O fim de semana vai chegando e uma porção de pessoas começa a ficar ansiosa. Boa parte das pessoas adora curtir os dias livres no sábado e domingo, tomando uma cerveja, saindo pra balada ou simplesmente hibernando na frente da TV. Mas até aí, nada de incomum, então você deve estar se perguntando, o que diabos isso tem a ver com a indicação de hoje para a série “Homens que você deveria conhecer”?

Tudo começa às 22h de domingo quando a HBO transmite, entre abril e julho, novos episódios da série baseada nos romances de George R. R. Martin, intitulada Game of Thrones.

Quando o horário se aproxima, milhões de pessoas ao redor do mundo se reúnem para acompanhar os acontecimentos de uma história densa, complexa, cujo conteúdo envolvente quase não permite que as pessoas fiquem sem procurar saber quais as últimas novidades, gerando, inclusive, alguns probleminhas relacionados aos famigerados spoilers.

Atrevo-me a dizer que, de todas as possibilidades de spoilers até hoje, nenhuma supera as que revoltam tantas pessoas nas redes sociais quanto os da série supracitada. E isso se deve, em grande parte, a capacidade de criação de uma narrativa interessante e rica por parte de George Martin que vem deixando os fãs alvoroçados tanto para cada novo episódio da série televisiva quanto para o lançamento do 6º livro, ainda sem data prevista.  

Sendo assim, chegou a hora de conhecer o fantástico (mundo do) escritor George Raymond Richard Martin.

O começo promissor

George R. R. Martin (para os fãs, apenas George Martin. Favor não confundir o figura com o produtor dos Beatles) nasceu no ano de 1948, em Nova Jersey, EUA. Filho mais velho de um estivador, Raymond Collins Martin, e de uma dona de casa, Margaret Brady Martin, o jovem George adotava o nome de Richard e morou muitos anos com os pais e suas duas irmãs em casas populares construídas ao redor de Nova Iorque para abrigar, sobretudo, imigrantes europeus da Segunda Guerra Mundial.

Com vocação para artes e literatura desde pequeno, Martin gostava de escrever e criava histórias de monstros para vender na vizinhança. Aficionado por quadrinhos, foi mais ou menos nessa época em que começou a escrever fan fictions das suas histórias preferidas e acabou criando novos super-heróis para ele mesmo.

Completou o segundo grau numa escola Marista, onde fazia parte do time de xadrez e do jornal escolar. Em 1967 entrou na Northwestern University e tornou-se bacharel em jornalismo em 1970, onde também completou seu mestrado um ano depois.

O primeiro trabalho como escritor de verdade, um conto chamado “The Hero”, foi publicado em 1971 na revista de ficção científica Galaxy. Mas engana-se quem pensa que o começo foi assim tão fácil. Martin conta que uma de suas histórias chegou a ser rejeitada 42 vezes por diferentes revistas.

Mesmo com tantas negativas, ele continuou escrevendo seus contos, incluindo o seminal A Song of Fire and Ice and Games of Thrones e, em 1976, lançou A Song for Lya and Others, apenas um aquecimento para voos mais altos no futuro.

Hoje, George Martin é conhecido por sua forte habilidade na construção de romances, mas ela começa com Dying of the Light lá atrás em 1977, sendo indicada nos prêmios de literatura Hugo Award (quem gosta de ficção científica sabe a importância desse Hugo) e na British Fantasy Award. Tudo apontando que a carreira do jovem George Martin seria promissora. E ele não demorou muito a perceber isso.

O primeiro salto

Os anos 1970 foram muito bons para George, mas os 1980 indicavam que o caminho era ainda mais próspero. Foi nessa década que ele chegou a Hollywood, como autor e editor de alguns episódios da série Twilight Zone, no canal CBS, e consultor de histórias e produtor da série A bela e a fera (com Linda Hamilton, de Exterminador do Futuro 1 e 2 e Ron Perlman, ator que interpretou Hellboy).

Ao escrever para televisão, Martin encontrou diversos desafios. Um deles, e o principal naquele momento, era o fato dele sempre apresentar roteiros maravilhosos, mas com custos às vezes até cinco vezes superiores ao orçamento da produção. O que causava transtornos para os canais de TV.

Para um escritor tão prolífico essa poderia ter sido uma enorme frustração, mas, como todos sabemos, isso não acontece com os fortes. Ele novamente buscou inspiração e, no começo da década de 1990, acabou embarcando num novo projeto como escritor. Tratava-se de uma série de fantasia inspirada em War of the Roses (Guerra das Rosas), episódio verídico durante o qual a Casa York (rosa branca) e a Casa Lancaster (rosa vermelha) lutaram pelo trono inglês durante o século 15.

Já adivinhou qual o nome desse novo projeto?

Dou-lhe uma… Dou-lhe duas… Dou-lhe TRÊS!

O grande salto

O primeiro volume das Crônicas de Gelo e Fogo foi publicado em 1996, denominado A Guerra dos Tronos, na sequência vieram A Fúria dos Reis (1999), A Tormenta de Espadas (2000), O Festim dos Corvos (2005) e A Dança dos Dragões (2011). Todos os livros são contados em capítulos que variam de acordo com a perspectiva de uma personagem, mas a narrativa se passa sempre em Westeros, uma terra muito parecida com o que seria a Europa Medieval. Nessa terra as estações são longas, durando anos, ou até mesmo décadas e a história principal gira em torno de uma batalha entre Sete Reinos pelo controle do Trono de Ferro, cuja posse possivelmente assegurará a sobrevivência durante o inverno que está por vir.

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A premissa da trama pode parecer simples, mas quem conhece as narrativas de George R. R. Martin sabe que “simples” é um adjetivo muito pouco indicado.

Em suas obras, Martin se utiliza muita vezes de recursos normalmente escuros e com um forte toque de melancolia. Um dos pontos mais fortes dele é sua atenção aos detalhes durante a criação dos personagens. Nada acontece por acaso, e cada um daqueles que surge dentro da história tem uma função dentro das complexas e múltiplas tramas, o que cria uma potente ligação com o leitor, que, muitas vezes, já entrou em profundo desespero quando vê seu personagem favorito morrer ou algo chocante acontecer.

Tudo isso nos permite observar um recurso literário muito interessante de Martin. Talvez o recurso mais aclamado por críticos e fãs que renderam ao autor alguns de seus principais elogios. Curiosamente, nos momentos mais críticos da trama, Martin opta por fazer justamente o contrário do que a cartilha manda: decepcionar seus leitores. Acostumados a histórias mastigadas e reviravoltas previsíveis, eles entram em colapso quando nada acontece da maneira que esperavam. Dessa forma, um personagem carismático não é salvo na última hora pelo belo herói ou pela guerreira valorosa. Ele simplesmente morre, deixando os fãs aparentemente órfãos. Digo aparentemente porque, quando isso acontece, outro gatilho é armado e o leitor é forçado a seguir em outra direção, mesmo sem querer.

Vida ou obra: quem vem primeiro?

Comparado a grandes figuras da literatura fantástica como J. R. R. Tolkien e C. S. Lewis, George Martin ainda tem um longo caminho a percorrer e um enorme desafio para vencer. Tudo porque sua principal história ainda não chegou ao fim, faltando dois livros para serem escritos (Os Ventos do Inverno e Um Sonho de Verão, em tradução livre).

Apesar disso, os augúrios são promissores para o escritor norte-americano, já que a mitologia e cronologia criada em As crônicas de Gelo e Fogo são tão vastas e férteis, que a trama ainda pode e promete render muito caldo lá na frente.

Enquanto isso, os fãs se amontoam para saber se a produção dos livros vai bem. A preocupação se deve pela distância entre o lançamento das últimas edições (cinco e seis anos respectivamente) e a concorrência cada vez maior pela agenda do autor (que já declarou que só consegue escrever quando está em casa). Ambas as ilações sugerem uma longa demora até que os dois últimos livros sejam finalizados.

Dessa forma, muitos fãs chegam a ser indelicados quando, fazendo uma projeção, especulam sobre a idade do autor (67 anos), suas condições de saúde e cobram que os livros saiam mais rápido do que vem se anunciando com medo de perder a versão que o criador original da história vai dar pras coisas.

Diante disso, Martin já se mostrou desconfortável com os comentários e afirmou que os produtores da série de TV já sabem qual fim ele pretende dar para a história. Ainda assim, por mais que David Benioff e Dan Weiss tenham um certo compromisso ético com o desfecho da narrativa, eles vêm alterando (e desagradando alguns fãs) o rumo de alguns personagens secundários e outros detalhes da série. O que nos permite afirmar que Martin deve ser hoje uma das pessoas mais recorrentes nas orações pelo mundo afora. 

A parte das pressões externas, esse senhor de feição simpática segue trabalhando de sua casa no Novo México onde mora com a esposa, Parris Mcbride e tanta expectativa por seu trabalho podem até deixar a sensação de que a criação superou seu criador, porém, a capacidade de despertar tamanha curiosidade e ansiosidade em tantas pessoas ao redor do mundo já lhe rendeu uma posição no top 100 pessoas mais influentes do mundo em 2011, segundo a revista TIME, e credenciaram George R. R. Martin a ser um homem que você certamente deveria conhecer.

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A ‘Homens que você deveria conhecer’ é uma série colaborativa do PapodeHomem. A ideia por trás dessa coletânea que já tem mais de 50 textos é montar um conjunto representativo de homens vivos ou mortos que são dignos de notoriedade e que podem, através de suas histórias de vida, nos ensinar algo de positivo.

Para que essa série se torne cada vez mais representativa dos bons exemplos que nossa comunidade – autores e leitores – cultiva, dependemos da sua colaboração e estamos abertos para recebê-las. Através do meu email breno@papodehomem.com.br estamos recebendo sugestões e artigos de pessoas que você gostaria que conhecessem.

Para acertar a mão e emplacar um texto na série basta se atentar a algumas instruções: (1) os artigos são quase biográficos por isso eles podem obedecer a uma ordem cronológica dos fatos, mas (2) eles devem conter detalhes pouco conhecidos sobre a vida do personagem que justifique sua escolha. Além disso, (3) é importante que o texto não foque apenas no aspecto profissional da vida do personagem, queremos ‘Homens que você deveria conhecer’, não apenas empresários, engenheiros, artistas etc. Por último, (4) você pode visitar os outros 50 artigos da coleção para ter inspiração. Os outros parâmetros mais subjetivos, batemos individualmente por email quando você tomar tempo e coragem pra nos recomendar alguém. Até lá.

Filipe Larêdo

Filipe Larêdo é um amante dos livros e aprendeu a editá-los. Atualmente trabalha na Editora Empíreo, um caminho que decidiu seguir na busca de publicar livros apaixonantes. É formado em Direito e em Produção Editorial.