Olá, amigos da Ignição!
Sejam bem-vindas e bem-vindos a mais uma edição da coluna mais mão na massa do PapodeHomem.
Ultimamente, andamos cultivando o grupo de Whatsapp da Ignição e achando a experiência bastante enriquecedora. É muito legal ver uma energia tão positiva florescendo por ali. Ainda estou chamando pessoas pra entrar (e sei que um monte de vocês está com e-mails na minha caixa de entrada), então, peço também paciência a quem está chegando. E a quem ainda não me enviou pedido mas anda curioso, é só mandar e-mail com o assunto "Quero entrar pro grupo da Ignição" pra luciano@papodehomem.com.br com um relato contando sua experiência com a coluna, por que acha que seria interessante participar e como poderia contribuir com o grupo. Em breve faço mais uma bateria de convites. 🙂
Enquanto isso, vamos a mais uma prática.
Aprenda a ver (ou: evite a superficialidade e olhe com atenção)
Quando era bem garoto, eu desenhava bastante. Todos os dias eu pegava uma figurinha ou objeto e começava a projetá-lo no papel. No entanto, com o tempo, foi um hábito que perdi, especialmente quando comecei a me interessar mais por escrita e música.
Assim, quando já morava em São Paulo e trabalhava no PdH, conheci o Bruno Passos, pintor de mão cheia e autor do PdH. Uma certa vez, num período no qual decidi voltar a colocar as coisas no papel, o Bruno viu um dos meus desenhos e se ofereceu pra me ajudar. Obviamente, como não sou bobo, topei.
De repente, comecei a frequentar a casa do Bruno semanalmente. Sempre nos reuníamos um tempinho e ele me passava exercícios.
A coisa girou ao redor, basicamente, de pegar um rosto conhecido e desenhá-lo. Na primeira semana, o Bruno me disse logo de cara que eu não estava efetivamente desenhando o que eu estava vendo. Eu estava colocando no papel projeções de como seria um rosto humano e adaptando essas ideias pra se assimilarem ao rosto que eu tinha pego pra desenhar. "Isso aqui parece um cartoon do rosto dele."
Depois, ele me mandou refazer o mesmo rosto/desenho várias e várias vezes. E, sempre, me mostrando algum detalhe que eu tinha omitido. Assim, eu fui, de fato, enxergando nuances que nunca teria percebido sozinho. Eu passava horas e horas olhando pro mesmo rosto, descobrindo novos detalhes e melhorando o retrato que eu era capaz de fazer.
Essa experiência me mudou bastante.
Vivemos uma época na qual uma boa parte do nosso testemunho do mundo é feito por intermédio de telas. Seja pelo celular ou pelo notebook ou TV, nos habituamos a ter a luz projetada em nossos olhos e a filtrar a maneira como vemos por dentro daquele enquadramento.
Pior do que isso, estamos sendo condicionados por esses dispositivos e, principalmente, pelas redes sociais a olhar pra tudo de maneira superficial. A cada dia que passa, treinamos nossa atenção para ser ainda mais rasa, pulando até mesmo vídeos de 15 segundos antes que terminem. "Ah, já entendi, pula."
O efeito disso é uma espécie de crise de interesse e um déficit de satisfação (além de uma série de interpretações absurdas da realidade quando completamos o que não conseguimos entender com as loucuras que temos na cabeça).
Quando nos deparamos, então, com algo que nos demande mais do que aquele minutinho, é como se estivéssemos há anos sem nos exercitar e, de repente, decidíssemos carregar mais peso. Não estamos preparados para o mergulho necessário.
Além disso, perdemos também a capacidade de enxergar as nuances. Olhamos tão rápido que os detalhes se perdem.
A prática de hoje é pra gente fugir um pouco desse padrão.
Se notarmos bem, tudo que existe no nosso mundo é ou tem o potencial de se tornar uma ciência por si só. O café que você toma, as folhas das árvores, a madeira que compõe a porta da sua casa… quando olhamos, então, pros produtos culturais que nos cercam, é ainda mais fácil perceber.
Muitas vezes não sabemos, mas uma música que ouvimos pode ter até centenas de horas de trabalho, se contarmos todas as pessoas que param para se dedicar a uma parte da obra. Há pesquisa, imersão criativa, escrita, arranjo… cada pedacinho desses tem uma razão de ser que deixamos passar quando só ouvimos enquanto caminhamos pro nosso próximo compromisso.
Um filme, então, é capaz de levar a carga horária pros milhares de horas facilmente. Nada é à toa, tudo é milimetricamente calculado.
Mas não notamos.
Assim, o que sugiro é: pegue uma música, filme, série ou livro e faça o consumo dela sem distrações, tentando realmente se concentrar. Depois, tente observar os símbolos ali incluídos. O que aquela obra estava tentando dizer?
Muitas vezes, pode ser que seja difícil chegar aos significados mais profundos por que não somos bem treinados pra isso. Então, sugiro que vá e procure um vídeo no Youtube que fale dela e compare com as suas impressões.
Recomendo, por exemplo, o canal EntrePlanos que, além de muitos outros, tem esse excelente vídeo sobre a obra de Hayao Miyazaki.
Esse mesmo canal tem ótimas análises. Uma forma simples de fazer pode ser escolher um daqueles filmes, assistí-lo e depois ver o vídeo comparando com as suas impressões. 🙂
E, se você quiser estender a prática, talvez valha pegar um objeto banal e realmente se dedicar a enxergá-lo. Talvez, até escrever em um pedaço de papel. Tente descrever pequenos detalhes que você nunca tinha enxergado. Pergunte coisas sobre ele e depois tente entendê-las. Qual será a história desse objeto? Como ele foi parar ali? Quem o fez?
Sugiro fazer isso por umas duas semanas, para dar tempo da sua percepção se aguçar. E, se possível, chamar um parceiro pra trocar impressões e se estimularem.
Com o tempo, pode ser que você comece a desenvolver uma vivacidade, uma capacidade de enxergar as coisas para além das camadas mais óbvias.
Por mais banais que sejam os objetos, alimentos ou produtos culturais, há sempre muito mais a ser visto do que quando passamos o olho.
Verdadeiramente contemplar aquilo que está à nossa frente, lançar um olhar curioso e adicionar camadas aos fenômenos mais banais é uma excelente forma de dar colorido à vida.
Aguardo os relatos nos comentários!
Abraço e até a próxima!
* * *
O que é a coluna Ignição?
Resumindo: queremos iniciar processos de transformação por meio de ações práticas.
Aqui no Papo de Homem temos trocentos textos filosofentos falando de tudo. Agora, vamos pra outra abordagem.
Menos papo, mais ação.
Você está perdido e não sabe o que fazer da vida?
Aqui vamos oferecer um ponto de partida, ações simples que você possa usar como um aquecimento, que coloque seus "músculos" no ponto para você gradativamente começar a lidar com seus problemas de frente.
Como funciona?
De duas em duas semanas vamos sugerir ações práticas acessíveis, para que você possa sair da inércia.
Depois, publicamos mais um artigo para conversar sobre a prática. Pedimos que venham no artigo e relatem, em detalhes, como foi a experiência. Vale qualquer coisa, inclusive e principalmente, se der tudo errado, pois é nessas horas que a gente precisa de apoio e a coisa de termos uma comunidade mais vai fazer sentido. Nos colocando em movimento vamos começar a descobrir irmãos, amigos, enfim, parceiros de transformação.
Com o tempo, vamos cultivar uma rede de parceiros, dispostos a transformar suas vidas e também conversarem sobre o processo todo como uma forma de se incentivarem e se apoiarem.
A Ignição é incrível, onde encontro os experimentos anteriores?
Muito fácil! Basta entrar na coleção Ignição.
Já conhece o ebook "As 25 maiores crises dos homens — e como superá-las", produzido pelo PdH?
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Para conhecer mais sobre o conteúdo do livro e tudo que vai encontrar lá dentro, leia esse texto.
Ao comprar o livro, você também ajuda a manter o PapodeHomem vivo.
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