Ele veio já arrumado do quarto, já fechando os botões da camisa de flanela. Ela, nua e sentada no sofá, observava seus movimentos se dirigindo à cozinha, voltando para pegar as chaves e carteira enquanto o rosto seguia sempre iluminado pela tela do celular. Estava pronto para ir ao bar com dois amigos, saidinha já combinada desde mais cedo. Um esforço mútuo marcou o beijo de despedida, ele se abaixando levemente enquanto ela se esticava para cima até os lábios se tocarem. Trocaram sorrisos e ele partiu. Ela pediu para ele ficar com Deus.
O silêncio na casa. Olhou em volta, reparou em alguns móveis. Imutáveis. Estáticos. Aproveitou o conforto de estar só para notar a própria respiração. Relaxou os ombros, mexeu nos cabelos. O barulho do celular acabou por atrapalhar sua concentração. Ou melhor, sua dispersão. Arrumou-se no sofá para ler a mensagem que havia chegado. Rapidamente botou os polegares sobre a tela e respondeu sem se demorar muito. Foi para o quarto com a cara quente e reparou que seu corpo estava, não mais leve, mas parecia ter as juntas mais lubrificadas, como se tudo funcionasse perfeitamente, da potência ao se levantar até os impulsos leves que dava caminhando até o guarda-roupas. Pinçou no armário as peças exatas que usaria, pelo simples fato de já saber exatamente como queria se apresentar quando acontecesse. Já tinha pensado neste dia antes. Pegou as chaves do carro e desceu mandando novas mensagens para saber exatamente o endereço do local e qual direção tomaria para chegar lá. E foi direto para o motel.
Estacionou bem atrás do carro que já estava parado no apartamento que lhe fora passado. Era só subir e entrar. A porta estaria aberta. Estava com o colo à mostra e usando um jeans apertadinho. Seus ombros estavam gelados quando sentiu as mãos dele no abraço, um daqueles demorados em que a conversa começa antes mesmo de sair dele: “Que bom que você tá aqui!”, ela começou. “Veio quando?”. A voz dele passava pelos cabelos dela enquanto se cheiravam e foi contanto estar na cidade desde o dia anterior, em que fez reuniões e passou por um jantar de negócios também, que foi dormir cedo, e que havia acordado já com a ideia de tentar contatá-la. Disse também que estava feliz, que tinha tido, afinal, sorte. “E teve mesmo”, ela confessou com as mãos no peito dele, um passo mais afastada para poder reparar nele melhor. “Foi um belo timing. Hoje ele foi sair com amigos e está tudo bem propício mesmo pra gente se ver”. Puxou-o mais para perto e iniciaram, assim, o ritual. O beijo, barulhento e se misturando com a quietude do quarto alugado. As pernas querendo ficar moles, os pequenos comandos dele com o corpo, fazendo peso, colocando o joelho entre as coxas. O corpo disparando choques, pescoço, quadris.
Pediu para ir ao banheiro, voltou rápido e sem roupa. Pediu para ficar em cima dele. Brincaram. Se animaram e, novamente, aquela sensação azeitada, toda embebida na vontade. Lá pelas tantas, ela pediu com a voz baixa seu celular que estava na cabeceira, no canto esquerdo. Destravou-o, mexeu em alguma coisa enquanto dava uma risadinha e pediu encarecidamente para ele tirar uma foto. Saiu da cama e ajoelhada, deu seu melhor. Pediu para ver as fotos e solicitou, também, que fosse gravado um vídeo. Assim. Dedicada. Tomou o aparelho para si mais uma vez, nessa hora já com as descargas arrepiando seu corpo todo. Pediu para ele pôr de volta o celular onde estava no início e retomaram de onde haviam parado, agora sem outras intervenções. Fizeram o que queriam um com o outro.
Trocaram sujeiras. Divertiram-se à beça.
Já deitados, recuperando os movimentos aos poucos depois do excesso de uso recente, ele comentou que, dessa vez, foi com vontade. Ambos dão risada, concordando com a afirmação. E passou a contar com mais detalhes do porque foi à cidade naquela semana, das coisas que tinha para fazer do trabalho. Se encostaram, ele perguntou dela. Olhando para o espelho no teto, ela comentou que poderiam ter feito um vídeo assim, com a câmera apontando para o reflexo dos dois, pegando ambos fazendo. Depois retornou à conversa falando do cansaço do curso que estava fazendo. Também disse coisas sobre o namorado, de como tudo está bem entre eles, de como o ama.
Ele a escutava com atenção, os olhos percorrendo detalhes dela enquanto falava. Lembrou-se de uma história dos dois da outra viagem que fez, o que ligou ao novo assunto de falar da dificuldade de manter um relacionamento quando se viaja demais, da vontade que ele tinha de ter algo assim, gostoso como o que ela tinha. Colados, ficou mais fácil de ela o puxar para um beijo. E recomeçaram. Tudo de novo. Trombadas e beliscões, dessa vez com mais peso, uma intensidade acima. Barulhos e gargalhadas. Mais uma vez ela se esticou até o aparelho no canto e pediu para fazer mais uma filmagem, dessa vez de costas. Vulnerável. Assistiu ao resultado e parecia que, se desligasse a iluminação da tela, seu rosto seguiria iluminado. Estava em êxtase. E finalmente esqueceu dele mais um pouco para se divertir. Foram até o fim.
Voltou para casa em velocidade reduzida. Estava exausta. Tomou um banho assim que chegou, não sem antes ter certeza de que havia colocado a roupa cheirando a putaria no fundo do cesto. Deixou a água cair, se enxugou meio desleixada e deixou uma gota ou outra ficar pelas costas, na barriga. Seguiu para o sofá, nua novamente, como estava antes e tudo. Sentou-se no mesmo lugar. No silêncio. E achou uma delícia. A atenção só nela mesma. No escuro, o celular chamou-a e, lá, havia quatro mensagens não lidas. Todas do namorado. Estava avisando que ainda ficaria mais um tempo no bar, mas que queria vê-la no dia seguinte, logo pela manhã. Aceitou. Disse que ele poderia aparecer a hora que achasse melhor.
Estranhou bastante quando ele chegou, cedo, porque bateu na porta ao invés de simplesmente entrar. Passou meio apressado e dizendo que havia perdido as chaves. Tinha na cara umas rugas, como se não estivesse gostando de ser quem era. Confirmou, ao perguntar para ele, ser a ressaca a culpada pelo desgosto na feição. Ainda de pé, ele tirou o celular do bolso e pediu para ela abrir. Virou-o na direção em que os dois pudessem visualizar ao mesmo tempo e abriu o arquivo de vídeo que continha o sexo que ela fez na noite anterior. Os sexos. Diversos vídeos. Flashes chegavam como rajadas na mente dela. Lembranças, os sons, os óleos. Ela mordeu a boca e sentiu, mais uma vez, o corpo em perfeitas condições de uso, todo conectado. Atento. Aceso. Escutavam os pedidos que saíam pelo falante, o rosto dela, a entrega, a luz. Tudo lá. Ela olhando. Ele olhando. Depois, o silêncio. A calmaria. A sala parecendo ter a dimensão de um salão nobre, quase ecoando, quase longe demais.
Ela levantou a cabeça e sua figura já demonstrava escárnio, uma certeza de que havia sido levada. E perguntou se ele tinha gostado. O homem, parado de frente para ela, rapidamente respondeu que havia adorado. O beijo que trocaram estava molhado, como eles dois. Sentaram-se agarradinhos no sofá, ele deitado na barriga dela, como sempre gostou de fazer. Passou os minutos que se seguiram perguntando se tinha sido gostoso, se o cara era mesmo legal. Pediu pormenores da noite, detalhes sórdidos que ele achava delicioso. Tinha uma curiosidade genuína de saber como ela se sentia naqueles momentos, quando se afastava do telefone para aproveitar o que tinha à disposição. Ela contava e os dois iam sentindo uma febre tropical dentro deles. Ela agradeceu pelas fotografias e vídeos que ele também mandou, do banheiro do bar, completamente participativo e diligente, com tudo bem em cima. Perguntou se ela obedeceu direitinho aos comandos dele e ele soltou que ela fora exemplar, que era daquele jeitinho que ele queria vê-la. E repetiram a audiência dos vídeos, os que ela mandou e os que ele retribuiu. Passaram mais uns minutos colados e no silêncio, ouvindo a atenção um do outro. Aconchegados. Tranquilos.
Ela o puxou pela mão e foi levando-o para o quarto. “Tem uma coisa que eu aprendi ontem. Quero te mostrar”. Ele se deixou guiar, todo interessado.
Esta é uma história real! Quer que eu escreva a sua?
O conto de hoje foi baseado em uma conversa real. Foi feita uma entrevista, encontramos a história ideal e eu a escrevi!
Conheçam o Cartas de Amor:
“Quem precisa de ficção quando se tem a realidade?”. A gente brinca, no jornalismo, que as invenções da literatura nunca alcançarão a loucura que é a vida real. A gente cria, fantasia e dissimula, mas a realidade, as histórias de fato vividas, dão de dez a zero.
E é isso que eu quero fazer. Puxar as coisas que aconteceram na sua vida para transformá-las em história. Eu vou te dar uma versão única e exclusiva de algum fato importante e gostoso da sua vida, a visão de escritor que você quer dar a um pedacinho da sua vida.
O Cartas de Amor é um projeto que sai do coração. Do olhar, ver e reparar. A gente vai se colocar nesta posição mais atenta para falar de forma genuína, para ouvir mais disponível. Vamos encontrar a faísca e fazer disso, fogo.
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