Vamos? Porque eu tava aqui pensando, a gente se gosta há tão pouco tempo que nem deu até tempo de ligar mais. Somos especialistas, você e eu, mais em estudar brechas de caráter e fragilidade um do outro do que em construir uma relação saudável, com espaço e abertura. Uma hora vai vir cagada de qualquer jeito e a gente não tem maturidade emocional pra sair dessa.

Lembra só o tanto de vezes que você já se estrepou levando tombo em namoro bobo, fora de cara babaca, ouviu as maiores asneiras de gente que pensou que ia dar certo demais? Porra, né, pra que entrar nessa de novo, só que comigo? Imagina só, pra eu falar isso, a mania besta que eu tenho de criar uma figura ideal das pessoas que eu tô afim, o costume que eu tenho de colocá-las num pedestal que nunca vai ser alcançado por mim ou por elas e daí fica aquela coisa que não anda, desanima. 

Vamos pensar aqui, com aquele medo que a gente conhece tão bem. Eu sou mole, você nunca foi lá de ter coragem, nossas histórias afundaram a gente ainda mais em derrota. Já temos esse material prontinho pra qualquer relacionamento que a gente embarcar, esse olhar clínico de apontar onde é que vai dar errado e esparramar as frustrações logo de cara que é pra poder dizer, com o único gosto nessa brincadeira sem graça, o "eu avisei". A gente é bom nisso, pra quê deixar de lado um talento moldado pra se entregar numa relação complexa pra cacete? Por causa de amor?

Ah, vamos nos poupar, meu bem.

Vamos desnamorar? Imagina? A gente chama uns amigos, coisa pouca, faz algo só pros íntimos. A gente vai contar tudo pra eles de qualquer jeito, provavelmente em situações vergonhosas e desconfortáveis pra eles. Pelo menos assim a gente dá uma recompensa, mostra o nosso esforço também. Queremos o bem deles, né. Uma bebidinha, eles veem o meu fracasso e a sua cara de bunda, tudo junto, fica mais simples de explicar como a gente é ruim nisso. Eu já posso jogar uma conversa fiada em alguma amiga sua que eu nunca teria a capacidade de pegar e já saio como canalha, dá aquela impulsão na ajuda que vão querer te dar, você joga bebida na minha cara, meus bróders me levam embora dizendo que eu mereço coisa melhor.

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E a gente volta praquela nossa vidinha sem entrega. Insossa.

Perguntando a cada final de dia onde é que pode estar o amor das nossas vidas. Porque uma hora tem que dar certo, né?

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Jader Pires

É escritor e colunista do Papo de Homem. Escreve, a cada quinze dias, a coluna <a>Do Amor</a>. Tem dois livros publicados