquer motivo, a trajetória de carreira de Hugh Laurie o levou para o caminho do sucesso. E não foi qualquer sucesso.
Como protagonista de House, Laurie bateu dois recordes interessantes:
- Protagonista masculino mais assistido da TV americana.
- Ator dramático de TV mais bem pago dos EUA.
Ambos os recordes foram verificados pelo Guinness. Além disso, ganhou dois Globos de Ouro, dois SAG Awards (prêmio do sindicato dos atores dos EUA) e seis indicações ao Emmy.
Nenhum desses prêmios, porém, é mais significativo do que fato dele ter ganhado o coração e a preferência de tanta gente. Você mesmo deve conhecer pessoas que nem assistem seriados, mas adoram “aquele lá do médico mau-humorado”. Da mesma forma, House também é adorado por muita gente que acompanha uma dúzia de séries por semana e entende muito do assunto. É uma aprovação quase universal.
Definitivamente, ao menos até hoje, interpretar Gregory House foi o grande sucesso da carreira e da vida de Hugh Laurie. Mas está bem longe de ser o único.
2. Comediante
Em tempos tão politicamente corretos nos quais, silenciosamente, as pessoas pararam de eleger um “melhor amigo” (talvez por medo de diminuir os outros 439 amigos do Facebook?), Hugh Laurie tem um melhor amigo declarado: Stephen Fry, o seu padrinho de casamento e dos filhos.
Muito antes de mancar e fingir sotaque americano e ganhar uma porrada de indicações ao Emmy, foi com Fry que ele começou a se colocar na frente das câmeras, como parte do duo de comédia Fry and Laurie. Notavelmente inspirados pelas esquetes de Monty Python, eles fizeram um sucesso considerável com um programa na TV britânica. Depois disso cada um foi fazer as suas coisas, mas continuam tão amigos quanto sempre foram, inclusive colaborando em projetos menores de tempos em tempos.
Em vez de falar muito sobre o seu trabalho de comediante, coloco aqui alguns belos exemplos:
Link YouTube | Esse é o meu favorito! Hahaha, olha o que ele fala!
3. Escritor
Sabe aquela galera que fica famosa e depois começa a fazer disco, livro, série, apresentar programa, criar blog e batizar bloco de micareta, tudo com seu nome, só para aproveitar a fama? É uma tentação: quando você fica famoso por um lado, qualquer produto em que o seu nome apareça vai ser ao menos parcialmente bem-sucedido.
Não é por isso que Hugh Laurie escreveu um livro.
Ele sempre quis escrever, e queria ser avaliado corretamente pela qualidade do seu escrito, não por ser o livro de algum artista X. Então o que ele fez? Usou um pseudônimo e enviou o livro para algumas editoras. Se a história fosse boa, seria escolhida para publicação mesmo que não pudesse estampar o nome HUGH LAURIE enormemente na capa.
E assim foi – apesar do agente dele tê-lo convencido a assinar com seu próprio nome na última hora, próximo do lançamento.
Lançado em 1996, o livro foi bem avaliado pela crítica e, com o tempo, traduzido para diversas línguas. Fez considerável sucesso na França e também um pouco no Brasil.
4. Músico
Certamente a principal faceta de Laurie fora da televisão é sua veia musical.
Teve aulas de piano desde os 6 anos de idade e isso se traduziu em uma inclinação musical bem forte. Em vários episódios de House ele aparece tocando piano e guitarra.
É também vocalista e tecladista da Band From TV, uma banda cover de caridade. Ela é formada por oito atores e atrizes de séries americanas (inclusive Jesse Spencer, o Dr. Robert Chase de House), e doa para instituições de caridade todo o dinheiro que ganha em shows e com vendas de produtos.
Apaixonado pelo blues da cidade americana de New Orleans, Laurie gravou um disco inspirado nesse estilo, chamado Let Them Talk. No disco, ele não apenas cantou, como também gravou todas as partes de piano e guitarra.
Ao passo que o seu livro teve apenas sucesso moderado, o disco se saiu muito bem: depois de um show de lançamento em um bar tradicional da própria New Orleans e de uma participação na série britânica Perspectives, Let Them Talk se tornou o disco de blues mais vendido do Reino Unido em 2011.
Link YouTube | Merecido ou não? (A música começa aos 2:45)
Link YouTube | E aqui, o álbum inteiro
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Para terminar, uma pequena anedota e mais um fato: em 1996, Hugh Laurie participava de um evento de caridade. Era um Demolition Derby, um daqueles eventos cuja principal atração é ver carros sendo jogados uns contra os outros e explodindo.
Laurie não sentiu empolgação, nem adrenalina. Nem mesmo medo. Apenas tédio. Explicando isso em uma entrevista posteriormente, ele disse:
“Tédio não é uma reação apropriada a ver carros explodindo.”
Foi assim que Hugh Laurie descobriu que precisava de ajuda médica. Ele tinha depressão. Clínica. Das bravas. Está em tratamento e sendo acompanhado por psicólogos desde então, até hoje.
Se um homem clinicamente depressivo como ele consegue fazer tudo isso, o que nos impede?
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