Quando comecei a estudar cor, uma das primeiras percepções foi como me incomodava ver seu uso sem propósito nenhum. Não via muito sentido em frases como “só porque fica bonito”. Por amar comunicação visual, via que a base dela é o fato de alguém ter algo a dizer. Com cor não é diferente.
Pensando numa definição mais acadêmica, vemos que temos um emissor, que formula e molda uma mensagem para um receptor. Com isso, se busca a influência pela comoção, motivação ou mera informação. A mensagem, então, se adapta a esse propósito de causar influência, gerar conhecimento, interesse ou até mesmo credibilidade.
Na comunicação visual isso também acontece. A visão abrange mais do que o simples fato de ver, ela é parte do processo de comunicação como um todo. Ao ver, criamos e compreendemos mensagens visuais através de uma linguagem.
Uma das discussões acerca das cores na comunicação visual é a sua funcionalidade. Desde o surgimento da Bauhaus, esta união entre a arte (na qual as cores são elemento fundamental) e uma metodologia ligada à regra da utilidade é abordada na criação visual. Em outras palavras, percebeu-se a necessidade de servir um propósito.
Quando as cores são chamadas de “funcionais”, elas dão suporte e melhoram as funções comunicativas e físicas de uma imagem. Quando não possuem essa característica, normalmente o receptor da mensagem ficará confuso com sinais irrelevantes e conflituosos.
Para a publicidade, as cores funcionais podem servir como auxiliares para objetivos mercadológicos, seja manter a pertinência ao definir a cor de um produto, seja para criar atmosferas nas campanhas publicitárias, seja para escolher uma paleta de cores condizente com a identidade visual de uma marca, dentre muitas outras situações que exigem eficácia ao transmitir uma mensagem através da imagem.
Tendo em vista que esta funcionalidade tonal é artifício para a eficácia da linguagem visual, é necessário entender quais são as funções que podem ser exercidas em uma peça de comunicação, seja uma fotografia, um anúncio gráfico, um banner de internet, um filme, um vídeo para o Youtube, etc. Para isso busquei a teoria de Bergström, que menciona cinco funções primordiais das cores: atrair, criar atmosfera, informar, organizar e ensinar.
Atrair
Esta função comunicativa é uma das mais pertinentes para a publicidade, especialmente na comparação com a comunicação da concorrência. Quando uma peça de uma marca é chamativa a ponto de prender a atenção do consumidor, a transmissão da mensagem é facilitada, além de haver maiores chances de gerar uma interação com a marca.
Tendo em vista que a “iconosfera” na qual nos encontramos tende a diminuir nossa atenção, já que somos expostos a mais de duas mil horas de exibição de imagens por ano, as cores auxiliam nesta necessidade de atração do olhar. Uma imagem colorida em uma página atrai e cativa o leitor da mesma forma que elementos gráficos e cores fortes e contrastantes atraem o olhar em um site.
Em tempos de Oscar, um cartaz que definitivamente me chama a atenção se comparado com o resto é o do filme Her, de Spike Jonze. Só pela escolha da cor rosa no cartaz, o filme já se destaca dos demais, que apelam para tons mais neutros e genéricos. A cor rosa também instiga curiosidade sobre a temática do filme e sugere um certo distanciamento do padrão hollywoodiano.
Criar Atmosfera
As cores podem criar e reforçar a atmosfera nos meios de comunicação de modo eficaz. Cores leves e alegres em vermelho e amarelo criam de imediato uma atmosfera animada em uma loja, enquanto tons escuros de azul-esverdeado na capa de um livro transmitem sinais completamente diferentes.
A cor é o elemento da linguagem visual que tem maiores afinidades com as emoções. Ou seja, tem grande força e pode ser usada com muito proveito para expressar e intensificar a informação visual. Quando se lida com a emoção dos espectadores, cria-se uma “imagem emocional”, e então a influência da situação com o expectador ganha importância.
O cinema e a fotografia exemplificam muito bem essa função. No cinema a atmosfera criada geralmente nos indica o sentimento na cena ou nos transporta para um lugar completamente diferente. O exemplo mais popular disso é o filme Matrix, onde a Matrix se configura com a predominância do verde, remetendo à um mundo artificial e robotizado, enquanto o mundo real é azul, cor mais usada no cinema para representar realidade/cotidiano.
Também vemos essa capacidade de criar atmosferas com os trabalhos autorais do fotógrafo Miro. Em seu ensaio “Vaidades”, não só nos sentimos numa atmosfera distante da fotografia documental, como também somos levados ao Barroco, especificamente nos quadros de Caravaggio só pela escolha dos tons do cenário e da posição da luz.
Informar
As cores também comunicam informações em muitos contextos diferentes. No design, placas e outros tipos de sinalizações são muito dependentes das cores aplicadas. Nos hospitais, o amarelo significa infecção e doença; o vermelho, que algo está sujo; azul indica materiais limpos; e verde significa esterilizado.
Outro exemplo bem clássico é a sinalização de trânsito, onde o vermelho da placa de “PARE” significa chance de perigo.
Link Youtube | Imagina se a placa PARE não fosse vermelha?
Organizar
As cores podem organizar, por meio do código cromático, as seções de um relatório anual de uma empresa. Em uma revista, as cores ajudam o leitor a percorrer as seções. As cores se repetem nos ornamentos e títulos em suas respectivas seções de modo eficaz e estético.
Lembram-se do filme Gravidade? Ao pilotar uma das naves, a Sandra Bullock tinha que pegar o manual certo pra cada etapa. Vermelho era decolagem e verde era aterrisagem.
Ensinar
Como já visto nos itens anteriores, sempre que houver uma problemática na comunicação visual é possível que haja solução com a ajuda das funções descritas. Para ensinar não é diferente. A cor está, de fato, impregnada de informação, e é uma das mais penetrantes experiências visuais que todos têm em comum. Um bom ensino pode ser ajudado pelas cores. Imagens brilhantes ou tons decorativos encorajam a leitura; fundos claros acentuam diversas partes do conteúdo também.
Designers que fazem infográficos usam muitos desses artifícios para conduzir a atenção das pessoas e para que a informação seja aproveitada e adquirida da melhor maneira possível.
Para pessoas que trabalham com comunicação, acredito que essas 5 funções facilitem muito as escolhas e possibilidades de criar, seja uma foto, um vídeo, um anúncio, etc. Cabe ao profissional que irá compor a peça definir quais serão as soluções para a transmissão de seus significados e alinhá-las com seu estilo pessoal e cultural.
Espero que esse texto também ajude as pessoas a entenderem melhor as mensagens apresentadas no cotidiano e consigam analisar filmes, fotos, propagandas ou quadrinhos com outros olhos.
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