Desde o ensino fundamental queria fazer um intercâmbio.

Após cinco anos juntando dinheiro, era hora de tornar este sonho realidade. A escolha do país, no meu caso, não foi algo difícil. Eu gosto bastante de tudo que é alternativo, então, todos aqueles países e cidades mainstream eu descartei automaticamente. Estados Unidos, Nova Zelândia, Itália, Austrália, Argentina, Espanha, Portugal.

Nada disso.

Todo mundo já foi para um destes lugares, ou pelos tem algum conhecido que já fez isso. Qual é graça de se fazer um intercâmbio e, na volta, contar coisas ou mostrar fotos que todos já viram e/ou conhecem? Pra mim, nenhuma!

Sendo assim, optei pelo Canadá.

Para começar, Vancouver, para onde fui, é a terceira melhor cidade do mundo no quesito de qualidade de vida. O Canadá tem nada menos que três representantes no Top 10, incluindo Vancouver.

O Canadá, em especial Vancouver, é muito internacional. Apenas 30% da população é realmente canadense. Isso é simplesmente maravilhoso para se conhecer outras culturas.

Para dar um ideia, algumas das nacionalidades que conheci lá foram: canadenses, japoneses, chineses, sul-coreanos, americanos, sérvios, holandeses, alemães, italianos, gregos, romenos, irlandeses, escoceses, gauleses, celtas, árabes, russos, portugueses, indianos, suíços, filipinos, australianos, cingaleses, neozelandeses, mexicanos, bolivianos, venezuelanos, franceses, sul-africanos e espanhóis.

Esta é justamente uma das características mais marcantes, pois, assim como grande parte da população é representada por estrangeiros, eles são tremendamente respeitosos e bem-educados com todos. Pode-se comprovar isso nos 37 mapas que não ensinam na escola. Além disso, preconceito e criminalidade são praticamente nulos no Canadá.

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host family

Aliás, para dar um exemplo sobre como a sensação de segurança é diferente, alguns asiáticos que moram lá, incluindo a minha , têm costume de deixar os calçados do lado de fora da casa. Nestes seis meses que morei lá, nenhum par desapareceu e olha que nem tinham cerca. Muros são coisas muito difíceis de ver, a não ser que as pessoas possuam cães e, mesmo assim, elas são bem pequenas, somente para que eles não fujam.

Para ilustrar um pouco mais a questão, também tive a experiência de ir a um banco para efetuar o saque de um cheque. O cofre simplesmente estava aberto quando entrei na agência e ele ficava a uns passos da porta de entrada. Era exatamente igual àqueles que vemos em filmes, porém sem nenhum segurança por perto. Claro, havia inúmeras câmeras fazendo a vigilância mas, fora isso, era praticamente nula a preocupação com roubos.

Em Vancouver, vi pessoas indo de pijama ao supermercado, farmacêuticos punks de cabelo verde, vovôs tatuados e roqueiros nos bares, homens de saia nas praças e assim por diante. Isso era absolutamente normal lá. Ninguém lançava olhares de desagrado ou desaprovação. Todos convivem em harmonia, sempre respeitando as diferenças e o direito de liberdade individual.

Oportunamente, lá também existem diversos festivais que celebram as diversidades culturais, sem contar os inúmeros restaurantes para dar cabo desse leque de civilizações distintas. Dentre os festivais que participei, destaco o indiano Sikh e o St. Patrick’s Day.

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O maior e mais exótico foi o indiano Sikh, cujo povo amigável e acolhedor fazia questão da presença de estrangeiros, para que estes compartilhem da sua alegria, tradição e fartura. Esse festival é uma comemoração à boa safra e, justamente por isso, absolutamente tudo é de graça.

Já o St. Patrick’s Day (Dia de São Patrício) é aquele, famoso, no qual as pessoas tem que se vestir de verde e usar apetrechos que trazem boa sorte (trevos de quatro folhas, ferraduras etc). Há uma grande parada e as ruas e estabelecimentos são enfeitados com o tema do dia. Resumidamente, é a celebração das culturas irlandesas, celtas, gaulesas e escocesas.

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Apesar de ser bem cosmopolita, as paisagens naturais são extraordinárias e dificilmente se mesclam à selva de pedra. A natureza e a limpeza urbana são muito valorizadas. Logo, seus espaços são extremamente bem preservados.

Tanto no inverno, com seus tons pasteis e ambientes mortos, quanto no verão, é possível ver com abundância as belezas originais praticamente não tocadas pelo homem. Inclusive, eles não têm monitores, guardas ou qualquer outra coisa para ficar vigiando as pessoas, pois todos lá respeitam e depositam essa confiança nos turistas.

Em Vancouver, você encontra diversos parques, praias e montanhas tudo no mesmo lugar e, de quebra, são grátis!

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A cidade é composta também de pomposos prédios, monumentos estonteantes e uma arquitetura que, além de requintada, sempre conta um história. Assim é o ambiente urbano de Vancouver.

Não é à toa que a cidade é palco de inúmeras filmagens, principalmente a céu aberto. É bem comum eles filmarem algo Hollywoodiano por lá. Eu pude ver a gravação de um filme (o qual não sei o nome, mas o tema era natalino), enquanto voltada para casa, após a aula.

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Em uma singela caminhada, ou melhor, um tour cinematográfico, você pode conferir o prédio original do Planeta Diário, a casa dos Cullen do Crepúsculo, a biblioteca que explode do Sexto Dia e até a floresta dos mutantes do X-men 3. Essas são só algumas das figurinhas carimbadas de Vancouver.

Aqui você pode verificar as produções filmadas em Vancouver.

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Planeta Diário original

Quanto ao clima, no verão dá para usar regata e biquíni tranquilamente, mas o mar é local para os fortes. Por ser muito próximo ao Alaska, a água tende a ser gelada.

Já no inverno, diferente do que a maioria pensa, em Vancouver, não caem metros e mais metros de neve. Lá não é muito normal nevar, mas ao menos umas duas vezes ao ano isso ocorre na cidade e, nas montanhas, dura alguns meses. E é neve, não nevascas.

Vancouver localiza-se em uma das extremidades do Canadá, então, por ser uma cidade litorânea, a neve não dura muito tempo. É frio, e, enquanto estive lá, chegou à sensação térmica de -10°C.

Para se ter uma noção, em Toronto, na outra extremidade do continente, a temperatura pode chegar a -30°C. Por conta deste clima, as Olimpíadas de Inverno de 2010 foram realizadas justamente em Vancouver.

O inverno deles tende a ser bem chuvoso. Os vancouverites (como chamam os moradores da cidade) até brincam que o nome certo da cidade deveria ser “Raincouver”. Sim, pode chover 3 semanas, ou mais, sem parar.

Até entendo que, para alguns feitos de açúcar, pode ser chato ter de sair de casa com chuva, mas o transporte público deles é tão excelente que você acaba percebendo que reclama à toa.

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O transporte é algo que merece palmas. Metrô (aéreo e subterrâneo), ônibus e balsa, todos funcionando perfeitamente. O metrô passa de dois em dois minutos em horários de pico, são muito bem conservados e são todos automáticos (não tem condutores).

Os ônibus funcionam 24 horas por dia. Todos são preparados para cadeirantes com assentos preferenciais e rampas, todos tem monitores que indicam visualmente e sonoramente a próxima parada. São elétricos, não têm degraus, têm ar-condicionado, os motoristas param em todas as paradas e você não precisa esticar a mão.

A balsa é um transporte alternativo para quem não quer utilizar o ônibus, principalmente para turistas. A Grande Vancouver é composta por algumas ilhas e, por isso em determinados pontos turísticos, o único transporte é feito por meio delas.

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Opções de entretenimento não faltam, principalmente no verão, quando o pôr-do-sol ocorre a partir das 21:30 hrs. São inúmeros pubs, karaokês, boliche, shows, cinema, jogos de hóquei e mais uma infinidade de lazeres para todos os gostos.

Acredito que o diferencial da vida noturna de Vancouver sejam as boates e/ou casas noturnas. Em geral, estas têm dançarinas, pole dance e muita mulher bonita. As canadenses são poderosas e sabem o que querem. Elas não esperam o homem chegar nelas, ou seja, partem direto pro ataque, e isso é supernormal. Eu, que já tenho uma queda por mulheres de atitude, me sentia no paraíso.

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A respeito do idioma, acabei descobrindo que o inglês canadense é neutro. Isso significa que ele possui tanto aspectos e vocabulários britânicos, quanto americanos. Segundo as palavras de uma das professoras canadenses que tive, Tanya Ploquin, inúmeras celebridades estrangeiras vêm ao Canadá aprender inglês (Jackie Chan foi um deles), justamente por este simples fato.

Desta forma, você pode ir para qualquer lugar do mundo, pois vai entender e também ser compreendido facilmente. Sem dúvida, isso dá uma boa alavancada no seu aprendizado de sotaques e expressões. Ah, e também não vai limitar sua capacidade de comunicação a Londres ou Flórida, por exemplo.

Se você tiver a oportunidade, visite o Canadá. Com a sua multiculturalidade, o aprendizado e compreensão das diferenças serão diários. Você sente na pele o quão pequeno é.

Conviver com demais pingos de água nesse oceano não apenas expande seus horizontes, mas faz você se sentir mais humano.

Essa eu acredito ser a essência dos habitantes e, apesar dos 6 meses que estive em Vancouver, sinto-me orgulhoso de sair de lá um pouco canadense.

Renan Berlitz

Publicitário por formação e inconformado por natureza. O cara que gosta de ser do contra, é conhecido como supersincero e detesta opiniões de microondas.