Vinte caras que chegaram adiantados. Não houve atrasos, mesmo com alguns saindo de lugares como Santos ou Interlagos para chegar em Perdizes em uma quarta de primeiro de abril e falar sobre estilo, sobre moda. 

O encontro com o Bruno Passos foi ótimo. Vinte caras e uma conversa de mais de duas horas, um papo próximo e aberto, sem amarras para falar de dúvidas, sem problemas para trocar informações.

Disso, sintetizei cinco pontos que vimos como importantíssimos para embarcar nesse lance de pensar em roupa e estilo:

1. Esqueça as regras

A moda agora é a do lenhador. Mas se você não tiver boa barba e cabelo liso, como fazer? Ficar em casa até passar a tendência:

Manjar tendências, ler novidades de fora, decorar as combinações clássicas e outras mais avançadas, tecidos, cores, junções. Tudo isso serve pra você ficar maluco e aumentar expectativas malucas que te deixarão, claro, frustrado.

Não que ignorância seja a benção, mas há um sem número de variáveis com suas possíveis exceções que fica impossível juntar uns bullets de informações a serem seguidas que certamente funcionarão. Conhecimento é bem vindo, mas saber observar o recorte do momento é o grande segredo.

Saber qual camisa combina com qual calça e em quais cores acaba sendo parte do processo, se não entendemos onde vamos e com quem. Indo no mais básico, escolher uma bermuda para ir à praia vai depender muito de qual tipo de praia você vai do que apenas imaginar "ah, vou à praia e só preciso de uma bermuda florida". E isso não quer dizer em nada que você precisa ser um sênior em roupas para entender detalhes de uma bermuda, mas sacar se algo mais sóbrio vai ser m ais interessante do que umas ondas coloridonas desenhadas. Mesmo modelo de bermuda, o mesmo tecido tactel, mas ser todo preto ou mais chamativo vai potencializar ou diminuir a atenção dependendo de onde vai e para qual evento.

A mesma análise simples, mas bem importante, vai seguir com qualquer peça de roupa em qualquer recorte diferente.

2. Pertencimento e diferenciação

Por que o terno e a gravata do Justin Timberlake são mais legais?

Quando a gente se veste, estamos entrando na linha fina de nos botar em algum grupo e nos diferenciar de algum grupo. "Ah, mas eu nem ligo pra moda, pego a primeira camiseta que está no armário". Parabéns, você faz parte do grupo que não tenta passar tanta informação com o que está vestindo. Não ligar para moda é passar tanta ou até mais informações com sua roupa do que alguém que tecnicamente está bem vestido, alinhado.

 E essas duas características não são apenas antagônicas, mas se complementam e mostram bem porque não basta apenas a roupa, que estilo é muito mais que isso. 

"O estilo está na fina linha entre quem está na plateia e quem está no palco"

Em um show, todos se vestem mais ou menos parecidos, mas o cara do palco sempre vai ser muito mais estiloso do que a massa da plateia. A diferenciação e o pertencimento caminharão juntos e entender esse jogo vai te ajudar bastante, para saber até onde ir, em que ponto você vai estar bem vestido para a ocasião, até onde você consegue se diferenciar e qual é o ponto em que você vai potencializar sua fala sem emular outra pessoa ou alguém que, na real, você não é.

3. Estilo é você em relação a outras pessoas e outros lugares

Voando num fundo branco fica mais fácil ser estiloso

 

Estilo não existe sem outra pessoa. "Você está estiloso em relação a alguma pessoa e em um determinado lugar". Falamos bastante aqui, mas é sempre importante pontuar que a mesma roupa pode ser perfeita em um determinado lugar, em um determinado recorte, e a mesma combinação pode não ser nada legal em outros lugares, com outras pessoas. 

Não que devamos deixar de ser quem somos e às vezes a intenção é mesmo a de chocar, a de chamar uma atenção além da conta, mas normalmente atualizamos as nossas informações no vestuário dependendo do contexto. O Michael Jackson era muito estiloso em cima dos palcos, a extravagância das suas trocas de roupas condiziam com suas músicas e com o contexto de ele ser o centro das atenções. Mas quando ele descia do palco e zanzava por Los Angeles com aquelas luvas brilhantes malucas e jaquetas muito chamativas, o que era trunfo virava o ponto freak. Um terno bem cortado pode ser bem estiloso na empresa ou em um casamento, mas no bar, ele seguirá interessante se tirar a gravata, se o corte for mais modernoso. Ou seja, também conseguimos fazer pequenos ajustes para manter a cara boa em mais de um ambiente e com diferentes tipos de pessoa (mantendo esse exemplo, você está bem vestido na frente do chefe e, depois, na frente dos amigos na mesa do boteco).

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4. Postura para amplificar o estilo

Camiseta branca e uma corrente. O básico do básico. Mas por que tão estiloso? O jeito de parar, a maneira de olhar

Você é roqueiro. Ou então alguém que quer ser líder, um executivo, um cara que não se prende às amarras sociais, um artista, quer ser sedutor, o cara da ostentação. Não importa. O mundo está aí para você experimentar.

O grande lance, nesse ponto, é ter a postura condizente. Isso é dito porque, além do aspecto cultural (esses aí de cima, a síntese de quem você quer ser), temos o caráter temperamental (se sou extrovertido, tímido, sério, agressivo) e o caráter físico (sou alto, baixo, gordo ou magro, se tenho braços finos ou costas largas etc).

Saber essas características vai te ajudar demais da conta na hora de compor sua persona por meio das roupas, guiar essas informações vai te deixar ainda mais condizente, menos genérico com o que quer dizer, ou seja, mais assertivo. Sua postura vai contribuir para isso. 

O cara sedutor, se observarmos uma boa gama deles na vida e, por exemplo, no cinema, encontraremos em comum uma postura mais lenta, movimentos mais comedidos, uma postura mais silenciosa, algo até, como o Bruno disse no encontro, mais puxado para os grandes predadores, cuidadosos em seus movimentos. Se você é um cara mais extrovertido, fala alto, se mexe pra cacete, claramente sua postura é mais de um bonachão. E não há problema algum nisso, ambos tem suas vantagens e problemas, mas se você obedecer mais suas características naturais, mais tranquilo vai ser. Digo, você pode treinar e ter a postura mais sedutora ou se aproveitar do carisma faceiro.

O grande lance aqui é entender que o todo depende de muitos fatores que vão além da roupa, então se vestir como determinada persona vai exigir que você se comporte como tal, ou todo o investimento em vestuário vai por água abaixo, deixando pobre a roupa estilosa sem as atitudes condizentes ao que, na teoria, foi proposto.

5. Roupa é apenas o facilitador social

 

O que você veste vai dar um direcionamento inicial de quem você é ou o que você quer dizer e isso independe de você, mas do entendimento das pessoas a sua volta. Quanto mais assertivo você for, mais fácil vai passar a mensagem certa. 

Na conversa que tivemos, entramos na parte do pré-conceito de alguém achar que somos algo – para o bem ou para o mal – apenas pelo que estamos vestindo, mas aí entra a segunda parte da vida que é dar espaço para que a pessoa realmente mostre quem é e a que veio. Não há como evitar esse trânsito áspero. O mesmo para quem acha que as pessoas são o que vestem ou que não são o que vestem. A roupa é o facilitador, não o quesito determinante.

 Com isso, vale o esforço de entender os meandros, mas não sofrer ou se frustrar com essa parte da vida, ficar triste porque não passou o que queria passar ou que não consegue se vestir bem. Tudo está em ordem como está, o conhecimento vêm apenas para facilitar o contato inicial  afagar de cara o olhar alheio.

Se é essa a ideia, procure se vestir bem, mas mais que isso, vista-se a vontade e toca o barco.

A vida é curta demais para chorar o colarinho errado.

O encontro com o Bruno Passos

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Jader Pires

É escritor e colunista do Papo de Homem. Escreve, a cada quinze dias, a coluna <a>Do Amor</a>. Tem dois livros publicados