Tudo começa com o primeiro livro. Lembra daquele que você ganhou quando ainda era criança e nem se lembra do dia que isso aconteceu?

Pois é. Depois dele vieram vários, e a sua biblioteca não parou de crescer desde então. Prosperou tanto que, hoje, já ocupa boa parte de um ou mais cômodos da sua casa, tornando esses espaços muitas vezes intransitáveis e incômodos.

Todo mundo quer viver tropeçando em livros até começar a tropeçar em livros
Todo mundo quer viver tropeçando em livros até começar a tropeçar em livros

Em alguns casos, estantes de livros são soluções rápidas e práticas. Porém, conforme novas obras vão sendo adquiridas e não há como conseguir novas estantes tão cedo, a tendência é que se formem uma fileira na frente de outra – o que esconde os livros que ficam por trás – ou, ainda, que se criem fileiras horizontais em cima das verticais – o que torna a visão da sua biblioteca pessoal não muito agradável.

Além disso, muitos – eu inclusive – têm o hábito de colocar pequenos itens na frente dos livros, seja para enfeitá-la ou para guardar algo útil para o ofício literário. Eu, por exemplo, tenho moedas que trouxe de Cuba, um baralho de ilustrações de artistas brasileiros, coleções de marcadores de página e muitas outras coisas. Já a minha esposa tem uma queda especial por esse costume. Suas estantes estão repletas de pequenos bonecos, brinquedos e garrafas de refrigerante em miniatura.

Para muitos, ter uma biblioteca grande e vasta é um prazer enorme. Mas para que isso não se torne problema, uma boa organização é necessária.

Então, eis que vos apresento algumas dicas para acomodar bem os seus livros e deixa-los limpos e fáceis de encontrar.

Está pronto? Então vamos lá.

1. Tire todos os livros das estantes

Tudo começa por algum lugar
Tudo começa por algum lugar

A organização do caos estabelecido começa deixando o cenário ainda mais caótico, tirando todos os livros da estante. Sim, é isso mesmo, tire tudo o que está acumulado nela, de modo a deixá-la completamente livre.

Assim, você começa a entrar em contato novamente com aqueles livros que nunca mais havia visto e que sente saudades ou com outros que não dá a mínima importância e que nem lembrava de ter adquirido.

2. Separe os livros em duas pilhas: aqueles que quer manter e os que quer doar

Desapegar é preciso.
Desapegar é preciso.

Depois de implementar o caos tirando todos os livros da estante, a primeira grande decisão que precisa ser tomada é decidir quais livros vão ser devolvidos para seus devidos lugares e quais você quer se desfazer.

Essa rápida olhada já vai ser útil para perceber as subseções que a sua biblioteca pode ter e como vai fazer para organizá-la. Mas calma, esse ainda não é o momento de partir para uma catalogação mais específica. Apenas aproveite esse passo para ir separando em pequenas pilhas os livros com assuntos, temáticas ou nacionalidades parecidos.

Uma dica para aqueles que são muito apegados aos seus livros: separe os que não vê ou folheia há muito tempo. Se você não tiver ao menos tocado neles há mais de um ano e não tiver nenhum valor emocional, então deve seriamente pensar em doá-los ou se desfazer deles.

3. Separe os livros que precisam de uma “reforma”

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Com o tempo, os livros vão se desgastando, principalmente os mais antigos e que mais foram lidos. Para que eles possam voltar para sua estante, eles devem ser “reformados”.

“Por quê?”, você me pergunta.

Respondo.

Como as páginas dos livros são feitas de papel, aqueles mais antigos – nesse caso falo de livros com mais de 30 ou 40 anos – tendem a soltar partículas de suas estruturas, o que não é muito recomendado para quem gosta de limpeza ou tem alergia a poeira e fungos. Isso sem falar que livros antigos podem ir se desfazendo com o tempo e simplesmente devolvê-los para a estante sem o devido cuidado só vai aumentar a possibilidade de destruição total.

Resumindo: reforme os seus livros para que eles tenham mais tempo de vida.

4. Venda, troque ou doe os seus livros

Deixe alguém se aproveitar do Ricky, digo, dos livros que você não quer mais
Deixe alguém se aproveitar do Ricky, digo, dos livros que você não quer mais

Depois de separar os exemplares que não têm mais utilidade ou que não guardam nenhum carinho emocional, a tarefa agora é se desfazer.

Pode-se fazer o que quiser com eles, afinal de contas eles são seus, mas para que o conhecimento – objetivo final do livro – seja propagado, vendê-los, trocá-los ou doá-los. São as melhores opções.

Para quem quer vendê-los, existem inúmeras possibilidades. Sites como Buscapé e OLX são as primeiras opções on-line para um público mais abrangente. Porém, se a procura é por compradores mais específicos, o ideal mesmo é um site de venda virtual chamado Estante Virtual. Lá, pode-se vender e comprar livros pela internet com bastante facilidade.

Mas se você não confia na rede mundial de computadores, a solução também é bastante fácil. Ir fisicamente a um sebo (para quem não conhece, são lugares onde se vendem e compram livros usados) e oferecer sua coleção. Se o dono do sebo tiver interesse, vai oferecer um valor pelos livros; se ele não tiver interesse, só lhe resta procurar centros de reciclagem para tentar vender os livros pelo peso do papel. Claro, coisa de centavos.

Para trocá-los, uma opção é sempre oferecer para os mais próximos, que podem ser parentes e amigos que compartilhem interesses nos estilos literários. Outra opção é entrar em sites que oferecem esse serviço aos seus usuários. Um deles é a rede social brasileira de livros Skoob, em que as pessoas podem cadastrar sua estante e oferecer livros para troca. Outra opção é o Livralivro.

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Para doá-los, o sistema é o mais simples de todos. Basta dar para alguém que goste de determinado assunto ou deixar todos os livros na biblioteca pública de sua preferência. Além disso, existem diversos eventos organizados nas mídias sociais nos quais pessoas se combinam de deixar livros espalhados pelas ruas, para que outras possam encontrá-los e levá-los se quiserem. Um evento recente e bem interessante é o “Esqueça um livro”, que já teve duas edições e, a cada dia, conquista mais fãs pelo Brasil.

5. Limpe suas estantes

"Read your bookcase" (algo como "leia a sua estante de livros")
“Read your bookcase” (algo como “leia a sua estante de livros”)

Com os livros todos empilhados fora das estantes, nada mais justo que elas passem por uma boa limpeza. Até porque limpar e organizar sua biblioteca pessoal é uma tarefa que exige tempo e paciência e pode não haver essa chance tão cedo novamente.

Dependendo do material que elas tenham sido feitas, dá para usar um produto diferente, mas o mais aconselhado é que se use apenas um pano levemente umedecido com água ou spray de limpeza neutro. Assim, você retira toda a poeira do lugar.

6. Definir como os livros serão organizados

A organização por cores pode ser muito útil
A organização por cores pode ser muito útil

Existem inúmeras maneiras de organizar sua biblioteca pessoal. Vou citar algumas delas: por tamanho, número de páginas, cor, assunto, seus títulos favoritos, editora, data de publicação, data que o livro foi adquirido, seus gêneros favoritos, por autor e pelo sistema de catalogação internacional (aquela numeração que aparece na ficha catalográfica de todos os livros).

Essa decisão cabe exclusivamente a você, pois depende da quantidade de livros, do tamanho da estante e da maneira como você quer organizar o seu espaço. Algumas escolhas darão mais trabalho, enquanto outras vão gerar mais facilidade para encontrar um livro.

Uma sugestão para quem tem boa memória visual é separar por cores. Dessa forma, você vai conseguir encontrar seus livros a partir das lembranças que tem do projeto gráfico e da lombada.

Se você é daqueles que gostam de separar autores por nacionalidade, como eu, por exemplo, então vai precisar fazer uma boa pesquisa quando se deparar com obras que ainda não leu e não sabe exatamente a origem. Vou citar um exemplo: Franz Kakfa. Autor tcheco, mas que compõe o círculo de autores germânicos devido a especificidades históricas. Como decidir onde seus livros entram?

A decisão é sua.

Mas se o tamanho de sua biblioteca é bem grande e a quantidade de livros torna a maioria das opções impossível, a solução é partir para a catalogação usada nas bibliotecas, a chamada “classificação decimal de Dewey”.

Ela separa o conhecimento humano em dez grandes classes e define uma numeração para cada uma. A partir delas, passa para subclasses que se reproduzem em outras subclasses.

Para tal, você vai precisar conhecer todos os códigos, mas essa não é a mais difícil das tarefas, uma vez que o site da Biblioteca Nacional disponibiliza os códigos de maneira rápida e acessível. O que vai dar trabalho, na verdade, é escrever em pedaços de papel o código devido e colá-los nos respectivos livros. O tamanho do papel não precisa ser muito grande, deve ser capaz de mostrar com facilidade o código do livro sem prejudicar o que está escrito nas lombadas.

Agora, se você gosta de uma organização que foge um pouco dos padrões, vou contar um exemplo que um amigo aplicou na sua biblioteca.

Cansado de olhar sempre aquele posicionamento clássico, ele decidiu que deveria colocar os autores para conversar entre si. E então passou a colocar um autor ao lado do outro, para que eles pudessem trocar ideias. Assim, colocou um Balzac ao lado do Machado de Assis, pois acreditava que os dois teriam bastante assunto para conversar, e um Bocaccio ao lado de Camus para que o italiano passasse um pouco de bom-humor para o depressivo escritor argelino.

7. Limpe os livros

(foto: Flickr – pearled)
(foto: Flickr - pearled)

Depois de definir como serão organizados, é importante não devolvê-los para as estantes antes de limpá-los cuidadosamente. Esse passo é essencial para que seus livros tenham um tempo de vida mais prolongado. E lembre-se: traças e cupins adoram papel, e limpar os livros é uma solução bem eficaz para evitá-los.

Diferentemente das estantes, os livros não precisam de nenhum produto especial e apenas um pano levemente umedecido é suficiente para a limpeza.

Agora vocês se lembram dos livros antigos cujas páginas já estão bastante gastas? Com eles, você vai ter que tomar cuidado, pois nem mesmo uma reforma vai conseguir resolver. Então, a solução para eles é guardá-los dentro de sacos plásticos, de modo a conservá-los mais. Além disso, quando for manuseá-los, o ideal é que se use luvas, de preferência as cirúrgicas, pois os dedos transmitem umidade e a cada folheada eles podem desgastar mais as páginas.

Esses são os passos mais comuns para quem deseja organizar seus livros e quer encontrá-los com mais facilidade.

Para muitos, livros em uma estante fazem parte da decoração da casa. Para outros, a principal fonte de conhecimento. Mas, para todos, certamente o apreço pelos livros é imprescindível e cuidar bem deles é um ato de sincero carinho.

Filipe Larêdo

Filipe Larêdo é um amante dos livros e aprendeu a editá-los. Atualmente trabalha na Editora Empíreo, um caminho que decidiu seguir na busca de publicar livros apaixonantes. É formado em Direito e em Produção Editorial.