Quando comecei a aprender fotografia, uma das maiores travas que eu encontrei foi ver o tanto de detalhes e termos técnicos que existiam (e que me confundiam, lógico). O que me ajudou muito foi descobrir que se trata de um processo, que possui etapas para que ocorra a produção de uma imagem e que, se entendemos esse conceito, conseguimos aplicá-lo em qualquer máquina.

Muita gente, quando quer fotografar se preocupa primeiro com o modelo ou marca da câmera para depois tentar entender como a fotografia funciona. Nada contra, mas esse não precisa ser o único caminho. Antes de pensar em investir um bom dinheiro nisso, sugiro pedir emprestado de um amigo, pegar alguma câmera antiga que você tenha em casa, etc. O principal é a lógica e ordem no processo fotográfico, não o aparelho.

Na fotografia digital é bem simples: a luz passa pelas lentes, depois pelo diafragma, depois pelo obturador da câmera (estes últimos devidamente regulados) e é captada por um sensor eletrônico (que possui um complexo arranjo de fotossensores que podem ser regulados através do ISO). Após a exposição, os dados captados pelo sensor passam pelo chip da câmera e se tornam um arquivo no cartão de memória pronto para ser processado. Esse processo é idêntico em todas as câmeras profissionais, independentemente de marca ou de modelo. Vamos entender um pouco sobre cada um?

Lentes

A lente de uma câmera projeta uma imagem invertida do objeto no sensor da câmera, que é a nossa foto. Simplificando um pouco, a lente é um elemento único, uma sólida peça de vidro curvo que garante a nitidez dos objetos fotografados. Ela funciona quase como se fosse o olho da câmera. Ela capta vários raios de luz, focaliza e os direciona para reprodução exata do objeto. Ela pode estar acoplada na câmera (presente em câmeras mais simples) ou ser intercambiável (pode trocar quando quiser, ideal para fotógrafos mais experientes).

Além disso, ela também é responsável pelo ângulo de visão, ou seja, quanto do mundo em frente ao fotógrafo vai aparecer na foto. O termo mais técnico disso é distância focal, que seria a medida em milímetros da distância para que haja o foco do objeto a ser fotografado. Quando uma lente possui uma variação de distâncias focais nós a chamamos de lente zoom (com isso consigo aumentar ou diminuir meu ângulo de visão), e quando ela possui apenas uma distância focal nós a chamamos de lente fixa.

As lentes se dividem em 3 grandes grupos quando falamos de ângulo de visão:

Grande-Angulares: São as lentes com milimetragem menor, também conhecidas como olho-de-peixe. Essas lentes deixam as imagens mais distorcidas que a realidade e também são as que abrangem mais elementos na foto, ou seja, possuem um ângulo de visão maior. Elas são muito usadas em espaços pequenos  (baladas e casas pequenas) como também em paisagens para obter o máximo daquele cenário. Ela é uma ótima opção para quem quer pirar um pouco mais nuns enquadramentos diferentes. Olha só:

01_grande angular

Normal: Na fotografia digital é a lente de 50mm, que é a lente que mais se aproxima da visão humana. Muitas pessoas começam com uma câmera semi-profissional e uma lente 50mm, justamente por essa facilidade que temos ao representar exatamente o que vemos com essa lente.

Teleobjetivas: São as lentes com milimetragem superior aos 50mm da normal. Elas tem o ângulo de visão menor e conseguem focar objetos em distâncias maiores. Sabe aquelas lentes enormes que você vê no estádio de futebol ou em um show? São elas. Eu adoro trabalhar com lentes teleobjetivas para retratos, pois elas quase não apresentam nenhuma distorção e deixam o rosto mais harmonioso.

Abaixo segue um exemplo das diferentes milimetragens e o efeito que elas tem tanto no objeto em foco (a Higa, uma das videomakers do PapodeHomem) como no fundo:

02_distancia focal

Diafragma

O diafragma é uma parte da lente que controla a quantidade de luz que passa para a câmera. Conseguimos esse controle interferindo no tamanho dessa abertura que existe para a passagem da luz. É quase como se fosse uma persiana, que controlamos se queremos que entre muita luz na sala ou se queremos que fique escura. O controle da abertura é feito pela câmera, que são aqueles parâmetos com um “f” na frente. Parece complicado mas não é! É só lembrar: quanto menor for esse número, maior é a abertura do diafragma e mais luz entra na foto. E se o número aumenta, significa que o diafragma está fechando e menos luz entra.

O diafragma também é responsável por um fenômeno chamado profundidade de campo. Basicamente a profundidade de campo é a região da área a fotografar que ficará nítida, desde que focalizada corretamente. Todos os elementos fora da área de nitidez, entre a lente da câmera e o fundo, ficarão, em maior ou menor grau, desfocalizados. Quanto mais luz entra pelo diafragma, mais borrados serão os elementos que não estão em foco. E quanto menos luz entrar, mais nítidos estarão todos os elementos da foto. É só olhar para a foto a seguir, vocês conseguem ver os outros bonecos do Star Wars na foto da esquerda?

Web

Esse recurso da profundidade de campo faz muito sucesso por remeter ao próprio olho humano. No cinema e na fotografia a tendência do espectador é simpatizar com imagens que se assemelhem ao comportamento da nossa visão. É um recurso visual harmônico e também pode ser usado para reforçar a imersão na foto/filme.

Obturador

O obturador é uma parte da câmera que, quando aberto, deixa que a luz entre para que uma cena possa ser registrada na superfície de um dispositivo de captura eletrônico. Ele funciona como se fosse uma porta que deixa a luz passar por período X de tempo. E é esse período de tempo que dá a graça nesse recurso da câmera. Quanto menor for esse tempo de exposição à luz (velocidade do obturador), mais “estática” a foto vai parecer.

É com esse recurso que conseguimos aquelas fotos de splashs e outras situações de “congelamento do movimento” que vemos em fotos de esporte, por exemplo. No outro extremo da velocidade do obturador, conseguimos produzir fotos com tempo de exposição muito longo, que deixa a foto e os movimentos bem borrados, o que resulta naquelas brincadeiras com lanterna ou vela que chamamos de “lightpainting“.

04_FOTOGRAFIA_OBTURADOR

Muita gente mistura esses recursos do congelamento e o do borrão, e consegue resultados bem interessantes. Um exemplo bem claro disso são aquelas fotos de balada, que o congelamento se dá pelo estouro do flash e os borrões pelo longo tempo de exposição. Fica bem bonito.

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ISO

O ISO indica a sensibilidade do sensor da câmera a luz. Maior sensibilidade exige menos luz para produzir uma foto, o que é ideal em ambientes escuros onde não podemos usar flash. O único problema dessa função é que, se eu aumento a sensibilidade do meu sensor, eu também aumento as interferências eletromagnéticas que comprometem a minha foto. Quanto maior o ISO na câmera, mais “ruidosa” vai ser a minha imagem, o que pode dar a impressão de uma foto ruim.

Na verdade, discordo um pouco sobre esses parâmetros do que é ruim e bom numa fotografia. Acho que tudo pode ser um recurso de linguagem. Existem vários fotógrafos que fazem suas fotos com ISO muito alto e deixam o tratamento semelhante a de fotografia analógica antiga (que possuia os grãos de prata, resultando em uma imagem granulada). Fica lindo e não seguiu as “regras de exposição”.

Para quem começa, acho que vale a pena explorar esse recurso e ver o que combina mais com seu gosto. Não tenha medo do ISO alto, ele pode tornar suas fotos mais interessantes.

05_ISO ALTO

Exposição e Fotometria

Fotometria nada mais é do que o conjunto de técnicas e métodos para medir a luz. O fotômetro embutido na câmera mede a luz que entra pela objetiva fotográfica para tentar determinar qual a exposição correta para a situação em que o fotógrafo se encontra.

Existe uma “régua” na câmera profissional que nos mostra o que ela está interpretando sobre a exposição. Nesta régua, os pontos negativos significam que existe pouca luz e os pontos positivos significam que existe muita luz. Quando a régua se encontra no marco zero, significa que atingiu-se a exposição correta para realizar aquela foto de acordo com os padrões de medição da câmera.

Ele é bom e ruim ao mesmo tempo para quem começa a fotografar, pois pode deixar as pessoas um pouco bitoladas em sempre zerar a régua do fotômetro. Minha sugestão é experimentar muito e sem medo.

Um exemplo que eu gosto de usar são as fotos de silhueta, onde a imagem fica muito sub-exposta (com o marcador da régua no negativo) e gera essas fotografias interessantes que não mostram tudo, mas são muito fortes em linguagem.

06_silhueta

Segue um exemplo de como vemos o fotômetro nas câmeras:

07_fotômetro_claros e escuros

Outra dica bacana para quem quer experimentar na exposição é o do cinza neutro.

Breve explicação: para que as câmeras fossem capazes de interpretar a luz, foi embutido nelas um padrão de medição, inicialmente uma tonalidade de cinza que reflete 18% da luz que recebe, conhecido como cinza médio 18%. Fotógrafos profissionais fotometram um cartão desse cinza (chamado grey card) ao invés de fotometrar o objeto. Isso resulta numa foto muito mais colorida e equilibrada.

O legal é que você não precisa de um cartão desses para tentar esse tipo de exposição. A maioria das calças jeans básicas também tem essa tonalidade de cinza. Como exercício proponho fotografar flores, que são bem coloridas. Faça uma primeira foto fotometrando a flor em si e uma segunda fotometrando um pedaço de calça jeans ao invés da flor. Os resultados são bem interessantes.

Iluminação e Flash

Existem três tipos de luz com a qual se pode trabalhar: a luz natural (do sol), a luz existente (encontrada no local de sua fotografia, geralmente luz de tungstênio, led ou fluorescente) e a luz artificial (luz adicionada pelo fotógrafo). A luz artificial mais usada é a do flash, esteja ele acoplado à câmera ou não, como as tochas dos flashes de estúdio. Este método de iluminação dispara uma grande quantidade de luz de forma “otimizada”, como se fosse uma “breve e intensa explosão de luz”.

Muita gente odeia o flash da câmera (e com um pouco de razão, pois não podemos controlar sua intensidade), mas acho que vale a pena experimentar em algumas situações, como o contraluz. Um teste que eu fiz e gostei muito foi no pôr-do-sol. Enquanto eu fotometrei a minha foto para que o pôr-do-sol fosse bem exposto, acionei o flash para fazer um retrato de uma pessoa que estava no contraluz, o resultado fica interessante e foca no principal da foto, que é o retrato da pessoa.

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Balanço de Branco (White Balance)

O balanço de branco funciona como se fosse uma forma da câmera deixar o branco da sua foto realmente branco, independente da fonte luminosa ser quente ou fria.

Cada fonte luminosa emite um tipo de cor diferente, é só ver pela lâmpadas de tungstênio e as fluorescentes. Com isso, muitas vezes uma foto pode ficar extremamente azulada enquanto outra pode ficar muito amarelada/alaranjada. O balanço de branco da câmera cuida para que a coloração da sua foto seja o mais próximo da real possível, por isso ela tem perfis prontos como o de luz de tungstênio, de flash, de sombra, etc.

Reforço aqui o uso de testes, use diferentes presets da câmera para entender como ele funciona e como você pode aplicar significado a sua foto só por trocar o seu balanço de branco. Olha só como conseguimos resultados diferentes em uma mesma foto:

09_wb_final

Espero que esse texto tenha ajudado um pouco nessa parte mais técnica da fotografia e também que tenha dado alguns insights para todos melhorarem suas fotos e se divertirem com isso. Se você quer acrescentar alguma informação ou detalhe, fique à vontade para participar dos comentários.

Gostariam de aprender mais alguma coisa sobre fotografia? Se sim, deixe sua sugestão aqui nos comentários para um próximo texto.

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Luiza de Castro

Amante de cor, cinema, fotografia, design, coletivos urbanos, muitas nerdices e fofurices. Adora aprender coisas novas, valoriza os amigos e pessoas queridas e sempre topa uma boa cerveja. É a videomaker e fotógrafa do PapodeHomem. Em breve, mais informações.