Volta e meia me pego com medo de dizer o que penso. Tenho medo de falar algo que me comprometa e acabe trazendo alguma consequência bizarra, como criança que pergunta se o cabelo da tia é peruca, sabe?

Todo mundo já experimentou um pouco disso. Seja naquele jantar de família que acabou falando algo e foi ignorado, pelo bem da convivência familiar, ou, talvez, aquela vez que você questionou as intenções do professor com aquela tarefa indesejada e depois foi posto em suspensão.

No mundo profissional, muitas vezes somos considerados chatos se não deixamos passar aquela ideia que, claramente, todo mundo está super empolgado, mas que você sabe que vai dar errado lá na frente.

Desde muito cedo descobrimos que, se abrirmos a boca pra falar a coisa errada na hora errada, as consequências podem ser nefastas.

A gente vê como as pessoas olham quando desempenhamos esse papel. Ninguém quer ser essa pessoa, afinal… ninguém gosta dessa pessoa.

Às vezes, além do medo de sermos repreendidos e perdermos algo importante, ficamos com medo de falar sobre o que temos de mais íntimo e verdadeiro por que nos achamos esquisitos, nos sentimos expostos, ridicularizados, quando as pessoas descobrem a verdade sobre nós.

Mas, assim como nos relacionamentos, muitas vezes, o que temos mais medo de dizer, é justamente a coisa mais importante a ser dita.

Não importa se é algo bobo como o sentimento gostoso de ter visto um catavento colorido ou a mesma velha decepção por amor.

Ainda que todos sejamos tão comuns, perfeitamente redutíveis em palavras ou pixels no nível macro, é impossível que duas pessoas tenham vivenciado e filtrado os mesmos fatos da mesma exata maneira.

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Ninguém vai ser capaz de enxergar cores, sentir cheiros ou arrepios da mesma forma que você.

Uma pessoa, além de um bicho, no sentido material da coisa, é também um acervo extremamente raro, único, de referências afetivas e memórias sensoriais.

Mas o que acontece quando as fotos da última viagem, da última festa ou da última reunião de amigos já não são suficientes? Quando a gente cansa de falar sobre os mesmos velhos dramas de amor, crises de identidade, dores no corpo, doenças e resfriados, o que fazemos? Do que falamos quando cansamos de divulgar os mesmos gifs de cachorros e beijos de língua em preto e branco? O que fica depois que desistimos de procurar aprovação? O que sobra quando cansamos de ter medo?

As pessoas sabem como fazer a gente se colocar no nosso lugarzinho silencioso, que não vai incomodar. Talvez, nunca deixe de ser dessa forma. Pode ser que nunca fique mais fácil ou menos perigoso falar o que não está sendo dito.

Ainda assim, se você está procurando falar algo importante, é essencial aprender a cavar mais fundo, em busca das coisas secretas que você tem a dizer.

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Notapubliquei esse texto no meu Medium. A partir de agora, a ideia é seguir publicando por lá insights sobre criação e outros assuntos relacionados toda terça. Aqui no PdH vou publicar os melhores às quartas, de duas em duas semanas. E nas outras quartas, sai Eu Ouvi Pra Você. Então, agora que você sabe meu calendário de publicação, é só acompanhar. 😉

Luciano Ribeiro

Cantor, guitarrista, compositor e editor do PapodeHomem nas horas vagas. Você pode assistir no <a>Youtube</a>