Você já ouviu falar de Ferris Bueller. Não importa onde você viveu, com quem andou ou cinema frequentou. Você, sim, já ouvir falar de Ferris Bueller.
Muito – muito mesmo – já foi falado sobre Curtindo a Vida Adoidado e o personagem principal. Afinal, ambos habitam o consciente cultural contemporâneo, sendo o filme favorito de atores, músicos e presidentes. No entanto, este texto não vem para falar de Ferris especificamente. Afinal, Ferris Bueller não existe.
Ferris Bueller não é um ser.
Ele é um código de conduta. Uma maneira de ver e agir no mundo. Podemos ainda dizer que ele é Zoroastro, o super-homem de Nietzsche ou o coringa de Carlos Alberto Parreira. Chego a essa conclusão pensando em todos os dias restantes da semana de Ferris. Imagine que o filme se passe numa terça-feira. Já imaginaram o dia seguinte?
Pois bem. Será que no dia seguinte ele foi ao colégio e chegou a tempo de pegar a chamada da primeira aula? Álgebra, no caso. Acho pouco provável. Para não dizer impossível. Seguindo essa linha de raciocínio, chegamos ao verdadeiro personagem tangível do filme: Cameron Frye.
Eu sou Cameron Frye
Inicialmente vemos um Cameron medroso e auto-piedoso, com pavor do pai e resignação de sair da rotina do seu dia-a-dia. Na verdade, Cameron tem medo do mundo e da vida que não conhece. Exatamente como uma criança no seu primeiro dia de escola, onde é confrontada com inúmeras verdades que não são as suas.
O que vemos no filme é a morte do menino Cameron e o surgimento do homem Cameron.
Esse processo só pôde ser possível graças ao dia sensacional que tivera. Ferris nada mais é do que um guia que segura Cameron pela mão e o leva até a beirada da tênue linha que separa meninos de homens. Ao se deparar com esta linha, Cameron toma a decisão de atravessá-la e concluir o ritual de iniciação para a idade adulta madura.
O filme não mostra a conversa que Cameron tem com o pai. E nem precisa. Sabemos que ele enfrentou o velho Morris Frye de frente.
Ferris Bueller e Jung
Segundo Robert Moore e David Gillette, ao analisarem os arquétipos do masculino de Carl Jung na obra “Rei, Guerreiro, Mago e Amante. A redescoberta dos arquétipos do masculino”, um menino se torna um homem ao passar por um “ritual” no qual ele assume o seu posto de homem maduro e deixa a natureza infantil.
Esse “ritual”, nada mais é do que uma situação onde ele entra em contato com os seus instintos primordiais representados por quatro arquétipos: Rei, Guerreiro, Mago e Amante. Cada um deles tem características e funcionalidades diferentes que convivem em sinergia dentro da psique do homem.
Ao passar por este rito – e ascender ao posto de homem maduro – o indivíduo também tem acesso às sombras de cada arquétipo. Desta forma, o arquétipo positivo do Rei tem como sombra o Rei da Sombra, que por sua vez tem duas divisões o Tirano e o Covarde. Se imaginarmos uma pirâmide, o arquétipo positivo ficaria no topo e os negativos nas extremidades. Para desfrutarmos das energias positivas de cada signo, temos que nos concentrar para manter a nossa posição sempre no topo da pirâmide. Caso contrário, seremos alvo de energias internas negativas que, resumidamente, impedem a nossa evolução como homens maduros.
Podemos ver claramente em Ferris todos os arquétipos no seu pólo positivo: ele tem a direção do Rei, a energia do Guerreiro, a consciência do Mago e a paixão pela vida do Amante. Por isso ele causa tanta admiração em todos nós. Esse conjunto de qualidades o leva a ser o guia de Cameron para o amadurecimento. A preocupação com o amigo é notável ao longo do filme. Ferris poderia fazer tudo sozinho com Sloane, mas faz questão de levar Cameron junto e para mostrar que a vida acontece bem depressa.
As lições de Curtindo a Vida Adoidado
Ao longo do filme somos apresentados a uma série de questionamentos e atitudes que nos fazem pensar e repensar sobre a vida. São estes questionamentos, unidos com as atitudes de Ferris, que fazem com que Cameron amadureça. Por exemplo:
- “Ismos”
Ferris não concorda com os “ismos”: socialismo, liberalismo e etc. Ele parafraseia John Lennon na música“God” onde temos um Lennon cético que diz não acreditar em mágica, i-ching, bíblia, tarô, Hitler, Jesus, Kennedy, Buda, mantra, Gita, yoga, reis, Elvis e nos Beatles, mas acreditava nele e na Yoko – que, segundo ele, eram reais.
Ferris não acredita em nada além dele naquele momento. Sem dogmas, doutrinas ou fórmulas da felicidade. Pode parecer egoísta e até um pouco cartesiano, o que é um paradoxo, ao se tratar de Ferris Bueller, mas não há nada além de nós e do agora.
- Nunca se vai longe demais.
No requintado restaurante Chez Quis, Ferris é confrontado e ameaçado de prisão pelo meître, ao afirmar que é Abe Froman, o “Rei da salsicha de Chicago” e ter uma mesa reservada. Sloane e Cameron tentam convencê-lo a desistir da ideia, alegando que ele estava indo longe demais. Ele dialoga com a câmera e diz que nunca se vai longe de mais.
Mais tarde vemos os três sentados na mesa e sendo bajulados pelo mesmo maître que queria chamar a policia para prendê-lo.
Afinal, o quão longe é demais?
- A vida acontece bem depressa. Se você não parar, de vez em quando, para aproveitá-la, ela vai passar e você não vai nem perceber.
Essa é a segunda maior lição do filme. A frase se tornou corriqueira no nosso cotidiano, mas não a entendemos e nem a colocamos em prática em sua totalidade.
Veja que a vida “acontece” rápido demais. Ou seja, querendo ou não, ela esta acontecendo já e agora. Independe da nossa vontade. Ela é como se fosse um trem que leva a vários lugares e tem vários assentos vazios. A única coisa que nos cabe é, de vez em quando, irmos a estação mais próxima e pegar esse trem. Veja que Ferris não diz para agirmos como se amanhã fosse o último dia de nossas vidas ou que o mundo irá acabar hoje às 18h. Não. Ele diz que iremos trabalhar duro para pagar as nossas contas, correremos contra o relógio todos os dias e, apenas de vez em quando, aproveitemos um pouco a vida.
Aliás, no filme ele não faz nada demais. Não vai para a lua, não salva a América de ataques terroristas ou o mundo de robôs alienígenas gigantes e muito menos tem super-poderes.
Ele apenas curte o dia dentro das suas possibilidades.
A vida segundo Ben Stein
“Mas quem é Bem Stein?”, você se pergunta. Eu fiz a mesma pergunta quando vi os extras do filme. E fui atrás de informações sobre o cidadão.
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Ben Stein é o professor de economia que faz a chamada mais clássica do cinema.
Além disso, ele é jornalista, escritor, fez vários discursos dos presidentes Regan e Nixon, escreveu para os principais jornais americanos e tem mais de 30 livros publicados sobre temas ligados a economia e política. Com esse repertório de vida, ele tem algo a nos ensinar sobre a filosofia de vida de Ferris Buller: Ferris Bueller não tem restrições.
Ele não se sabota, como fazemos algumas vezes. É diferente de ter medo, que às vezes pode ter fundos psicológicos. A restrição imposta por nós mesmos é aquela que sabemos que podemos fazer algo diferente em uma determinada situação, mas por algum motivo consciente não fazemos. E depois que a situação passa, no final do dia, ficamos rolando na cama de um lado para o outro, pensando que poderíamos ter feito diferente, mas não fizemos. E nos torturamos por isso. Deixamos a oportunidade de fazer algo diferente e conscientemente passar.
A mudança é sempre um problema para a maioria de nós. Quando ela é interna, é traumática e difícil de lidar. Afinal, quebrar a rotina de atitudes, ações e posicionamento perante a realidade é muito difícil. Não devemos apenas estar preparados para mudanças. Mas sim, nos permitir mudar. Essa permissão é o primeiro passo para a mobilidade interna, que nada mais é do que o desapego das nossas próprias crenças sobre a imagem que fazemos de nós mesmos. É a possibilidade de transitar entre as nossas várias facetas sem se apegar a uma só. Voltando aos arquétipos de Jung, é nos permitir acessar as nossas várias energias internas positivas e usá-las com efetividade.
Não dá para vencer se não estiver jogando
A frase de Joan Didion é a grande lição do filme. Todos os pontos apontados por mim podem ser falhos e questionáveis, mas este não. O amadurecimento de Cameron só acontece porque ele se permite sair com Ferris. Mesmo não sabendo das consequências e a contra gosto, ele toma uma atitude. Ele fica disponível para que a vida aconteça. E ela acontece, de fato, com ele e não ao redor dele.
Ben Stein disse que o dia mais feliz da sua vida foi a gravação da cena da chamada. E isso só foi possível porque ele ficava de estúdio em estúdio vendendo roteiros de filmes. E por uma série de coincidências, ele foi convidado para fazer a celebre cena. Mesmo sendo famoso e procurado por sua extensa obra e conhecimento, ele afirma que a momento só foi possível porque ele tomou uma atitude, porque ele jogou o jogo da vida.
No inicio do texto eu disse que Ferris não poderia existir.
Eu menti.
Ferris existe. Ele é um conceito de vida e filosofia de planejamento que há, mesmo que discretamente, dentro de qualquer homem. Ele é o estopim da improvisação resultante do respeito ao seu instinto.
O fato é que o mundo mudou. E essa mudança tem como principal efeito a geração de oportunidades. O futuro deixou de ter um espaço de tempo com previsões. Mas sim, prováveis constatações baseadas na realidade. Isso refletirá diretamente na variação de sucesso. É obvio que algumas teorias clássicas sobrevivem, mas a garantia de bons negócios está cada vez mais ligada com a inspiração e planejamento.
Trate o futuro não como um fluxograma dentro da planilha. Mas sim, uma coletânea de metas e ideias que precisam ser construídos dentro de um mosaico divertido e conceitual. Assim com uma missão, um plano precisa ser desenhado e escrito visando e justificando cada virgula, ponto e interrupção.
Imagine-se no meio do século. Orgulhe-se de quem você será. E para isso, o principal: curta a vida.
Mecenas: HSBC
O HSBC preparou um estudo com diversos cenários e mudanças importantes que ocorrerão no mundo até 2050. Um dos cenários trata exatamente sobre comportamento de investidores, os melhores investimentos, relações comerciais entre países e importações.
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