Não é uma questão de nível de entretenimento ou qualidade. Mas sim, uma comparação: os games e seu derivados, os jogadores, mudaram muito.
Auxiliado pela eminente evolução tecnológica, o mercado de desenvolvimento de games marchou até significativas melhoras. Descobriu-se um excelente nicho e muito dinheiro envolvido. As grandes produtoras de cinema entraram com tudo e com o proposto de deixar os jogos ainda mais atrativos.
Os games, desde o pioneiro Telejogo, ganharam em fidelidade gráfica, velocidade de resposta, possibilidade, interações e níveis. Os desafios aumentaram. O número de comandos triplicou – ou mais. E a inteligência artificial, bom, essa nem se compara. Os macetes técnicos são cada vez mais raros, já que o computador se adapta, cada vez melhor, ao desempenho do player.
Claro que os tempos são outros.
Ficou tudo mais difícil.
E a gurizada aproveitou para apelar.
Eu não sinto falta dos jogos quadriculados, de som mono e sem pause. Muito menos dos tilts no meio da fase e da assoprada na fita de Snes. Aquilo era deveras chato. Contudo, fazia parte do desafio. E é aí que eu gostaria de chegar. A atual geração não sabe o que é um desafio de vídeo-game.
Reforço: não estamos falando do desafio de passar uma fase ou derrotar um chefão. Esse continua o mesmo, cada um do seu modo. A questão aqui é o romantismo que envolvia todo o jogo. Desde a espera pelo lançamento no Brasil, as poucas informações nas raras revistas de games da época e a busca pelos segredos para zerar o jogo.
Pois, senhores, naquela época não havia game play no YouTube. Muito menos site com todos os cheat codes disponível a poucos cliques. Para piorar, surgiam as lendas urbanas. Situações que envolviam um jogo que desafiavam nossa imaginação. Como o final de Pitfall, as fases secretas de Super Mario World, os finais alternativos de Street Fighter e os fatalities de Mortal Kombat. Não havia como simplesmente procurar no Google. Era preciso correr em busca da verdade.
Essa transpiração necessária – e real – foi o que marcou alguns jogos na historia. Fato que, ultimamente, é cada vez menos frequente. Essa geração que passou por Atari, Snes e Mega Drive, mais do que jogar, se emocionou ao finalizar os jogos. Especialmente aquele moleque que cruzou bairros de bicicleta em busca de um camarada amigo do primo que tinha dicas de como passar a fase mais difícil da historia do vídeo-game.
Sim, estamos falando de Battletoads
Link YouTube | Fase desgraçada
Não só Battletoads. Contra, Ninja Gaiden e Alex Kidd também. O que esses jogos tinham em comum? Não havia save game. Não dava para você dar uma jogadinha marota antes do colégio ou no intervalo do jogo. O que nos restava, no máximo, era o bom e velho password – que também era uma sacanagem, com números, símbolos e cores.
Eu devo muito da minha persistência e força de vontade a isso. A essa ética adquirida com os games. Não foi uma fase difícil do Contra e as poucas vidas logo na terceira fase que me fizeram desistir de chegar até o final. Muito menos as semanas tentando descobrir como passar com o jet ski do Battletoads que me motivaram a jogar tudo pelo alto. Nada, nenhuma dificuldade me motivou a pegar um atalho ou render-se a trapaça.
Hoje eu sou um cara bom.
Sou um cara justo.
E devo parte da minha educação ao vídeo-game.
Não sei o que será dos jovens gamers de hoje. Só espero que essa gurizada não se acostume com a vida mansa.
A realidade, acredite, é mais dura do que um bônus level com fase destravada e vidas infinitas.
Oferecimento: Allianz
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