Em 2016 escutamos mais de 20.000 pessoas em uma das maiores pesquisas envolvendo masculinidade no país. Foi uma pesquisa online de validade nacional, em parceria com a ONU Mulheres e os experts da Zooma. Amostragem de 18 a 60 anos, todas as regiões, classes, cores de pele, orientações sexuais e religiões.

O documentário resultante do estudo está aqui e o relatório completo, aqui.

Um dos dados mais marcantes que encontramos foi: 5 em cada 10 homens gostaria de se expressar de modo menos duro ou agressivo, em alguma medida, mas não sabem como.

Fonte: Pesquisa "Precisamos falar com os homens?" ONU Mulheres + PapodeHomem (2016)

Considerando que há 98 milhões de homens no Brasil, podemos estimar, numa conta de padaria, que uns 44 milhões enfrentem questões com a maneira dura e agressiva como se comunicam, em alguma medida.

Escuto casos reais de homens lidando com esse obstáculo em inúmeras as palestras e rodas de conversa que conduzo pelo país (foram mais de 50 nos últimos dois anos). Então esse número não me parece fantasioso.

Agora acabei de ler uma matéria no contexto das finais da NBA desse ano, que estou acompanhando:

Sugiro que leia tudo por lá antes de seguir aqui.

Draymond Green é um dos astros do favorito Golden State Warriors, campeão da NBA em três dos últimos quatro anos. Green é um gigante na defesa e também está no top 3 de jogadores mais indisciplinados dos últimos quatro anos, no ranking de faltas técnicas. Em suas palavras:

"Às vezes não sou racional. Aí levo uma falta técnica, e isso mata a energia da nossa equipe. Eu realmente venho me concentrando nessa situação e percebi que cheguei num ponto em que estava mais de 'mimimi' do que jogando.

Tenho certeza de que era nojento assistir isso, porque passei a me sentir nojento jogando desse jeito."

Recentemente ele recebeu um conselho da mãe e da esposa (aposto meu mindinho que elas na verdade já devem ter dado esse conselho muitas vezes): "se manifestar menos, especialmente em relação aos árbitros." A revelação foi feita em entrevista ao The New York Times, em maio.

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Nos casos que escuto nas rodas, esse é um cenário comum. O homem agindo como um brutamontes sem se dar conta disso. E incontáveis vezes sendo ajudado pela mãe ou parceira (que acaba fazendo papel de mãe, já que muitos homens se recusam a buscar ajuda, assumir falhas ou ir a um psicólogo).

No passado, já fui esse homem agressivo, rígido, que não escuta a namorada e se recusa a buscar ajuda. Hoje sinto que consigo direcionar minha energia com firmeza e assertividade, o que em si valeria outro texto e outra conversa, já que não podemos cair no extremo de sair por aí indefesos, passivos diante da vida. Escrevi esse brevíssimo texto apenas pra que você não precise cometer o mesmo erro.

Green em quadra, reclamando e tomando mais uma falta. Pensando em sua vida, a carapuça dessa foto já te serviu? 😉

Quem de vocês já foi como Draymond Green e como eu, um homem incapaz de lidar com a própria raiva e agressividade? Quem está em outro momento e poderia compartilhar como fez para atravessar isso? 

Guilherme Nascimento Valadares

Fundador do PDH e diretor de pesquisa no Instituo PDH.