Reunião de amigos está ou não entre as melhores coisas que já inventamos? Eu mesmo respondo: Sim, está! Bom papo, cervejinha, pode ter uma pizza, uma lariquinha, boas risadas. Às vezes a coisa fica um pouco sofisticada e vira festa – literalmente. Aí, cada um que assuma a sua função.
Eu cuido da prosa. Outros preferem a coqueteleira ou a simples e importantíssima tarefa de ligar no delivery e, claro, alguém tem que tomar conta do som. Dá pra alternar o controle da vitrola entre os envolvidos, mas mesmo uma festinha pequena, quatro ou cinco pessoas, carece uma discotecagem mais à altura.
Pra deixar a coisa mais fina, esses dias conversei com o jornalista Alexandre Matias, o cara do Trabalho Sujo e da festa Noites Trabalho Sujo – entre outras atribuições – para entender qual é o segredo de uma discotecagem maneira e… dica de ouro:
“É legal pensar que todas as pessoas têm que se divertir do mesmo jeito e que uma boa ‘pista’ abre a cabeça das pessoas”
Tudo bem que é “só uma discotecagem”, mas roteirizar esse momento e entender qual um bom caminho pra contagiar a galera deixa todo mundo mais envolvido, inclusive o eleito DJ. “Quando a pista consegue perceber a narrativa da sequência de músicas que está rolando, você continua. É como passar uma informação adiante com um cunho autoral”. Ou seja, é como uma boa história sendo contada, música a música. Dica fácil pros amigos da Comunicação, mas que todo mundo consegue, com certeza.
Dado o recado mais sensorial sobre “como ser um DJ que envolve”, trago também umas dicas mais práticas que peguei com outros profissionais da discotecagem (ou amantes do ofício):
Conheça seu público (ou esteja antenado ao gosto dos amigos)
Obviamente que, numa festa entre amigos, a maioria deve se conhecer (bem até) e os gostos musicais provavelmente são próximos. Não quer dizer também que, pra ser amigo, todo mundo tem que gostar da mesma coisa. É aí que está o pulo do gato. Ter o feeling (essencial nessa empreitada) de reservar ou colocar para tocar o que a galerinha está na expectativa ou que vá fluir com a energia de todos.
A dica da DJ Heloisa Casanovas, produtora da festa Misturicália, é fazer um mapa (mesmo que mental) de estilos que atendam a todos. Escolhidos os estilos, vamos garantir que temos as melhores músicas e mesclá-las ao longo da baladinha: “As melhores são as de cada estilo que todos conhecem e as que podem ser enquadradas em pelo menos dois estilos. Você vai usá-las para fazer uma transição de um estilo para outro”.
Por exemplo: você está no hip-hop e vai mudar de estilo. Manda um Criolo e depois Tim Maia. Pronto, você acaba de abrir seu leque pra ir do samba-rock ao soul, passando por funk. Se for trocar bastante de ritmo, você pode usar duas músicas que circulam bem entre estilos e depois mudar.
Num papo com o DJ Peter Alex, ele resumiu que, conhecendo um pouco o gosto dos seus amigos e manjando um pouco de música, fica fácil saber o que pode ou não agradar: “Eu, particularmente, gosto de muitos tipos de música e tenho vários tipos de amigos”.
No feeling e improviso é mais divertido
Para o DJ DJ Hero Zero, da festa Cio, “antes de mais nada, o que não pode faltar é a energia do DJ, demonstrando tesão fazendo o som”. Foi nessa frase que entendi que o tal do feeling junto com o improviso é o que fazem quem está discotecando se sentir animado e conseguir fazer o mesmo com a galera da festa. Mas, para improvisar, precisa estar minimamente preparado. Digamos que ter uma quantidade de músicas razoável à disposição.
Daí para frente, é sentir o ânimo da galera e experimentar coisas diferentes, sempre voltando para as músicas de segurança, caso a energia dê umas osciladas. A Heloisa deu um toque importante: se você percebe que vai tocar por uma hora e meia, pense em três horas de música. Assim, caso você tenha programado algo e, ao começar tocar, percebe que a vibe é outra, você tem material para manter a festa envolvida.
A adrenalina do “qual vou tocar depois?” vai contagiar também a galera. É uma troca.
Cuidado com as músicas que só você conhece
Ninguém está proibido de apresentar uma música pra galera. Entre amigos será mais fácil fazer isso, mas tem que prestar atenção e não entrar numa onda só sua. A dica valiosa que o DJ Petter Alex nos dá sobre o momento de fazer isso é: “Blocos só com novidades pode fazer as pessoas torcerem o nariz. Tocar uns dois hits na sequência e dar o play numa música nova faz a galera logo entender o espírito da coisa [a tal história que você está contando] e não sair da pista só porque não conhece aquela”.
Um jeito palpável de prever quantas músicas novas (ou pouco conhecidas) poderá tocar é colocar, no máximo, 30% delas. Inclua nessa porcentagem aquela música que você adora, mas não tem muita certeza da aceitação.
Na dúvida, deixe para tocar o “lado B” quando alguns drinks já tiverem rolado e a coisa já tiver dado aquela animada.
Vale tocar Anitta?
Questão polêmica, mas nem tanto, vai. Vamos admitir que todo mundo gosta do momento de sensualizar e arriscar uns passinhos de “Show das Poderosas” (ou “Bang”), mesmo que na zoação. Se definitivamente não for a pegada da turma, não tenho porque insistir nessa dica, mas pelo menos para umas boas risadas, não é nenhum pecado.
O William Maia foi enfático ao dizer que Anitta, Ludmilla, funk, axé, Lady Gaga, Beyoncé…(e por aí vai) pode ser o que todos estão esperando.
“Se eu estiver tocando um deephouse fino e alguém me pedir Madonna, darei um jeitinho pra colocá-la na playlist porque acho que funciona. Existe todo tipo de festa e todo tipo de DJ pra todo tipo de música. Não dá pra se ter tudo!”
– DJ Petter, que gosta de eletrônico, rock, MPB e alguns pops
É melhor não tocar…
Sim, pra garantir a agitação e remelexo de todos, tem umas coisas que não vai dar pra tocar não. Música muito introspectiva, por exemplo, pode fazer a galera pensar demais na vida e fugir do propósito da festa que é, na verdade, exteriorizar emoções e botar a energia pra fora.
“Tocar música formal em festa informal, não faça! Tchaikovsky no churrasco na lage, também não” (Heloísa)
Voltamos ao nosso mantra: sentir o clima e direcionar. Se a festa é lugar de alegria, coisas dramáticas demais podem torná-la chata. Vamos deixar os “OHHH, BYY MYYSELF” pro karaokê, momento certamente mais apropriado.
Cartas na manga
Definitivamente numa festa (onde se subentende ter gente animada), todo mundo vai gostar de dançar e cantar aquela música que remete a algo bom. A Heloísa nos sugere duas ou três, sendo uma mais antiga, uma mais nova e outra a seu critério. Músicas tidas como hino podem ser o momento da consagração da festa. “Quero que a mesma energia e felicidade que sinto tocando seja compartilhada com todos na pista. Então, por que não?” (DJ Hero Zero).
Pro William, Michael Jackson funcionará até o fim dos tempos (nota do autor: sim!!!), assim como qualquer Bowie, “Kiss” (Prince), “Never There” (Cake), “Groove Is The Heart” (Dee Lite) e “Girls and Boys” (Blur).
O cuidado aqui, pra história ser bem contada e de forma divertida, é não ficar muito previsível! Surpreenda seus amigos aí, DJ!
Use a tecnologia a seu favor
Ah, a tecnologia! Sim, hoje em dia está bem mais fácil para nós reles mortais. Com um notebook e um cabo ligado a uma boa caixa, já dá pra armar a baladinha sem perder a qualidade da batida. Sem equipamentos/aplicativo de mixagem é bem simples criar playlists: primeiro, uma de músicas mais lounges pro pessoal se achegar; depois os batidões e um para o gran finale. Dá pra fazer várias com os diversos estilos musicais que você acha que vai tocar também.
“Mas pelo amor de Deus, não corte o barato só porque você gastou tempo escolhendo músicas lounge. Se a galera se animou logo, corre pro pancadão e deixa o povo feliz. Você poderá tocar as músicas de abertura no fechamento”
– Heloisa
Quem está disposto a rebuscar um tiquinho mais, a dica de mixagem do William é o programa Virtual DJ que, segundo ele, é bacana, gratuito e fácil de usar. Aliado a um laptop e uma caixa de som, a gente conduz uma festa pequena sem problemas e ainda ter a chance de mesclar as músicas. Serato, Traktor também são programas que funcionam bem.
Com ou sem app para mixagem, a festa acontece, tenha certeza disso! “Rock e alguns pops, por exemplo, são músicas que são legais pra se ouvir completas. Por outro lado e em outros casos, na música eletrônica isso já é diferente, pois o próprio gênero sugere e permite que o DJ faça intervenções nas músicas” ( DJ Petter Alex).
Você ainda pode escolher o DJ que quer ser: pode apenas preparar uma playlist caprichada, deixar rolar e fazer algumas intervenções durante a festa, de acordo com o que as pessoas vão transparecendo, ou pode realmente discotecar, música por música.
“Dá pra fazer um pouquinho dos dois. Deixar alguns sets prontos e, na hora do auge do set, comandar o som por uma hora, uma hora e meia. Mas já aviso, se você mandar bem, ninguém vai te deixar sair do som”. (Heloisa)
E aí? vai dar conta do recado?
Se ainda não está convencido de que você pode, sim, ser DJ da festa da turma, vamos te ajudar mais um pouquinho. Gentilmente, os DJs com quem papeamos sugeriram pequenas playlists pra gente:
DJ Heloisa Casanovas
DJ Hero Zero
DJ Petter Alex
DJ William Maia
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