"Acho que é melhor a gente conversar". Sabia que a mensagem o deixaria apreensivo, mas era necessária a atitude enérgica até para não cair na tentação de deixar tudo para lá mais uma vez. Marcou no bar que ficava perto da faculdade dele e ficou esperando o final da aula.
Tinha uma relação amigável com o outono, agradecia o solzinho bom da tarde e obedecia ao tratado de carregar consigo algo para se vestir melhor na noite mais gelada. Sentou-se com seu vestido azul-marinho e usando uma meia calça preta e grossa. Pediu um choconhaque para esquentar e um maço de cigarros para lhe fazer companhia até as onze. Com a fumaça no peito e a garganta quente da bebida, pôs-se a rever os motivos do encontro às pressas. Em seu Facebook, encontrou novamente as três fotos dela que ele tinha dado like, feito algum comentário de entendimento dúbio, provavelmente despercebido pela maioria das pessoas, mas de completo entendimento para ela, para ele e para a dona das fotos também. Nenhum dos três era bobo.
Não dava mais para sustentar aquele tipo de situação, tentar equilibrar nos dedos de jornalista iniciante, além da responsabilidade ao escrever, a estrutura recém montada às pressas de um relacionamento já com esse caráter de segundas intenções sendo armadas, o que não seria um problema, ela gostava de ter sua liberdade também, mas não dita. O silêncio era o que lhe incomodava. Mais do que isso, lhe azedava o desejo por conta da terceirização do sentimento.
Era isso que precisava ser dito. Na terceira bituca apagada, ele apareceu. Ela acendeu outro cigarro para não falar tudo sozinha. Queria apoio.
"Estou parando de ficar com você nesse exato instante". As palavras saíram junto com a fumaça do peito enquanto ela teimava em bater a cinza ainda curta no copinho vazio de choconhaque. Ele pediu uma cerveja e mais um conhaque pra ela. Não disse nada para retrucá-la. Deixou o espaço para que ela pudesse pensar e dizer o que queria da melhor forma. E foi assim que ela foi colocando em cena o que era pra ser secreto, mas não era mais segredo pra ninguém. "Você ainda tá afim da sua ex, gato. Tesão, aproveitar a companhia, tudo isso eu sinto em ti quando tá comigo, mas arrastar caminhão tu ainda tá arrastando é por ela". Ele não negou. Ela prosseguiu. "E o foda é que eu tô adorando ver isso. Tu tá caidinho na dela e ela ainda pira em você, cara. Estou vendo dois tontos se segurando sei lá porque e, mais tonta, fico eu que tô no meio empatando o que vocês ainda precisam viver juntos".
Ela estava certa. Três dias depois, sentada em num café com a convicção na cabeça de que havia parado de fumar (voltaria meses depois, quando soube que ia ser tia), ela viu a atualização do status deles dois. Nos comentários, ele agradecia secretamente à ela pela ajuda, provavelmente de forma despercebida pela maioria das pessoas, mas com entendimento completo da parte dela, dele e a namorada dele também. E ela tava feliz com isso. E eles também.
Nenhum dos três era bobo.
Bobo é o amor.
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