"Ô, casal bonito". Foi o primeiro pensamento que veio na cabeça dele quando achou a fotografia. Ele mesmo tirou a foto dos dois, em um bar anos antes. Luz avermelhada, os dois de jaqueta de couro, ele usando os cabelos para trás, presos com uma pasta, e ela com um corte na altura dos ombros, os cabelos bem pretos e soltos. Estavam prestes a se beijar e ele pegou bem ela com a boca aberta e ele fechando os olhos. Os dois estavam sorrindo, como se fossem se beijar para selar alguma piada que fizeram juntos.

Era um momento íntimo e gostoso dos dois. 

E um baita casal. Enquanto olhava para a imagem dos dois,  cara que tirou a foto foi rememorando quando eles se conheceram, ele tocando e ela cantando cada refrão lá da plateia, uma fã incondicional da banda deles. Ela cantava tão alto e tão bem que ele desceu depois da apresentação pra agradecê-la pela energia, pela força. Eles se pegaram naquela mesma noite e não se largaram mais. Passaram a se ver sempre, a compor juntos. Gravaram umas coisas a duas vozes, ela seguia com o projeto dela e ele com a banda dele. Em questão de meses foram morar juntos no apartamento dela, que era maior.

E viraram os namoradinhos da turma. O resultado a ser alcançado de quem tava próximo deles, encontrar alguém que faça suspirar e rir, que tenha a ver, que use a mesma jaqueta de couro. Não tinha como não gostar de olhar a presença deles, a química, o quão doces eram um do lado do outro, o tanto de labaredas que ficava quando estavam se apertando, enfiados no mundinho deles, aquela hora que precede a despedida dos dois, saindo meio à francesa, meio com pressa de matar aquilo que tava começando a matar os dois, sabe bem?

Imagina, então, a bomba que foi quando ele botou a foto dos dois no Instagram e marcou, de propósito, ele no rosto dela e ela no rosto dele, fazendo a brincadeira de que um era o outro e o outro, claro, era o um. De tanto que combinava, De tanto que dava certo. De tão misturados que já tava. E recebeu a mensagem, nem cinco minutos depois, de um amigo do casal, falando que eles não estavam mais juntos.

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"Terminaram faz dois dias, no máximo". Ele não quis me dizer os motivos, não", completou em outra mensagem.

Seu mundo caindo. O de tanta gente. A realidade desmoronando. "Se aqueles dois, lindos que só, maravilhosos juntos, de errado, imagina o resto de nós todos?". A fotografia lá. Ele marcado no rosto dela. Ela marcada na cara dele. cada um por si, agora. Não mais como naquela foto. Como naqueles dias.

Não tem narrativa na nossa cabeça que se sustente no mundo real.

É isso que faz doer o amor.

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Jader Pires

É escritor e colunista do Papo de Homem. Escreve, a cada quinze dias, a coluna <a>Do Amor</a>. Tem dois livros publicados