Na construção clássica das masculinidades, o sucesso é um alicerce fundamental.

Cientes disso, como parte da pesquisa quantitativa de O Silêncio dos Homens, perguntamos o quanto os homens que responderam à pesquisa concordam terem sido ensinados, durante infância e adolescência, a ter determinadas crenças sobre o papel de um homem.

Destaco algumas delas a seguir:

  • Ser bem sucedido profissionalmente (85%)

  • Ser fisicamente forte (73%)

  • Ser o responsável pelo sustento financeiro da família (67%)

  • Não expressar minhas emoções (57%)

  • Gostar de bebidas alcoólicas (43%)

O êxito profissional foi, disparado, o parâmetro mais apontado entre as respostas. Mas se essa noção do que é ser homem está praticamente atrelada aos resultados de uma carreira, acredito que precisamos olhar para os atributos que constroem essa própria noção de sucesso que estamos ensinando e exigindo uns dos outros, geração após geração.

Embora ensinemos os meninos a competirem desde pequenos, seja numa corrida, no futebol ou em brincadeiras como polícia e ladrão, será que tem lugar no pódium para todo mundo?

É realmente possível que 85% dos homens brasileiros sejam bem sucedidos?

A meu ver, apenas se modificarmos o que entendemos por sucesso. 

O Cláudio Serva, criador do Prazerele, passou exatamente por esse processo de transformação pessoal ao largar cargo de chefia em uma imobiliária e buscar outras possibilidades de se realizar como indivíduo. 

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“Olha, a minha relação com o sucesso, com esse negócio do que é ser homem, o que é essa masculinidade bem sucedida. E nisso eu fui nesse caminho de ter. De ter o cargo, de ter o dinheiro, de ter um carro, de ter as coisas”.

Operar sob esse paradigma de posse como sinônimo de poder é algo bem comum entre nós, homens. E, em alguma medida, no modelo de sociedade em que vivemos, não vejo problema em procurar fazer trabalhos bem feitos e ser recompensado de forma justa pelo que se faz. Mas penso que é importante, de tempos em tempos, nos perguntar os porquês.

Por que eu quero fazer tal coisa ou comprar aquilo mesmo? Será que isso (seja uma promoção ou um objetivo qualquer) é importante mesmo? Quais são os custos pessoais, físicos e emocionais dessas escolhas? Será que é isso mesmo que eu quero pra mim?

“Você vai nesse caminho e você vai vendendo a alma pra chegar lá, né?

Você fica no escritório de sol a sol e lá dentro tem uma verdade falando 'olha, tem mais coisa aí­, além do horizonte', e em algum momento aquilo, pra mim pelo menos, foi pesando. No sentido de que eu engordei muito, eu tava bebendo muito.”

No processo do Cláudio, o contato com uma emoção o fez chorar a ponto de sentir como se o peito estivesse explodindo, e o fez compreender que havia alguma coisa errada consigo. Por mais dolorido que seja, isso é ótimo. Muitos homens não entram em contato com isso e, com a própria noção da existência atrelada à carreira, sofrem um baque muito grande quando algo não sai como planejado. 

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É como se, ao perder o emprego, falir uma empresa ou não conseguir uma promoção, o sujeito se tornasse menos homem. Não à toa, crises profissionais são algumas das causas mais frequentes de suicídio entre os homens, por exemplo (no Brasil, os homens se matam quase 4 vezes mais do que as mulheres). 

Mudar a maneira como se enxerga a relação com o trabalho e a si mesmo não é simples, mas o Cláudio dá bons indícios ao fim do vídeo, e gostaria de destacá-los.

“Eu preciso ser amado por mim.

Como é que eu me amo?

E uma hora eu saí­ e claro, toda transição de carreira é complicada, não é simples assim. Você passa por um grande vazio, você passa por um mergulho no escuro, que você não sabe pra onde ir.

Mas eu confiei. Eu tive ajuda, claro.”

Acredito que falar sobre o tema auxilia a iluminar essa escuridão e perceber que, muitas vezes, não estamos sozinhos nessa. Se permitir receber ajuda durante esse processo é essencial.

Assim como, lá no fundo, ter esse processo de autoamor como norte na hora de experimentar outras possibilidades. Como eu me sinto quando eu faço isso, ao invés daquilo? Ou quando dou mais atenção para essa parte de mim, em detrimento da outra? Se você sente que se ama mais, me parece um ótimo caminho.

E você, leitor? Já passou ou está passando por um processo como esse do Cláudio, de ressignificar a sua noção de sucesso? Compartilhe conosco nos comentários.

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Ismael dos Anjos

Ismael dos Anjos é mineiro, jornalista e fotógrafo. Acredita que uma boa história, não importa o formato escolhido, tem o poder de fomentar diálogos, humanizar, provocar empatia, educar, inspirar e fazer das pessoas protagonistas de suas próprias narrativas. Siga-o no <a>Instagram</a>."