Já se foi o tempo em que expor em museus marcava a diferença entre um artista e alguém que tem um hobby. Para a arte contemporânea os espaços físicos são pouco e ela parece transbordar pro que é intangível mas, ao mesmo tempo, mais acessível ou popular.
É o caso da obra recente mais falada de Amalia Ulman, artista argentina formada pela renomada Central Saint Martin, em Londres. Ela usou sua conta do Instagram pra produzir um material no mínimo interessante: seu corpo foi objeto pra uma atuação que representava o estereótipo de uma garota estadunidense e hip da era dos anos 10.
Um iPhone e uma conta no Instagram deram conta de todo um ensaio que recebeu o nome de Excellences & Perfections, projeto que começou na surdina – afinal, nada mais comum do que uma garota que se rende aos prazeres do consumo e narcisismo online, certo?
Errado. Ou pelo menos é que a obra tenta provar. Pro jornal britânico The Telegraph, Amalia disse que a peça é mais do que uma sátira: “Eu queria provar que a feminilidade é uma construção, e não algo biologicamente definido ou inerente às mulheres. Elas entenderam a performance muito mais rápido que os homens. A sátira estava em admitir o tanto de trabalho que dá ser uma mulher e como isso não é algo natural. É algo que você aprende.”
Nesse sentido, a artista segue os passos de modernistas que desafiavam o arquétipo feminino que nos educa quanto ao nosso comportamento e aparência como Cindy Sherman, Laurie Simmons, Judy Chicago e Martha Rosler.
Em tempos nos quais a pergunta “o que é arte?” parece ser mais respondida pelo status que tem seu autor no mercado do que pela produção em si, Amalia parece estar conquistando o seu espaço – o ensaio lhe rendeu exposição nas mostras Electronic Superhighway na Whitechapel Gallery e na Tate Modern’s Performing for the Camera, ambas em Londres, que ficam em exibição até 29 de janeiro e 18 de fevereiro, respectivamente.
A obra ficou dividida em três fases e está postada completa em seu Instagram. A garota romântica envolvida em rosas chega ao fim quando termina com o namorado e traduz a mágoa na estética de gueto que predomina na segunda fase – usa drogas, põe silicone – que só termina quando ela descobre a yoga e a alimentação balanceada, isso é, o equilíbrio.
Três possíveis variações de um arquétipo ao qual estamos todos muito bem acomodados, ainda que não devêssemos.
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