Largue a lâmina imediatamente e espere. Dá para falar uma porção de coisas, mas inevitavelmente esse é o começo da trajetória.
Os primeiros pelos mais parecidos com fios de barba brotaram de maneira mais consistente no meu rosto em 2001 (sou de 86). Não era nada que pudesse ser chamado de barba, naturalmente. Aqueles fiapos na ponta do queixo coçavam, penicavam e quando exposto contra a luz do sol, era certo que ninguém via nada.
Mas, dia atrás de dia, estava eu lá orgulhosão em frente ao espelho ostentando aquela meia dúzia de novos amigos. Mas já fui um ser depenado um dia. Sei como ser assim pode doer. Meu pai tem barba – sempre teve – e a única imagem na vida que vi das bochechas e do queixo dele está no RG, aquele pedaço de cartolina em preto e branco, de mil séculos atrás. No Baeta Neves, na amável São Bernardo do Campo, o Seu Valdir mantinha o tradicional Bar do Barba – que obviamente não precisa de nenhuma outra explicação. Ele não era um cara de fazer concessões. Nunca foi. Mas na década de 1980, não era tão simples assim se manter barbudo e não ser confundido com um fora da lei malvadão.
Estou contando tudo isso porque parece desnecessário, mas a realidade é que ainda tem um passo psicológico que precisa ser dado quando você escolhe manter seu rosto coberto por pelos. O fato de o meu pai ter sido sempre um desses caras tem tudo a ver com a maneira natural que tudo se desenvolveu comigo.
1. A psicologia barbuda
Para decidir entrar no time da barba, o mais comum é que você não sofra ao usar aparelhos de barbear e fique com a pele empelotada, que tenha achado o visual de algum cara que admira interessante (em geral, um artista famosão e superlativo) ou simplesmente odeie o aspecto e suas feições desprovidas de uma honesta camada de pelos. Somos mamíferos, afinal, certo?
Acontece que, mesmo que seja o natural na existência de um homem passar a cultivar uma barba, há um certo aparato repressor de olhares, falas e – até, vejam só – insultos. E tudo isso, quando se está dando os primeiros passos, pode fazer com que você acredite que está cometendo um crime contra a pátria, a família e os bons costumes. Eric Bandholz, do Beardbrand, dá a letra:
"Se você é novo no processo de cultivar a barba, vai sentir que a parte mais desafiadora é segurar a onda com a reação das outras pessoas. Se você estivesse sozinho em uma ilha deserta, não teria esse problema, mas assumir um novo visual vai, sem sombra de dúvidas, gerar comentários alheios."
Para se livrar do bullying, ou manejar o impacto dele, nada melhor que pedir uma pequena ajuda para os amigos, como já prescreveu cantadamente o sábio Ringo Starr lá em 1967.
O Eric explica melhor:
“O primeiro e maior desafio será comunicar-se com aqueles que estão mais próximos à você. Se descobrir que se você pode pedir a ajuda deles, normalmente terá sucesso.”
E, por fim, ele arremata:
“Uma vez que já se aproximou dos mais próximos e amados, você terá de passar pelo aperto dos colegas do trabalho ou dos amigos. Você pode tentar a estratégia sentimental do “preciso da sua ajuda”, mas acredito que o melhor nesses casos é começar a usar sua autoconfiança. Não importa qual seja o comentário sobre sua barba, você deve deve emendar um: “cara, estou mantendo a barba e vai ficar fodona”.
2. Deixe a barba surgir
Passada a etapa psicológica, chega o momento principal da brincadeira. Nas primeiras semanas, a coceira, a irritação, o pânico de passar a não se reconhecer no espelho e os pelos pontiagudos vão deixar você impaciente e doido para tirar toda aquela leva no primeiro momento do dia.
Segure a emoção.
Essa paciência, aliás, é uma métrica honesta para se avaliar um barbudo. O comprimento acaba ficando em segundo plano quando a maior ousadia é se manter longe de qualquer objeto cortante por um, dois, três meses ou até um ano. Sim, porque vai chegar aquele período em que ninguém se lembra de como era seu rosto, quais eram suas feições ou o seu queixo.
As fases regulares de barbudo são:
- a barba de um mês;
- três meses barbudo;
- um ano de barba.
Uma vez que você alcançar estes objetivos, você pode ser tentado a experimentar para o Santo Graal da barbas que é deixar que ela cresça com o comprimento máximo que sua genética permite.
Vá com calma, meu querido. E, claro, raspar sua barba constantemente não vai fazer com que ela cresça mais rápido. É apenas mais uma lenda urbana como o saci-pererê, a loira do banheiro ou o Mundial de Clubes do Corinthians de 2000.
Em entrevista à revista GQ americana, Christian Olvera, da barbearia Baxter Finley, uma das mais renomadas de Los Angeles, explica melhor:
“Os novos pelos de barba podem parecer um cacto que sai da sua pele, mas a sensação espinhosa desaparece depois de uma semana. Portanto, seja forte. Escovar os pelos vai ajudá-los a crescerem na mesma direção.”
Essa coceira é causada porque você acaba criando “pequenas lanças” nas pontas de cada pelo. Esse incômodo pode ser enlouquecedor nas duas primeiras semanas, não é honesto mentir. A sensação de alisar um cacto é a melhor descrição para aquela passada de mão essencial nas bochechas.
Namoradas ficam arredias e reclamam do seu potencial para feri-las e criar espinhos no rosto. Mas com 20 dias, os pelos estarão amansados o suficiente para dobrar e parar de cutucar a pele.
3. A barba de três meses: agora você é um barbudo
Sobre essa fase inicial de barba se estabelecendo, o Eric Bandholz, do Beardbrand, tem umas palavrinhas:
“Depois de cerca de dois meses você vai notar que sua barba faz umas coisinhas maneiras. Os pelos que eram retos e limpos passam a se tornar ondulados, crespos e você pode achar que a coisa ficou meio selvagem. Mas é natural e você deve encarar dessa maneira”.
É nesse período que ninguém mais estranha seu visual. A questão é matemática e sentimental ao mesmo tempo. Com 90 dias, é bem provável que todos familiares, amigos das antigas e a galera do trabalho ou da universidade já tenham topado você na versão peluda.
Nessa altura também, o que é principal, a sua escolha já fará parte da sua vida. Não é um ensaio, uma brincadeirinha do Movember. É real mesmo. E essa olhada para dentro com essa atitude vai deixar tudo muito mais confortável. Fisicamente falando, os pelos já não incomodam como antes, não crescem retos como antes nem sua mão sente um espinho na ponta do dedo quando toca sua barba.
Tudo começa a ficar bem natural.
Ah, claro, é bastante normal os pelos passarem a se cachear mais constantemente. E é tudo normal. Use um pouco de coragem para explorar novas saídas e novos cortes.
Falaremos mais profundamente sobre isso num próximo artigo, mas tesoura, barbeadores elétricos, lâminas de barbear e espuma estritamente criados para deixá-lo com a cara de um lenhador malvadão já são realidade.
4. Quem bate? É o frio!
O verão é pior para se tatuar, é pior para trabalhar de calças e é nas temperaturas mais quentes que fica mais difícil manter a dignidade barbuda. Pois você, barbudo de primeira viagem, comemore: o inverno está chegando na próxima esquina!
O Rodney Cutler, da Esquire, explica porque é melhor cultivar o visual peludo no frio:
“O inverno é tempo de muitas coisas – playoff da NFL, de usar a pá de neve e das infelizes golas rolê dos pais. É também o momento perfeito para deixar a barba crescer.
É uma espécie de fim de semana dentro do ano. Um tempo em que é esperado que as pessoas abandonem a formalidade e a rotina em favor do conforto. Além disso, é frio.
E se você coloca um suéter no corpo, não há razão para o seu rosto não deve ser tratado com o mesmo respeito. Portanto, neste inverno, trate de cultivar uma barba ou não raspar a nuca. Faça o que fizer, deixe os pelos crescerem. Mesmo que seja uma barba apenas temporária, suas bochechas irão apreciar o intervalo”.
E aí, tomou coragem? A conversa continua na semana que vem! Até lá!
Indicação de livros!
A barba é dos maiores sinônimos de masculinidade, né. Se você estea cultivando a sua ou se tirou por completo, o PdH vai indicar um livro:
- The Art of Manliness: Classic Skills and Manners for the Modern Man (do Brett McKay e da Kate McKay).
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Mecenas: Philips
Nos próximos meses, Philips será mecenas de um canal especial sobre barba e estilo: vamos abordar todos os caminhos da barba, desde quem está deixando os pelos crescer até a conservação de quem já tem tudo no lugar.
Independente de como for a sua barba, a Philips possui a linha mais completa de aparelhos para você criar diferentes estilos com rapidez e facilidade.
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