Charlie Parker era um atrevido. Ainda sem dominar por completo sua técnica e nem os maneirismos do jazz, o menino que levaria o apelido de Yardbird não se intimidava de entrar na roda de jazzistas com nomes de peso e experimentar sua sonoridade. Errava, mas não deixava de entrar nas jam sessions informais que os músicos faziam.

Reza a lenda que, em uma dessas brincadeiras, ele mandou tão mal o baterista de Count Basie (um dos líderes de grandes bandas de jazz mais fodas), Jo Jones, extremamente irritado, interrompeu a brincadeira atirando um prato da bateria no chão. Ainda bem que não chegou a ser um trauma, afinal, Charle Parker é considerado um dos melhores saxofonistas do jazz de todos os tempos, além de ser só um dos fundadores do bebop.

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Dentre os estilos de jazz, o bebop é um dos mais quentes e cabreiros. Intensamente frenético, mais sincopado, notas tortas, uma vertente mais esquentada que pegou os jovens da década de 40, nos Estados Unidos, em cheio. Se você já leu o livro On the Road, de Jack Kerouac, vai se lembrar das longas e fodidas descrições de Dean Moriarty e Sal Paradise delirando, pirando mesmo nos bares abafados, entupidos de gente delirando, pirando mesmo com bandinhas pequenas derretendo melodias. Dizem até que o próprio Kerouac escreveu o Pé na Estrada pra ser lido em voz alta, o que faria com que a escrita corrida desse a impressão de se estar ouvindo um jazz bebop.

O interessante de se prestar atenção ao ouvir o som do Bird, como Charlie Prker ficou conhecido (justamente encurtando seu primeiro apelido, Yardbird), é no desembaraço do músico em improvisar livremente sobre os acordes em vez de ficar na base da melodia (mais comum no jazz se swing), ou, em outras palavras, como ele escapa pra solar de forma animal.

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A sonoridade do Bird é quente demais, queima os ouvidos, o peito. Empolga pra cacete.

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Como era praticamente regra no jazz, Parker era viciado em heroína e a droga estragou bem a carreira do saxofonista. No meio da década de 40, ele frequentemente perdia apresentações e chegou a ser mandado embora. Pra sustentar o vício, ficava tocando na rua em troca de moedas, pegava “empréstimos” com amigos músicos e recebia dinheiro de admiradores. De tão viciado, chegou a penhorar seu saxofone pra poder usar mais droga.

Quando foi de Nova York para a Califórnia, onde a heroína era mais difícil de se encontrar, o pobre Bird começou a beber pra substituir a vontade da droga da costa leste, foi parar num hospital pra se livrar dos vícios, saiu limpo e fresco, voltou para Nova York e voltou a consumir heroína.

O gênio Charlie ‘Bird’ Parker morreu aos 34 anos.

Link YouTube | Charlie Parker e Dizzy Gillespie – “Hot House”

Informação muito importante

Vale lembrar sempre que o Bird liderou, no final da década de 40, o Charlie Parker Quintet, um quinteto de jazz que contava com  Miles Davis no trompete (apenas o jazzista mais foda de todos os tempos do jazz), Duke JordanTommy Potter e o baterista Max Roach.

Que time, pessoal. Que time!

Jader Pires

É escritor e colunista do Papo de Homem. Escreve, a cada quinze dias, a coluna <a>Do Amor</a>. Tem dois livros publicados