Mesmo que a gente já soubesse navegar bem através do mar de tralha que permeia a produção (e a divulgação) de cultura, artes, ciência etc, ainda seria bastante trabalhoso encontrar, pelo meio de tanta coisa boa que já temos disponível, aquilo que realmente queremos, precisamos ou o que nos serve. Esse é um dos motivos porque acho tão útil e necessária hoje a prática de curadoria, de boa curadoria.

E outro dia topei com um dos trabalhos de curadoria mais incríveis que já vi: a Empathy Library, uma iniciativa do pensador e escritor Roman Krznaric, parte da comissão de frente da School of Life.

“A Biblioteca da Empatia é primeira coleção online sobre empatia do mundo, um tesouro que pode catapultar a sua imaginação para dentro da vida de outras pessoas. Como é ser uma criança crescendo em Tehran, ou nascer cego, ou ser um soldado numa guerra que não é sua? A biblioteca leva você para viagens nestes mundos desconhecidos.”

O site faz a indicação de muitos e muitos livros (ficção, não-ficção, infantis) e filmes (longas, curtas, documentários), e a motivação da iniciativa é uma só: ajudar a aumentar a nossa empatia.

Infelizmente está tudo em inglês. Ainda assim, dá pra gente pegar as dicas e procurar pelos filmes legendados e pelas edições brasileiras dos livros. Vários deles já temos por aqui. Ah, e é possível também indicar obras e ir aumentando e melhorando a lista de sugestões.

Veja lá que coisa bonita →

A lista de top 10 é um bom jeito de começar →

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Antes de seguir, queria fazer um parênteses para sugerir especialmente o filme The Act of Killing. Soube dele pela indicação do professor Alan Wallace durante a formação do programa Cultivating Emotional Balance, no ano passado, e foi uma das obras mais impactantes e inteligentes que vi até hoje – é de não acreditar que eles conseguiram realmente fazer isso… O Eduardo Fernandes escreveu lindamente sobre o documentário aqui.

O que é mesmo empatia?

Empatia é basicamente a aptidão para se colocar no lugar do outro e ver o mundo a partir da sua perspectiva – emocional, psicológica, cultural, social. Três pontos importantes sobre ela:

1. A capacidade empática é um dos componentes fundamentais para termos um bom equilíbrio de conação – dos processos mentais de formação da vontade e da intenção, e, por consequência, das nossas noções de ética e moralidade. Ou seja, a própria base a partir da qual nos colocamos no mundo, nos relacionamos com as outras pessoas, com as dinâmicas sociais, o trabalho, as finanças, a educação, os conhecimentos, e mesmo com os animais, o ambiente e os recursos naturais. De forma mais simples: se temos bom nível de empatia, as nossas vontades são naturalmente mais condizentes com nossa aspiração por uma vida satisfatória, com um bom sentido e boas relações.

Leia também  Você gostaria de se manter num relacionamento com uma pessoa assim?

2. Raramente se encontra tal distinção em discursos sobre empatia ou sobre compaixão, mas a atitude empática é diferente da atitude compassiva. Sempre que surge compaixão, há empatia como base, mas é possível existir muita empatia e quase nada de compaixão, ou seja, quase nenhuma confiança na capacidade do outro em superar aquela condição de sofrimento (e com isso uma desistência, uma ausência de meios hábeis para agir).

3. A empatia pode ser aprendida, e um bom jeito de começar é justamente se dispor a olhar com abertura e curiosidade atenta para o mundo dos outros, entendê-los por dentro. Seja através da arte, dos filmes, dos livros, seja usando métodos de educação e treinamento, seja no contato direto com as pessoas no nosso dia a dia.

o lugar

Mesmo que a gente veja sentido nisso e tenha vontade de aprender mais sobre empatia, compaixão, equilíbrio de atenção e bom ânimo, aprender sobre nossos viéses cognitivos, formação e transformação de hábitos, cultivar relações mais saudáveis, às vezes pode não ser tão fácil de começar. Talvez o ambiente não ajude muito, as pessoas ao redor não pareçam dispostas, às vezes não sentimos que temos tempo, energia, direcionamento, condições favoráveis, ou talvez apenas nos sintamos sozinhos, enfim.

O motivo central de trabalharmos para sustentar o lugar é justamente esse: juntar pessoas dispostas num ambiente favorável para o encontro e para as conversas, e então lidar com modos práticos de fazer esses aprendizados.

Foto do último encontro do lugar, com a Carolina Bernardes, sobre como viajar e viver sem dinheiro (o áudio na íntegra já está disponível dentro do lugar)
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Se voce já participa do lugar, várias das práticas, artigos e conversas no fórum estão ligados ao aprendizado da empatia, mas um jeito bem direto de começar é com esta sugestão de experiência prática →

Se você tem vontade de conhecer e participar deste experimento coletivo de transformação com gente de todo canto do Brasil (e também do exterior), é só vir por aqui →

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Fábio Rodrigues

<a>Artista visual</a>