Saio de casa às 8 da manhã. Desço até o subsolo, abro a porta do carro, que me leva onde quero ir, mesmo eu não tendo a menor ideia de como um motor funciona. No caminho para o trabalho, paro na padaria. Como se fosse mágica, antes que eu tivesse que me preocupar em fazer uma massa de ovo e farinha, um pão com manteiga surge na minha frente.
Saio da padaria e dirijo. No caminho, parado no farol, um rapaz limpa o vidro. Na empresa, encaro uma lista de problemas que não eram meus, mas que agora são. Dispenso, em função deles, uma atenção que poderia ser dada aos meus amigos, a minha família ou a qualquer hobbie que eu por acaso queira. A noite me encontro com alguns amigos em um bar. Levanto a mão e um garçom vem até mim. Digo o que quero e em poucos minutos tenho um belo prato na minha frente. Volto para casa, vejo um seriado. Na TV, pessoas bonitas fingem ser outras pessoas. Decoram falas, encenam e eu dou risada. Poucos minutos depois, durmo.
Este foi meu dia.
Foi como se eu tivesse um pó mágico no bolso. Um pó poderoso. Com ele, fiz com que um cara saísse de casa, assasse alguns pães, cortasse, passasse manteiga e me servisse. Mobilizei centenas de operários, para que juntassem parafusos e pedaços de metal em um fábrica abafada e construíssem um carro para mim. À noite, me fiz de rei e fui servido como tal. Era só levantar a mão. Por fim, pessoas encenavam fatos engraçados na minha frente, me faziam rir. Montes de energia movidos a meu favor.
Esse artefato mágico existe. Chama-se dinheiro.
Propósito (queremos dinheiro, é isso?)
"Queremos vocês ocupando altos cargos gerenciais, que nos convidem para a inauguração das filiais das multinacionais que estão dirigindo, que se sintam pessoas completas, preenchidas e satisfeitas."
Lembro da coordenadora do colégio em que estudei dizendo algo parecido com isso, tentando nos motivar para uma turbulenta maratona de vestibulares. Aquilo fazia muito sentido. Era aquilo que queríamos, naquela época e hoje. Uma vida repleta de prazeres, uma conta bancária entupida de dinheiro, um carro extremamente caro e uma carreira de sucesso. Queremos escolher roupas sem olhar o preço, escolher destinos sem cotar passagens e ter uma TV que ocupe a parede da sala inteira. Mentira.
Queremos ser felizes. Por um lapso, acidente, personalidade, criação, contexto ou panorama mental, acreditamos que o faremos bem vestidos, assistindo TV numa tela imensa, com uma viagem para uma ilha paradisíaca marcada.
Link YouTube | É exatamente isso que a gente quer. Casa (grande), comida (farta) e roupa (cara) lavada. Além de carro, mulher, fama, ouro e uma cama gigantesca
Queremos algo que não tem preço, uma sensação de preenchimento, de ausência de ausência. Com a busca frustrada, vamos nos virando sobre esse buraco, desejando mais, sonhando com o próximo degrau, com o próximo aumento, em criar uma empresa, em ter tempo de sobra para ler, assistir filmes e fazer churrasco. Tentamos materializar nossa felicidade, racionalizá-la, para que nossa busca por uma receita finalmente termine.
Pense na sua carreira até aqui. No seu primeiro trabalho e no quanto você recebia para fazê-lo. Em algum momento, o seguinte pensamento deve ter passado pela sua cabeça:
"Quando eu receber X mil reais por mês, aí sim. Aí sim eu vou ter grana para realizar meus sonhos, levar uma vida boa e parar com essa correria desenfreada."
E esse salário chegou. Mas o relaxamento e a sensação de realização não vieram junto com o novo holerite. Seus sonhos mudaram, seu padrão de vida mudou. Agora você quer um carro melhor, apartamento maior, mais viagens. E a vida segue.
Enxergar nossa ambição como materialismo vazio é uma visão bem limitadora. É possível expandir mais.
O dinheiro como treinamento
Em posse de uma visão menos turva, o dinheiro passa a ser um meio extremamente hábil, uma plataforma para a realização de projetos e sonhos. É como se ele servisse de corrimão, de apoio para que cada setor caminhe melhor.
Praticamos esportes para mantermos nosso corpo em forma, consumimos cultura e nos relacionamos para mantermos uma mente sadia, nada mais justo do que administrar bem o que temos no bolso para potencializar nossas relações, viabilizar nossos projetos e impulsionar nossas vidas na direção desejada.
Tão importante quanto a ação é a motivação que faz com que o ímpeto surja. É necessário descontruir a visão padrão, para que algo melhor ganhe espaço:
"Você pode fazer um chá e apenas fazer um chá, escrever um texto e apenas escrever um texto, dar uma palestra e apenas dar uma palestra, limpar sua casa e apenas limpar sua casa. Ou pode aproveitar cada ação para se engajar em algum treinamento, para desenvolver qualidades corporais e mentais que serão utilizadas em muitos outros contextos."
Autor do livro Dinheiro Sem Medo. Se interessa por nossa relação com o dinheiro e busca entender como a inteligência financeira pode ser utilizada para transformar nossas vidas. Além dos projetos relacionados à finanças
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