O museu do Louvre, o Arco do Triunfo, a Catedral de Notre Dame. Ah, a Torre Eiffel, claro. “Não podia faltar, né”, pensou enquanto enumerava mentalmente os pontos turísticos que, em um outro momento lá do passado, tinha combinado de visitar com ele. Era o lugar que ela mais queria conhecer no mundo todinho. Mas, nas fotografias que olhava, era ele e outra pessoa. Ela, de casa, somente acompanhando a viagem pelas fotos publicadas.
Ele sorrindo e a garota que agora era sua companheira também. Seguiu, mais uma vez, a linha de raciocínio que sempre se instalava em sua atenção quando lembrava deles dois. Depois que terminaram, ele começou a sair com outra pessoa. Outra menina também ruiva, como ela. Notou que ela tinha os olhinhos pequenininhos como os dela, que se fechavam quando sorria. Usava um par de óculos parecidos com os que ela usava. Tinham movimentos semelhantes, diziam, quase o clone uma da outra, uma espécie de segunda tentativa. Só o jeito que se conheceram que era bem diferente.
Com ela, foi pelo Tinder. Depois de sair de uma relação de doze anos, uma amiga tomou o celular da mão dela e baixou o aplicativo. Se encontraram em um café e o beijo foi fulminante. No carro. Tão poderoso que mesmo ela comentando que viajaria para um doutorado de anos no Canadá, ele soltou que aceitaria namorar à distância. Isso foi numa terça. Na quinta, se encontraram de novo. E no sábado daquela mesma semana. E no Domingo também. Na semana seguinte, quatro dos sete dias eles ficaram juntos. E na outra também. Ela chegou a cogitar um afastamento, para que não doesse tanto quando fosse viajar de vez, mas não conseguiram. Tinham criado já uma rotina muito atenciosa, no dia a dia e na cama. Ela o considerava jeitoso, cuidador. Cansavam-se bem, quase uma disputa. Faziam exercícios a madrugada toda. Ela gostava de mostrar novos dotes e receber elogios por isso. Então, se era para não sofrer, ela decidiu cancelar seus estudos fora e, com cinco meses se vendo, ela foi morar na casa dele. Coladinhos. Até porque, tratava-se de uma kitnet, então tinham sempre a companhia um do outro. Sempre juntos. Montando planos. Compraram um cão juntos, conversaram sobre a possibilidade de ter um filho. Juntos. Unidos.
Até o dia em que ele chegou dizendo que queria ter uma banda. E depois, que achava melhor ela não o acompanhar nas apresentações. E desistiu de engravidá-la. E de tentar fazer com que ela se sentisse bem. Acolhida. O distanciamentos. O fim.
E ela, em casa, vendo as fotos dele com a nova namorada. Ruiva como ela. Delicada como ela. Estudiosa como ela. Só que, com essa outra, ele resolveu ter um filho. Aquele que ele não queria mais. Se conheceram em um show dele. Local onde a outra sempre ia. Em todas as apresentações que ela não "podia" ir. E foram para Paris. Era o lugar que ela mais queria conhecer no mundo todinho. Mas não era ela quem estava lá. Parece que ele estava tentando viver a vida que era para eles dois viverem, só que com outra pessoa. Sempre batia, quando chegava nessa conclusão, uma ponta de inveja. Mas, rapidamente, se cercava de lembranças do processo. Do tanto que se anulou para que a convivência desse certo, de como cedeu a tudo, os pedidos, as pressões, as condições. Lembrou que ele sacou rapidamente que podia sempre botá-la contra a parede que ela cederia. Nunca diria não.
E então se sentiu bem. Em paz por não estar vivendo mais aquela vida. Contente por não estar naquelas fotos, naquele recorte. Nem no lugar dela, da outra ruiva, e menos ainda no lugar dele. Imaginou que deveria ser triste aquele continuar. Achou triste ele tentar viver uma história que, na real, já nem existia mais.
Ficou aliviada que estava livre. E foi dormir. Muito bem, por sinal.
Amor que a gente sente pela gente.
Esta é uma história real! Quer que eu escreva a sua?
O conto de hoje foi baseado em uma conversa real. Foi feita uma entrevista, encontramos a história ideal e eu a escrevi!
Conheçam o Cartas de Amor:
“Quem precisa de ficção quando se tem a realidade?”. A gente brinca, no jornalismo, que as invenções da literatura nunca alcançarão a loucura que é a vida real. A gente cria, fantasia e dissimula, mas a realidade, as histórias de fato vividas, dão de dez a zero.
E é isso que eu quero fazer. Puxar as coisas que aconteceram na sua vida para transformá-las em história. Eu vou te dar uma versão única e exclusiva de algum fato importante e gostoso da sua vida, a visão de escritor que você quer dar a um pedacinho da sua vida.
O Cartas de Amor é um projeto que sai do coração. Do olhar, ver e reparar. A gente vai se colocar nesta posição mais atenta para falar de forma genuína, para ouvir mais disponível. Vamos encontrar a faísca e fazer disso, fogo.
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