Vira e mexe algum amigo ou conhecido fala que está precisando fazer um “detox” digital, porque tem passado muito tempo nas redes, de olho nas notificações, dando likes, enfim, “fazendo carinho na tela”.
Alguns amigos decidem excluir os aplicativos ou as suas contas por tempo, o que é um exercício válido, mas que nem sempre é fácil. No mundo em que a vida social está entrelaçada com o uso das redes, ficar sem elas pode trazer uma série de inconvenientes. O ideal seria encontrar um equilíbrio, mas como fazer isso?
O que me ajudou a encontrar esse equilíbrio, sem precisar desinstalar aplicativos nem nada do gênero, foi um exercício muito simples de trazer para a consciência o que estamos buscando ao checar as notificações a cada três minutos.
A olhadinha automática
Outro dia conversando com o Felipe, aqui do PdH, ele falou: “Eu ando com um cacuete de checar o celular”. A palavra cacuete caiu perfeitamente porque no fundo é isso mesmo: um gesto involuntário, que se faz sem intenção e que não necessariamente tem um propósito.
Em média, as pessoas checam seus celulares 58 vezes ao dia, somando um total de 3 horas e 15 minutos, segundo as informações coletadas pelo app Rescue Time. 70% dessas olhadinhas se parecem com “cacuetes”: não duram nem 2 minutos e metade delas acontecem com intervalos de menos de 3 minutos. Só em 5% das vezes as pessoas passam mais de 10 minutos interagindo no celular.
Abrir e olhar a tela do celular tem se tornado algo automático. Se analisarmos bem esse automatismo, há um significado importante por trás dele. Este texto é justamente uma proposta de exercício que pode nos tirar desse ciclo repetitivo de olhar o celular, e esse exercício consiste basicamente em se fazer consciente do porquê estamos checando, e o quê estamos buscando a cada vez que desbloqueamos a tela.
Busca-se algo ao abrir as notificações: uns querem garantir que nada de muito importante aconteceu sem que se saiba, outros, querem ver se foram lembrados por alguém, outros estão a esperam respostas.
É uma mistura de propósito com despropósito: inspirados por alguma motivação (que nem sempre está clara para você mesmo) abrimos a tela do celular uma, duas, três, 50 vezes e ao longo do tempo adquirimos o cacuete de checar as notificações, ainda que não estejamos pensando na nossa motivação inicial.
Bloqueando o uso
No meu caso, numa fase difícil da vida, a procrastinação de checar o celular foi ficando mais recorrente e intensa. Eu ultrapassava fácil às 3h e 15 da média e isso começou a me atrapalhar.
Primeiro eu baixei um desses aplicativos de controle. Quando eu atingisse esse limite de uso estabelecido, ele bloquearia os apps selecionados.
Bem, essa estratégia não deu nada certo. O limite de tempo me causava mais mal estar: se eu estourasse o tempo eu me sentia culpada pelo meu descontrole e, ao mesmo tempo, triste por não poder usar as redes sociais nos momentos mais “adequados” para mim: no transporte público, ou antes de dormir.
Conversando sobre isso com a minha terapeuta, ela me receitou um exercício que vale ouro e que – contrariando a lógica do “se conselho fosse bom não se dava, vendia – eu queria compartilhar com vocês.
O exercício de conscientização
O exercício era o seguinte: antes de desbloquear a tela do celular, eu deveria parar um instante, olhar para o celular e refletir: “O que eu estou buscando? Por que eu estou verificando as redes? O que eu quero encontrar aqui?”.
Não tinha limite de uso, nem restrições. O exercício era simplesmente tirar a ação do automático e investigar a motivação que me mantinha naquele ciclo de “deixa eu ver – não tem nada – deixa eu ver – não tem nada”.
Eu percebi algumas coisas com isso:
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Muitas vezes eu me flagrei desbloqueando a tela do celular sem nem saber como ele tinha ido parar na minha mão. Era um movimento 100% automático e eu não notava nenhuma motivação.
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Eu percebi que, quando isso não era um cacuete, eu estava buscando por algo que me faltava: interação.
Trabalhando de casa, mergulhada nas teorias do mestrado, eu me sentia constantemente solitária e sobrecarregada. Sentia falta de ter colegas de trabalho, conversas rotineiras, e também muita falta de ter tempo para mim mesma, para desfrutar de algum lazer.
As redes sociais eram meu ponto de contato com o mundo e, ali, eu buscava tanto me sentir em contato com outras pessoas, quanto me dar pequenos momentos de respiro e diversão.
Tratando a causa e não o sintoma
Neste ponto, me vem à cabeça outra coisa importante que eu aprendi com a minha psicóloga: quando a gente procrastina, a gente pode estar tentando adiar uma tarefa desagradável, mas a gente também pode estar tentando atender a uma necessidade nossa que não tem sido levada em consideração.
O mal da procrastinação – ou dessa imersão automática nas redes sociais – é que esses automatismos, que refletem nossas carências, raramente dão conta de atender de fato nossas necessidades. Horas de fotos de viagens no Instagram não satisfazem a sua vontade de ficar meia hora no banco de um parque olhando um pouco de verde.
O mais incrível deste exercício de conscientização, não foi apenas reduzir meu apego à tela, foi que – ao criar consciência sobre o porque eu insistia dar uma “olhadinha” – eu tive a oportunidade de cuidar de coisas que realmente eram importantes para mim e que estavam encobertas pelo automatismo de se perder nas redes.
Sinceramente? Eu não acho importante que você se apegue ao número de horas que gasta no celular. Se está usando acima ou abaixo da média, isso não nos diz nada significativo. O importante é entender que tipo de uso você tem feito das suas redes sociais e qual é o efeito que isso produz em você.
Tem feito bem para você? Ou tem te feito mal?
Sair do automatismo é quebrar uma forma de alienação e se dar a oportunidade de atender às suas reais necessidades, indo ao encontro da satisfação e felicidade mais genuína (e não aquela passageira que os likes trazem).
Se você fizer esse exercício e passar a entender sua motivação, conte para a gente nas nossas redes sociais: @papodehomem !
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