Kevin Bacon quer botar o pau na mesa. Eu também. Nós queremos botar mais paus na mesa de Hollywood toda vez que, no escurinho do cinema e chupando drops de anis, a mocinha tira a roupa toda nas preliminares e não é acompanhada pelo John, que deve transar de cueca.
#FreetheBacon é uma das hashtags da semana. O ator protagoniza um vídeo no qual faz um pedido por mais nudez masculina no cinema, e reclama das inúmeras vezes que, em seu currículo, a disposição de fazer nus frontais foi dispensada ou considerada desnecessária. Ele diz, ainda, que isso é uma questão de igualdade de gêneros – ainda que se possam identificar ressalvas.
A indústria do entretenimento parece não ver maiores problemas em relação à nudez feminina. Ela é vastamente abusada e está, em algum grau, em quase todo filme, série e programa. A naturalização do corpo erótico da mulher é tamanha que ele é largamente utilizado para vender os mais diversos produtos – de óculos de grau a apartamentos.
Quando o assunto é o nu masculino, toda a coisa muda de figura e fica terminantemente proibido olhar para o mictório ao lado. Taças de vinho, cabeças de outros personagens, sombras milimetricamente calculadas e, mais comumente, abajures costumam cobrir quaisquer resquícios de pênis.
O corpo humano admite diversos olhares, mas o sexual parece predominar. A nossa dificuldade em ler o corpo alheio sem associá-lo à desejo e libidinosidade é bem localizada no centro de uma cultura machista e religiosa – o que não é nem um pouco contraditório.
Porque é religiosa, a ideia de corpo só poderia ser ligada à perpetuação da espécie, ao sexo, ainda que procriativo – e quando não, é pecador. O abismo, especialmente católico, entre o bem e o mal está intrinsecamente ligado à noção tão erótica da tentação. Do proibido. Do não. Parece paradoxal, mas já sabemos em que fetiche isso dá.
Porque é machista, a noção do corpo alheio como propriedade é parte de nós e resulta em olhares dominadores, treinados para ver o que lhes pode servir. Como um pau pode lhe servir?
Talvez não possa. Não fossem os olhares masculinos desse modo treinados, vissem com mais naturalidade o corpo de outro homem, sem a fobia de um latente desejo lascivo e o automatizado impulso de associá-lo a sexo. Não precisa haver tentação. Kevin Bacon não está nu para nosso deleite, mas porque é assim que é e que surgiu no mundo. E por que não haveria o cinema de retratá-lo assim?
Não pretendo que os nus hollywoodianos sejam qualquer tipo de resposta ou solução para que desenvolvamos um olhar mais sensível sobre o corpo. Neste contexto, o nu ainda ainda pode ser mercado – e, enquanto assim for, saberemos que não é naturalmente banal. Mas ajustar as lentes para uma vista nova é um processo demorado que precisa ter início.
Para aprofundar a leitura:
1. [18+] Nudez masculina: o mal-estar;
2. A nudez não precisa ser sexual;
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