Lá vem o bonde da sapiência salpicado na farofa. Mais uma vez é chegada a hora de hastear o bastião da sabedoria nas pilastras da galhofa. Hoje o conteúdo será um tanto diferente, abordando de maneira prática e sucinta algumas das perguntas mais recorrentes que os leitores me enviam.
Tal qual um Você Decide do séc. 21, se vocês gostarem do formato, ele se mantém. Caso contrário, culparemos o editor pelo vacilo e vida que segue.
Por hoje, eis o cardápio do dia:
1. O estagiário sem grana
“Olá Bruno! Estou no segundo ano de faculdade, começando agora um estágio, e queria me vestir de um jeito mais arrumado. Só que eu tenho pouco dinheiro e não sei muito bem por onde começar. O que devo fazer?”
Quer se vestir melhor e a grana tá curta? Foque no principal, a modelagem. Até algo que poderia ficar sem graça funcionará muito bem se estiver no tamanho apropriado. Para funcionar, basta que você não seja um preguiçoso que compra a primeira peça que experimenta.
Faça testes. Perseverar é aperfeiçoar, parça.
2. Agora tô abonado. O que eu compro pra ter estilo?
“Cara, mudei de emprego agora, tô ganhando uma verba e queria aproveitar pra ficar mais estiloso. O que sugere? Não gosto de moda, mas sei que ela é importante.”
Estilo e moda não tem o mesmo significado. Para estar na moda basta entrar em uma loja cara e comprar as últimas peças que chegaram. Já para ter estilo, é preciso se vestir como o Poderoso Chef… NÃO.
Amigão, vamos superar essa história de “nossa.. estilo máfia, que isso. Nossa… máfia”. Eu tenho convicção que, se você refletir só um pouco, perceberá que estilo não é o que se veste, mas sim, como se veste.
“Ah, mas o Poderoso Che…”.
Sério, fera. Você pode até conseguir enfiar uns algodões na boca, mas dificilmente terá a presença do Marlon Brando e, mesmo se tiver, não vai ficar bacana isso na balada não, parceiro. Portanto, aproveite que o dinheiro apareceu e invista em conhecimento, pois estilo é clareza e coerência na mensagem.
Se você deseja apenas saber como ser bem visto pelos novos companheiros (e isso não é estilo), tudo bem, basta que olhe para o seu chefe e seus colegas, na sequência examine os profissionais de maior destaque na sua área e utilize as mesmas características visuais que forem recorrentes nos três casos.
Particularmente não gosto do método, mas funciona se o seu propósito for este.
3. Eu tô gordo, cara!
“Brunão, depois do emprego novo e da vida corrida eu virei um leitão. De terno ainda tá sussa, mas nos passeios de fim de semana, parece que a patroa tá levando a Free Willy para ser libertada no shopping. E aí?.”
Magros estão acostumados a serem magros, o mesmo ocorre com os gordos. Porém, tanto os novos magros quanto os novos gordos sofrerão um bocado para se adequarem a nova categoria. Isso porque sua imagem corporal mudou, mas, normalmente, a consciência corporal não.
A primeira sugestão: tire fotos de corpo inteiro sempre que for sair (todo mundo tem um celular, não cai a mão). Analisar a foto é muito mais fácil do que analisar o espelho, pois o distanciamento nos dá condições de perceber melhor o todo. Com o tempo, você notará que são sempre as mesmas regiões que o incomodam (barriga, costinha, quadril etc.) e poderá agir para corrigir a proporção destas áreas por meio da mudança de peça, modelagem, cor ou, ainda, com o esforço físico.
4. Bróder, eu tô magro demais!
“Bruno, sou muito magro. Meu apelido é Caveirinha. Eu preferia antes, quando me chamavam só de Carcaça. Pelo menos era mais presença…
Como posso compensar essa magreza nas roupas?
Sinto muito Caveirinha, não pode. O possível é evitar que elas aumentem ainda mais esta sensação. Evitar roupas justas será tão importante quanto ficar longe das muito largas, já que ambos os extremos reforçarão seus status atual. Comece a conhecer peças que sejam compatíveis com o seu tamanho (mesmo que ele seja pequeno) e, se tiver disposição, sugiro que disponha uma hora do seu dia para fazer exercícios físicos.
Todo mundo consegue ter uma hora em meio a vinte e quatro, o que não se consegue tão fácil é ter força de vontade para tanto. Portanto, defina suas prioridades e siga bem resolvido com o que escolher.
5. Como arrumo minhas proporções corporais?
“Olá! meu corpo não é proporcional. Tenho o pescoço e os braços bem longos e queria me arrumar melhor, mas fico mal em todas as camisas que provo. E agora?”
Usar camisas não é sinônimo de se vestir bem e nem mesmo se assemelha a formalidade. Muitas vezes, uma boa camisa pólo é infinitamente mais elegante do que uma camisa mal escolhida. Então, o primeiro passo é se certificar de que realmente quer usar uma camisa.
Dito isso, eis mais um conselho que dependerá de sua disposição: vá a um alfaiate ou a uma costureira e peça para ajustar a peça aos seus braços.
“Ah, mas é maior rolê e maior caro. Vish, aí cê me quebra..”
Você já foi em algum lugar fazer algum ajuste? Normalmente custará menos de trinta reais e tornará a peça excelente para seu biotipo. Não seja preguiçoso, é mais fácil do que parece. Quanto ao pescoço comprido, recomendo que não utilize a camisa com muitos botões abertos, pois o decote irá aumentar a sensação de alongamento da região.
6. Como eu uso cinto?
“Fala, Bruno! Detesto usar cinto. Além de nunca saber como combiná-los, o que sugere que eu faça?”
Simples: pare de usar cinto. Sim senhor, este acessório foi uma peça vital durante muitas décadas em que as calças era passadas de pai para filho, depois para irmãos menores, primos e por ai afora. Com o tempo, esse costume caiu em desuso e, desde então, o cinto tem se tornado cada vez mais uma peça meramente decorativa. Logo, se suas calças ficam onde devem ficar, não se acanhe, aposente o cinto e seja feliz.
Caso o seu gosto por cinto seja meramente estético, não há problema. Apenas lembre-se que o cinto sempre deve chamar menos atenção que sua calça e a peça que estiver utilizando no tronco. Abaixo, alguns bons exemplos com e sem o cinto.
7. Moleque monstrão
“Sou grande. Faço academia, tenho as costas largas e os braços também. Gosto e preciso me vestir de maneira social no dia a dia, mas nunca encontro algo que fique realmente bom no meu corpo. Onde devo procurar?”
No alfaiate, rapaz.
Não perca tempo tentando procurar uma marca que irá lhe vestir bem. o Brasil ainda não tem mercado suficiente para tornar este biotipo uma demanda (embora vá ter em menos de dez anos). Você sempre encontrará uma peça que fique “quase” bacana. Sem erro, vá a um alfaiate e encomende algumas camisas. Não é um serviço tão barato, mas Whey também não é e você toma.
Faça um esforço. Vai valer a pena.
8. Vale bermuda?
“Adoro usar bermuda, mas não acho que elas fiquem legais quando o passeio é mais formal. Estou errado?”
Felizmente sim! Elas funcionam muito bem se você estiver atento a alguns detalhes: evite os bolsos e aposte em um corte reto, de preferência um pouco acima da altura do joelho. Este tipo de modelo acentua o caráter formal da sua imagem. Reforce-o usando um tênis que esteja bem limpo ou então docksides.
Uma dica pessoal: camisetas lisas ou camisas vão bem, mas as pólos podem ficar para depois. Embora muitas fiquem bem legais, existe o risco de você escolher a errada e ficar com cara de “paizão babá”, sabe?
9. E aí?
“Adoro acessórios! qual a dica?”
Ô, fera, faz uma pergunta aí, né? Ter consciência da sua dúvida muitas vezes é algo mais importante do que a própria resposta.
O segredo de utilizar acessórios é saber dosá-los. Como sempre digo, não existem regras absolutas na hora de vestir, mas aqui encontraremos algumas máximas que funcionam muito bem:
Gosta de usar acessórios? Roupas mais básicas não criarão concorrentes imagéticos. Essa “batalha” diminui a força da sua composição e a torna cansativa;
Gosta de usar acessório e relógio? Ok, mas lembre-se que você não é o Jack Sparrow. Opte por um que seja mais discreto para se usar na mesma mão do relógio e, se possível, deixe a outra mão sem nada. Não se torne um temível Homem Mostruário;
Corrente de ouro é legal. Anel de ouro é legal. Pulseira de ouro fina é legal.
Todo ouro da sua família no seu corpo não é legal. Supere a Serra Pelada, campeão.
10. E a tal da regata?
“Regata é coisa de boiola ou de baianinho?”
Hora de parar de ser Zé Povinho. Regata é coisa de quem sente calor. Você sente calor? Então use.
É simples assim. Abaixo estão alguns bons exemplos de como fazer e você pode se aprofundar mais um pouco a respeito no meu artigo “Homem de camiseta regata: é feio?”.
“Ah mas a mulherada não gosta.”
Mas haverão de gostar, contanto que você saiba dominar quando e como usá-las. Aqui se trata muito mais de atitude do que de estética.
Sobre o “boiola” ou o “baianinho”, sinto muito. Sua ignorância é tamanha que eu não tenho como argumentar. Apenas pare de usar termos escrotos para se referir ao que não gosta.
Pergunta bônus:
11. Posso?
“Eu já sai da faculdade. Tenho que parar de usar camiseta estampada?”
Primeiro, você não “tem que” nada, truta.
A única coisa que você “tem que” é se sentir bem consigo mesmo. Este é o objetivo do vestuário e de uma imagem bem utilizada. O que você precisa saber é que cada palavra é pronunciada de uma maneira e, neste caso, a palavra “estampada” significa “juventude” e tudo que esta atrelada a ela.
Pode ser que você seja entendido como alguém bem humorado e aventureiro, mas também pode ser que seja lido como um cara imaturo e despreparado. Como sempre é dito por aqui, o mais importante não é o que você está usando, mas sim quem você deseja atingir com sua imagem. Tendo isto em mente, basta uma reflexão rápida e você mesmo estará apto a dizer se coloca ou não a peça.
Fim das perguntas!
Se a coluna de perguntas e respostas fizer sucesso, seguiremos com ela aqui sempre que atingirmos uma boa quantidade de questões relevantes a serem respondidas.
Apareceu alguma dúvida? Manda bala nos comentários. Farei o possível para responder a todos (estou com um braço engessado, mas o outro conseguiu dar conta deste texto e segue firme e forte!).
Por hoje é só pessoal! Como sempre, espero que tenha sido útil ou, ao menos, divertido.
Epílogo:
“Ô viado, nada a ver mesmo chamar os outros de baianinho, hein…”
“Para, fí. Tá nessa de politicamente correto? Zueira pampa, vai falar que cê curte os mano baianinho na balada?”
“Meu pai é baiano mano.”
“Oloco, maior respeito. Seu Valdir é ponta firme, nada a ver com os baianinho que eu to falando”
“Ah bom, hein. E vê se para de ler coluna de moda, ô gazelão”
“Tá tirando, Joe. Ô, saca só essa lupa que eu comprei pra ir no after lá de Ibituba.”
“Loca, hein.”
Mecenas: Dafiti
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A cada quinze dias, pelos próximos seis meses, Dafiti vai ser mecenas de conversas sobre estilo e moda sem frescuras. Com artigos práticos e conceituais vamos explorar a fundo esse território.
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