Eu não entendo nada de música. Sabe aquele cara que não sabe tocar cai-cai-balão na flauta doce Yamaha, desafina apertando campainha de blim-blom e precisa perguntar pro amigo do lado a diferença entre baixo e guitarra? Bem, sou eu. E aí, uns dias atrás, os caras me mostram esse vídeo.
Link YouTube | A tilha consegue ser tão foda quanto o vídeo
E mesmo sem saber diferenciar uma Fender de uma Gibson, um ukulele de um cavaco ou conseguir dedilhar o comecinho de Come As You Are se disso dependesse a minha vida, eu vi que estava diante de algo que, na falta de outra palavra melhor para descrever, era foda.
E ainda é foda pela crueza do vídeo (se você não notou, ele é de 1959). É foda pela presença do próprio Leo Fender (se você não notou, não se culpe. Eu não tinha notado também). É foda pela chance de ver o cuidado, o apuro, o perfeccionismo com que os caras trabalhavam.
É foda pelo ar de “quando os homens eram homens e faziam as próprias guitarras sem camisa num galpão escuro”. É foda pela aura absurda de cool que ele possui. É foda por fazer com que eu, que estudei metade da vida em escola de freiras e só fui começar a falar palavrões lá pelos 15 anos, escrevesse a palavra “foda” umas 10 vezes em menos de 20 linhas.
Mas o mais foda – ao menos pra mim que, como vocês podem imaginar, achava que guitarras nasciam em árvores – é a idéia que esse vídeo passa sobre trabalho, legados e realização. Mais do que guitarras, mais do que instrumentos ou ferramentas para um fim, esses caras estavam fazendo, num certo grau, história. Eles estavam criando algo que não apenas gera o sustento deles como serve pra que outros façam arte e que até hoje é relevante, significativo e que nós estamos dispostos a gastar parte do nosso dia vendo um vídeo sobre.
Não sei quanto esses caras ganhavam, não sei o que aconteceu com eles ou como levaram suas vidas, mas quantos de nós, trabalhando em mesas, digitando relatórios, atendendo telefonemas, jogando angry birds durante reuniões chatas, temos a sensação de estar fazendo algo parecido?
De estar ajudando a criar algo maior, estar deixando uma marca na história, estar deixando um legado, por menor que seja? Poucos, eu acho. Mais do que sobre a arte de fazer guitarras, esse vídeo é um pouco sobre a arte de deixar marcas e construir uma história.
Algo que, se vocês me permitem apelar pra essa palavra de novo, nunca vai deixar de ser foda.
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