Todos que já passaram por esse mundo – tanto o orgânico quanto o digital – contribuíram com alguma coisa. A casa ou prédio onde você está foi construído por milhares de mãos, assim como também foram muitas, muitas, incontáveis, as mentes que de alguma forma fizeram com que esse site que você está lendo agora fosse possível, nesse formato específico, com esse conteúdo e essa cara específicas.

Todos eles são nossos ancestrais em uma grande narrativa cultural. Ao construir as nossas pequenas contribuições nesse grande ciclo, nós precisamos subir nos ombros de tudo que já foi feito. Do que veio antes. Do que nos serve de base.

É uma questão de respeito saber de onde as coisas vieram antes de decidir para onde elas vão.

Alguns de nós ficam repassando frases de Caio Fernando Abreu, de Clarice Lispector ou de Abraham Lincoln. Mas quantos de nós temos interesse pelas histórias dessas frases? Quantos de nós sabemos de onde elas vieram, ou sequer se são verdadeiras?

“O problema com frases na internet é que é difícil conferir a sua autenticidade” – Abraham Lincoln

A nossa curadoria enquanto engrenagem da web

Quando você clica em “curtir” em um vídeo que o seu amigo postou no Facebook, o que você curtiu? Foi o vídeo? Foi o esforço de quem fez o vídeo? Foi a iniciativa do seu amigo de ter encontrado aquilo e publicado para outros verem? Foi tudo isso. Mas um desses esforços ganha muito pouco crédito na web atual.

Semana passada eu repassei o vídeo do Marcelinho lendo contos eróticos para alguns amigos. Um ou dois deles vieram me agradecer. “Cara, que coisa engraçada! Valeu!” Olha que engraçado: eles agradeceram a mim, não ao pessoal do Alta Cúpula, que foi quem fez o vídeo. E ninguém vê nada de errado nisso. Até porque não tem.

YouTube | Qualquer desculpa para postar esse vídeo é válida

O meu papel nesse processo foi de curadoria: eu assisti, vi que pessoa X ou Y poderia gostar e mostrei. Todos nós fazemos isso. Essa curadoria individual é uma das engrenagens mais importantes da internet.

Para ajudar a manter essa engrenagem girando suave, é absolutamente necessário que se dê crédito ao que se encontra por aí. “Dica do Fulano”. “Achei no site tal.” “Feito pelos caras da empresa X”. Só dessa forma se mantém viva a trilha de migalhas de conteúdo que proporciona a descoberta de conhecimento e cultura que de outra forma seria inacessível.

Já se faz isso. São os famosos links “via” que encontramos ao final de posts em vários sites. Mas não se faz o suficiente, nem de maneira padronizada. E não há um incentivo para que quem ainda não faz, passe a fazer. Até agora.

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O que é e como usar o Curator’s Code

O Curator’s Code (código do curador) é uma medida para tornar padronizada e universal a atribuição de descoberta de conteúdo na internet.

É uma prática simples, que nós podemos adotar agora mesmo nos nossos blogs, Facebooks, Twitters, Tumblrs, onde for. A ideia é usar dois símbolos especiais para indicar dois tipos de atribuição de descoberta diferentes.

ᔥ e ↬

Eles correspondem aos dois tipos de atribuição que você geralmente precisa dar:

Descoberta direta: quando você encontra alguma coisa e simplesmente reproduz, republica. Viu um vídeo em algum lugar e publicou no seu Facebook ou no seu blog? Usou uma foto em algum texto? Jogue o link logo depois do símbolo de descoberta direta: ᔥ

Descoberta indireta: quando você encontra alguma coisa e usa aquilo como base para produzir outra, nova. Usou uma imagem em uma montagem? Escreveu um texto com base em outro(s)? Dê todos os links apropriados à direita do símbolo de descoberta indireta: ↬

“Nada de mim é original. Eu sou o esforço coletivo de todos os que eu já conheci” — Chuck Palahniuk, autor de “Clube da Luta”

Como colocar esses símbolos?

Existe um atalho de teclado, mas ninguém precisa se lembrar dele, já que existe um botão que você pode instalar agora mesmo no seu navegador e que faz o trabalho todo. Este link. É só arrastar para a sua barra de favoritos no navegador. Não clique, só arraste. (E renomeie depois para algo como “Dê crédito!”.) Quando ele estiver lá, você clica. A partir dele você pode copiar e colar, ou inserir diretamente, os símbolos em qualquer lugar.

Onde for possível, pede-se que se insira os símbolos já com link para o site oficial da proposta (como fiz no vídeo acima). Assim os curiosos clicarão e terão a oportunidade de entender que símbolo é aquele, e passar a usar também.

Conheça mais sobre o projeto neste post do ótimo blog Brain Pickings e no site oficial (e note como demos as atribuições a esses dois posts também ao final deste texto).

Mudança no PapodeHomem

Um pequeno mea culpa: nós do PdH damos menos atribuições do que poderíamos. Mas prestaremos mais atenção nisso a partir de agora. Percebemos o quanto é importante, e faremos desse novo jeito, padronizado, universalizado.

Na pior das hipóteses, essa padronização simplesmente não pega, e nós seremos um dos únicos sites a usar isso. Mesmo assim, será um ganho. A cultura fica.

E você com isso?

Curator’s Code | Brain Pickings

Fabio Bracht

Toca guitarra e bateria, respira música, já mochilou pela Europa, conhece todos os memes, idolatra Jack White. Segue sendo um aprendiz de cara legal.rnrn[<a>Facebook</a> | <a href="http://www.twitter.com/FabioBracht">Twitter</a>]"