Cansei. Hora de recomeçar, mudar, fazer e refazer. Repensar.
Foi assim, num clique em um belo dia na volta de uma breve conversa com meu chefe. Ex-chefe, digo. Foi um clique mais que óbvio, mas coisas evidentes sobre nós mesmos não são tão fáceis de enxergar.
Eu não gostava daquele emprego. Mas não podia largar. Tinha de pagar as contas e, talvez, assumir um status ou simplesmente atender as expectativas que os outros tinham em mim e, nessa brincadeira, passei dois anos me anulando e desperdiçando energia demais em coisas que não me acrescentavam nada, muito pelo contrário, apenas me desgastavam.
Culpa de uma grande dívida que nasceu nesta insanidade. Um apartamento.
E olha, caro amigo, pagar um imóvel com salário de assistente significa abdicar-se de quase tudo: não sair, freelar de madrugada e se virar com o que tem. No fim, tudo deu certo. Foi uma boa poupança que me rendeu uma grande viagem, mas com uma execução errada. Poderia ter tido disciplina e guardar essa grana de qualquer forma e sem tanto sofrimento.
Tentando ser positivo — não vou reclamar de tudo –, durante dois anos você conhece muita gente e as pessoas são, muito provavelmente, a máxima da vida. Um dos responsáveis pelo tal estalo foi o Fernando, um amigo com quem eu almoçava todos os dias. Nesse tempo, conversávamos muito sobre a vida e sobre o tempo que perdíamos ali e como não chegaríamos a lugar algum.
Entretanto, tínhamos um assunto predileto: viagens.
O cara viajou muito e despertou em mim esse antigo sonho. Conhecer lugares, gente, passar perrengue, ter histórias para contar. Comecei cada vez mais me sentir acorrentado, enquanto a vida acontecia do outro lado do vidro a prova de som e longe do ar condicionado.
Após me estabilizar, vender meus metros quadrados e ver que poderia seguir minha vida, pedi demissão e segui os passos de Amyr Klink:
“Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor.
E o oposto.
Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser.
Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver.”
Fui lá, “simplesmente ir ver”.
Viajei por três meses pela Europa, acompanhado da minha câmera e com uma mochila cheia de sonhos. Essa viagem era a marca da minha mudança. A libertação total da insanidade de seguir padrões e regras que não me cabiam.
Pouco antes de partir, uma revista interessante caiu em minhas mãos, um exemplar da Você S/A (Edição 168) que dizia “Adeus, trabalho chato”.
Eu e um outro amigo falávamos sobre o assunto quando a vimos. Parecia sorrir para a gente. Levantamos e compramos, uma cada um. Além de “teoricamente ensinar” a como mudar de vida, ela trazia alguns exemplos, mas um grupo de cinco caras me chamou a atenção.
“[…] Quatro trabalharam no setor financeiro e um no setor de tecnologia. Todos vinham tendo início de carreira promissor. No entanto, começaram a achar que os bons salários e os pacotes de benefícios não compensavam o cotidiano pesado. ‘Passamos a nos questionar se o que fazíamos era o que realmente queríamos da nossa vida.
[…]
Não queremos chegar à velhice e perceber que nos arrependemos de não ter feito coisas das quais tínhamos vontade.”
No fim das contas, fizeram uma expedição (Expedição 4×1) saindo de São Paulo em direção ao Alasca. No caminho, gravariam dois documentários: um deles com idosos, para saber do que se arrependem ou o que teriam feito de diferente na vida.
Aí me pegou.
Decidi produzir algo relevante durante minha própria expedição, uma vez que conheceria tanta gente, de tantos lugares e culturas diferentes.
Nasceu o If I Could
Não coloquei nada no papel. Estava tudo na minha cabeça: como faria, como filmaria e como seria a edição.
Pegava pessoas andando nas ruas, relaxando em parques ou, então, gente que conheci durante a viagem. Abordava-as e explicava rapidamente: “estou fazendo um filme, é apenas uma pergunta, quer participar?”.
Queria pegar a reação da pessoa já filmando. A maioria topou.
A intenção do filme é fazer as pessoas questionarem a própria vida, gerar uma reflexão, ainda que breve, sobre o que cada um anda deixando de lado, sobre o real valor daquilo que seguem priorizando.
Dentre tantas pequenas histórias de cada um, você pode se identificar com uma ou apenas perguntar a si. Cada um tem sua própria história, desafios e momentos com relação ao próprio trabalho, hábitos, relacionamentos… a vida. Há algumas coisas que a gente não tem poder de mudar, mas para todas as outras existe uma boa desculpa para não ser feita também.
Então, lhe pergunto: se você pudesse mudar alguma coisa na sua vida, o que seria?
E por que não começa já?
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