Olá, pessoal!
Os mais assíduos devem ter notado que pulamos duas semanas da nossa querida coluna. O motivo é que estive de férias, curtindo meu descanso, mas agora estamos de volta à programação normal.
Hoje, vamos falar sobre uma das relações que podem ser das melhores, mas que muitas vezes são algumas das mais difíceis que temos. A de nós enquanto filhos com os nossos pais.
Cultive uma atividade regular com seus pais
Quando nos tornamos adultos, um processo de afastamento dos pais acaba acontecendo. Nossa rotina é consumida por cada vez mais compromissos, começamos a ter nossos próprios planos, vamos fugindo às expectativas que eles tinham de nós e, quando menos esperamos, um fosso se constrói, de forma que a relação se torna meramente funcional.
Falamos com eles quando precisamos de algo e vice-versa.
E há quem diga que isso no lado bom da história. Muita gente acaba criando uma relação tão travada que nem isso chega a acontecer. A rotina acaba sendo de brigas e ressentimento e não apenas de indiferença.
Anos atrás, publicamos um artigo escrito pelo Vítor Barreto, chamado "Como matei meu pai cozinhando". O artigo tratava da aplicação de uma prática que tínhamos na antiga Cabana, chamada "mate pai e mãe".
Calma, não estávamos incentivando o homicídio. A ideia era matar figurativamente seus pais no papel ao qual você estava habituado a vê-los, com toda a carga de cobranças e exigências que vem de ambos os lados, e passar a enxergar o homem e a mulher ali presentes, com vidas que se encerram em si mesmas, vendo-os como seres livres, que servem aos próprios fins. É fácil falar, mas como fazer isso na prática?
Bem, sabemos que as relações se dão por meio da repetição dos contatos. Além disso, é preciso que haja interesses em comum, chão compartilhado. O que a gente normalmente não sabe é que isso também é passível de construção.
O que o Vítor fez de uma maneira que considero muito interessante foi usar o interesse que seu pai vinha manifestando pela cozinha para se aproximar, conhecer e aprender a conviver com as peculiaridades dele. Assim, toda segunda-feira eles se encontravam para cozinhar.
"Ao nos reunirmos toda segunda, precisamos superar algumas diferenças. Como um bom desastrado, ele precisava de ajuda em quase todas as receitas. O maestro era ele, mas eu ia picar, refogar, descascar e ajudar no que podia. Como tínhamos habilidade em falar de assuntos práticos, falávamos de coisas práticas. Reclamávamos das facas da minha mãe (na semana seguinte, meu pai comprava novas facas); eu implicava com os potes de plástico (meu pai comprava novos potes); ele xingava a frigideira (e novamente, adivinhem, comprava umas 3 novas).
Era assim que interagíamos. Eu chegava e queria saber como podia ser útil. Como nao sabia cozinhar, fazia o que ele mandava e assim, pude voltar à uma posição que não imaginei que assumiria, a de aprendiz.
Ao mesmo tempo, eu opinava. Afinal, nem sempre o resultado era como esperado. Sugeríamos novos ingredientes, novos preparos…
Aos poucos nos percebemos numa dinâmica nova. Ele me mostrava novos utensílios e novas receitas que estava disposto a experimentar. E eu me mostrava mais aberto e mais à vontade em criar um novo relacionamento. Meu pai era outro homem ali. Mais calmo, mais interessado, com brilho no olho. Eu também podia ser outro homem, menos rancoroso, mais humilde, mais interessado e mais presente.
Criar oportunidades de dizer na cara do meu pai que ele errou e que a carne passou do ponto foi um passo gigante em nossa relação, por mais simples que possa parecer. Ver a sensibilidade no meu pai, em perceber a diferença entre grelhar e fritar, entre cozinhar e assar, entre aipo e alho poró, foi ver uma grande mudança. Uma mudança grande mesmo!"
Recomendo muito a leitura do relato na íntegra. Há trechos bem bonitos.
Mas, principalmente, é uma ótima inspiração pro que vamos propor aqui.
Tente ver alguma atividade que o seu pai ou a sua mãe gostem de fazer e aprenda um pouco sobre isso. Contribua, ajude, divirta-se junto. Pode ser ver um filme e comentar depois, pode ser jogar futebol ou fazer um churrasco. Fica ao critério de vocês.
O ponto é ter algo recorrente, uma atividade com a qual possam conversar sobre algo que não seja só os problemas do cotidiano, mas que os faça realmente passar um tempo de qualidade juntos. Com o tempo, como o próprio Vítor cita no seu artigo, a tendência é que outros temas mais sérios acabem surgindo e, talvez, vocês consigam ir pacificando e melhorando a relação cada vez mais.
Como sempre, quero saber das experiências de vocês. E também é importante dizer aqui nos comentários quem topa o desafio e vai colocar a mão na massa.
Aguardo os comentários!
Abraço e até quarta que vem!
* * *
O que é a coluna Ignição?
Resumindo: queremos iniciar processos de transformação por meio de ações práticas.
Aqui no Papo de Homem temos trocentos textos filosofentos falando de tudo. Agora, vamos pra outra abordagem.
Menos papo, mais ação.
Você está perdido e não sabe o que fazer da vida?
Aqui vamos oferecer um ponto de partida, ações simples que você possa usar como um aquecimento, que coloque seus "músculos" no ponto para você gradativamente começar a lidar com seus problemas de frente.
Como funciona?
Toda semana vamos sugerir ações práticas acessíveis, para que você possa sair da inércia.
Depois, pedimos que venham aqui no artigo e relatem, em detalhes, como foi a experiência. Vale qualquer coisa, inclusive e principalmente, se der tudo errado, pois é nessas horas que a gente precisa de apoio e a coisa de termos uma comunidade mais vai fazer sentido. Nos colocando em movimento vamos começar a descobrir irmãos, amigos, enfim, parceiros de transformação.
Com o tempo, vamos cultivar uma rede de parceiros, dispostos a transformar suas vidas e também conversarem sobre o processo todo como uma forma de se incentivarem e se apoiarem.
A Ignição é incrível, onde encontro os experimentos anteriores?
Muito fácil! Basta entrar na coleção Ignição.
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