Esta publicação começa com uma egotrip. Falarei, primeiramente, de mim mesmo.
Comecei a gostar de jazz tardiamente, já pra depois de 23 anos. Persegui, provavelmente, o mesmo caminho de muitos. Conheci o rock’n roll, me apresentaram o blues, entendi porque meus pais gostavam tanto daquele samba que nada tinha a ver com o pagode que exibiam todo final de semana nos programas de auditório. O jazz veio por consequência dessa abertura musical que adquiri com o tempo.
Com ouvidos cuidadosos, comecei a admirar aqueles trompetes cheios de notas tortas, as baterias dando vida ao swing, baixos gigantescos emitindo sons quentes, elegantes. Fui atrás das clássicas big bands, dos trios intimistas, dos instrumentistas que estavam por trás de improvisos cool. Me apaixonei por toda a aura do jazz. As fotos em preto e branco, as poses cheias de estilo do Miles Davis, do John Coltrane, do Chet Baker.
E daí, com esse apreço pelo jazz, me caiu nas mãos a oportunidade de entrevistar o Daniel Daibem, um cara que apresentou, por quase 10 anos, o programa Sala dos Professores na rádio Eldorado, um puta bate-papo via ondas que falava sobre os grandes mestres do jazz e tudo o que eles tinham pra ensinar. Além de ótimo comunicador, o Daibem também é músico, guitarrista do trio Hammond Grooves, uma formação de jazz com pitadas de música brasileira e cheia de balanço. Foi uma ótima conversa sobre música e sobre jeitos de ver a música.
Falar mais o que? Agora é ver os vídeos abaixo.
As origens
[em 85] não eram muito definidas as tribos. Tipo, os hippies andavam com os punks que andavam com os “metal”. Porque [a cidade de Bauru] era tão pequena, que se você brigava, você não tinha amigos […] era todo mundo brother!
Tudo vem de algum lugar. Nessa primeira parte, o Daniel conta pra gente da sua juventude em Bauru, interior de São Paulo, o começo de sua vida na capital, faculdade, trabalho em rádio, e conta também sobre o início da vida musical, começando pelo bom e velho rock’n roll e conduzido ao jazz.
Você só vai tocar o que você consegue tocar de boca. (Levi Miranda, citado pelo Daibem sobre a musicalidade verbal de alguns músicos)
O Jazz
Os negros americanos descobriram uma forma de tocar essa música. Você conta uma história, mas nunca vai contá-la do mesmo jeito. O tema [de jazz] é o mesmo, mas você vai sempre brincar com ele.
Já com o apego pelo jazz, a segunda parte foi traçada pelas emoções que esse estilo trás. Daibem fala de jazz, de improviso, dos mestres que ele inseriu no seu antigo programa de rádio, o Sala dos Professores, e comenta também sobre os caminhos do jazz e a importância da música como ferramenta de emoção.
O jazz, esse barato que você sente quando ouve jazz, isso só acontece porque existem regras. O improviso se dá sob-regras.
Pergunta pro Dominguinhos “o que você ouve?” Eu perguntei pra ele isso pra ele [e ele disse]: “basicamente, a negrada americana”. Então é o que ele gosta. É o que tem balanço.
Os Hammond Grooves e o lar doce lar
No final da conversa, falamos do trio em que o Daniel Daibem toca guitarra, os Hammond Grooves. Para isso, a gente quis saber como funciona essa organização de trio de jazz calcado no órgão Hammond e qual a função da guitarra dele nessa formação. Como funciona o improviso da guitarra nessa banda? Qual a levada que ela tem?
O Miles [Davis] era um cara cabreiro com a vida. Teve uma época que ele tocava de costas pros brancos no palco, aquele som… E o Dizzy Gillespie? O E o Dizzy Gillespie era o ‘Bozo’ do trompete, tirava sarro, parecia um apresentador, um “entertainer”.
Fechando o papo, o Daniel comenta o que ouve em casa, como funciona essa rotina de audições musicais e o que ele guarda no peito como músicas do coração.
AC/DC. Eu sempre volto no AC/DC , não tem jeito. Aquilo, pra mim, é defesa de tese sobre “o que que é uma banda de rock séria”.
Agradecimentos
- Ao Daniel Daibem, pela simpatia e disponibilidade;
- Aos Hammond Grooves, pela pausa na passagem de som pra gente poder fazer a entrevista;
- Ao Madeleine Jazz Bar, que gentilmente nos cedeu o local para a entrevista;
- Ao Fred Fagundes, nosso editor gaúcho que fez a gravação e editou esses vídeos fodas aí em cima.
Eu pensei que vocês vinham pra falar de putaria, “Papo de Homem”. Me falaram que um dia no site tinha um texto sobre “como se termina com a namorada” […] Tá gravando?
Adendo: O Daniel Daibem toca com os Hammond Grooves toda quinta, a partir das 21h45, no Madeleine, na Vila Madalena (São Paulo).
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