Talvez a maior notícia da semana no mundo da música é a de que os filhos dos Beatles estariam estudando a possibilidade de formar uma banda.

O problema é que ela surgiria como a pior banda do mundo. Desde o primeiro momento.

Harrison

Não é nenhum demérito deles – nem mérito, já que a banda nem existe, e talvez nem tenha passado de dois ou três supostos ensaios.

Todos os quatro são músicos competentes, com suas respectivas carreiras e álbuns lançados. Dhani Harrison começou tocando guitarra na banda do pai, depois seguiu adiante seu próprio caminho no meio musical. Sean Lennon começou ainda pequeno, cantando junto da mãe em seus trabalhos, e foi aos poucos construindo a própria carreira de guitarrista, cantor e compositor, com direito a clipe na MTV e parcerias com gente graúda da música pop. James McCartney também seguiu os passos do pai, e construiu uma carreira de cantor e compositor de canções nos mesmos moldes. Jason Starkey, filho do Ringo, aprendeu guitarra com o pai e já tocou bateria em infinidade de bandas inglesas conhecidas apenas pelos maiores expoentes da cultura hipster.

Todos são devidamente amadurecidos, portanto. Ali não tem moleque, nem estrelinha. Todos possuem uma formação musical sólida (eles foram educados pelos próprios Beatles, incluindo o lendário George Martin), um networking foda e toda atenção da internet e das mídias tradicionais.

Todas as condições são perfeitas, e ainda assim a banda periga ser a pior banda do mundo aos olhos do público.

McCartney

O motivo é tão óbvio que eu quase não escrevi esse texto: será inevitável a comparação deles com os pais. Eles simplesmente estão à sombra daquela que foi certamente a maior banda de rock da história. Pior: são seus herdeiros. Para muita gente, cabe a eles a tarefa – que eu chamaria de fardo – de seguir adiante o trabalho dos Beatles.

Mesmo que todo mundo negue, essa é a verdade inevitável.

O grupo não existe ainda e por isso não tem um nome, mas obviamente já é chamado de “banda dos filhos dos Beatles”. Nas redes sociais e caixas de comentário da vida, o que se discute é o quão parecidos com os pais eles são. O próximo assunto será, possivelmente, qual remake do trabalho dos pais eles farão, e se o resultado será melhor ou pior do que o dos pais. Já temos beatlemaníacos radicais argumentando como o trabalho deles jamais chegará aos pés do que os pais fizeram, ou sobre o quão legal é ver uma banda que vai levar o legado deles adiante.

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Lennon

A expectativa em cima deles é enorme. Insustentável, eu diria. Tão surrealmente alta que fatalmente decepcionará aqueles que esperam que os herdeiros dos Beatles assumam seu lugar, como se isso fosse realmente possível. (E, repito: mesmo quem não acha que está esperando isso, na verdade não tem como fugir dessa comparação.)

Tudo, absolutamente tudo que eles fizerem será posto em uma balança na qual o fiel é a banda de rock mais idolatrada da história. Tanto que já tem gente acusando a ainda-não-banda de querer capitalizar em cima do sucesso dos Beatles, como se a proposta do trabalho todo fosse somente/exatamente/precisamente/unicamente essa.

Ninguém perguntou o tipo de som que a banda quer fazer. Simplesmente não interessa. Isso não impede que os músicos não façam um excelente trabalho por mérito próprio, se eles comprarem a ideia, meterem a cara e mantiverem os egos em cheque. Mas será a pior banda do mundo, se não tivermos boa vontade de ouvi-los pelo que eles são.

E garanto que não teremos.

Rafa Monteiro

Músico, nerd, gamer. Tem 29 anos, mas ainda não aprendeu a mentir. Conta piadas hediondas de efeito moral. Seu projeto de vida é tirar um ano sabático para viajar pelo mundo, palestrar no TED e zerar sua Fender Strato no hard. Tem um blog sobre <a>guitarrismos</a> com tiragem devezemquandenal. No twitter: <a href="http://twitter.com/#!/@_rafa_monteiro_">@_rafa_monteiro_</a>"