São duas as coisas que não podem existir no Brasil: militante de direita e quem defenda a depilação feminina como pré-requisito para participar da civilização. Não sei quem inventou essa história de depilar a virilha da mulherada. Caso algum pesquisador descubra, praças precisam receber o nome do vivente. Monumentos precisam ser erguidos.

Getúlio Vargas já batizou ruas demais. No entanto, o mais provável é que a depilação feminina siga o curso objetivo de sucessivas “aparadinhas”. Depois de sair das cavernas e cumprir rituais mais específicos para fazer a manutenção de sua própria higiene, alguma mulher que raciocinava melhor que a média deve ter passado o tacape e dado início ao processo.

Esse evento revolucionário possivelmente aconteceu próximo da linha do equador. As condições de temperatura e umidade devem ter exigido uma medida drástica. Para nossa sorte, os séculos XIX e XX foram fundamentais para aprimorar o processo. A revolução industrial trouxe muito mais do que a cera depilatória. A urbanização, as duchas diárias e, finalmente, a possibilidade de flertar e ser cortejada foram os elementos que derrubaram a ditadura dos pelos pubianos.

Claro que os reacionários de esquerda vão sempre se posicionar contra um procedimento tão elementar. Para eles, “a mulher precisa ser livre”. Precisa “ser compreendida como ela é”.

É provável que essa seja a posição de todo ditador dos extremos. Os ateus de esquerda e os cristãos carismáticos de direita precisavam concordar em alguma coisa. A propósito, notem: cristão carismático é um eufemismo religioso para definir um crente ortodoxo que não quer comer mulher de bigode. Duvido muito que a ausência do bigode consiga derrubar a tese de que a depilação pubiana feminina é uma “violenta forma de perversão em busca do erotismo fácil, através da imitação da pedofilia”.

Essa e algumas variações fazem parte da agenda argumentativa de muitos religiosos. De pedofilia, ao menos, eles mostraram entender muita coisa.

Agora eu pergunto: isso é lá coisa para ser louvada? Muda o discurso, mas o efeito prático é sempre o mesmo: atrasar o progresso da humanidade. Os pentelhos, esse conjunto de artefatos primitivos utilizados antes do sabão neutro para proteger as partes pudendas, possuem uma desvantagem fundamental: são feios.

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Evidentemente, as mulheres podem optar por cultivar longas mechas entre as pernas. Todo mundo pode tudo nesse mundo esquisito.

Seria suficiente que as incautas defensoras da virilha de pelego acrescentassem Ohana ao seu nome de cartório. Isabel Ohana Gonçalves. Beatriz Ohana da Silva. Jacinta Ohana Pereira. Um transtorno a menos. Uma vida mais tranquila e informada para a sofrida classe masculina.

As resistentes à depilação deveriam lembrar que homem também sofre. Nossos pelos nascem na cara! É um lugar tão sensível e delicado quanto uma virilha na sua melhor forma.

Aliás, é justamente a forma da virilha que torna sua cobertura por pentelhos drasticamente impeditiva. Nenhuma curva feminina deveria ficar escondida ou ofuscada. Os defensores da tese de “natural é melhor” merecem beber vinho artesanal, sem conservantes, e morar em ilhas gradeadas e habitadas por outros primatas. Nada de lei, estado ou direitos humanos.

Imaginar todos os partidários de Rousseau juntos é quase cinematográfico. Mas o roteiro é ruim demais para valer as despesas de um filme. Mas mulheres podem fazer campanhas defendendo a barba, o peito peludo e a tonga da mironga do kabuletê.

Já o homem que ousar desafiar o mau gosto recebe imediatamente o título de cruel. Crueldade é uma Playboy da década de 70. Crueldade são as axilas de uma ativista do maio de 68! Pelos, em excesso, só em cima da cabeça, e que não obstruam as curvas do pescoço.

Se é difícil encontrar uma mulher que goste de andar com o cabelo fora do lugar, por que deveria ser fácil encontrar uma que goste de pelos fora do lugar? Lugar de pelo não é atrapalhando as curvas de um par de virilhas de mulher.

Levando em conta que não existem valores estéticos objetivos, era o que havia para ser dito a respeito do tema, vossa alteza.

Everton Maciel

Everton Maciel é gaúcho e não suporta bairrismo. Só tolera bares que não permitem camisas polo. Nasceu jornalista, mas fez mestrado em Filosofia e mantém um blog próprio, <a>o Blog do Maciel</a>. Tem <a href="https://www.facebook.com/macielmacielmaciel">Facebook</a> e <a href="https://twitter.com/TomMaciel">Twitter</a>"