Quatro anos separavam a briga do término dessa noite em que pipocou na timeline dele uma atualização dela, um mapa mostrando a rota de avião do Rio para São Paulo e os dizeres "me espera, essepê, que eu tô voltando".
Tempos antes, quando ainda estavam juntos, se intrigavam na mesma conversa de acharem curioso não haver, entre eles, a comum hostilidade irônica entre paulistanos e cariocas, ele, nascido e criado na Vila Mariana e ela, menina de Copacabana, princesinha do mar. Ele prezava muito o sotaque fluminense e ela era adoradora entusiasmada da Pauliceia, fazendo disso uma união quase profana, fato esse comprovado na cama, quando dividiam as mais perversas aventuras sexuais, brincadeiras brutais que renderam nele uma cicatriz na altura da cintura, lembrança dos quatro pontos que levou.
Mas essa é uma outra história.
A dor que ele se recordou foi outra, ao ver o curso do retorno dela. Quatro eram os anos que separavam aquela atualização de Facebook da tarde da briga de fim de namoro. Nunca mais se falaram, desde então. Meses depois ela voltou pro Rio, se casou e estava, agora, com um filho pequeno, um ano e tanto. A cabeça dele borbulhou de curiosidades, tinha muito o que falar, também, de novidades e extravagâncias pessoais. Bateu, nele, uma vontade de contar pra ela que ele estava ouvindo o disco de uma mina de Chicago, a Noname, e sabia que ela ia adorar. E daí que lhe veio a dúvida. "Será que ela ainda gosta dessas coisas?".
Só saberia se perguntasse e, por inbox mesmo, convidou-a pra almoçar. No dia que ela quisesse, no momento em ela pudesse. Um almoço. E ela aceitou. Reservada, mas disse que sim. E marcaram de comer sushi. Quatro anos depois daquela ocasião em que terminaram. Feio. Teve briga, uma afronta mútua em forma de xingamentos, empurrões, um tapa no rosto quase dado. Atiraram verdades insensatas, derrubaram copos da mesa e saíram sem pagar e sem se falar.
Quatro anos depois, lá estavam os dois com pauzinhos delicados entre os dedos, num silêncio sepulcral do restaurante que acabara de abrir. Quatro anos de expectativas pós-termino dissolvidas em cinco minutos e três goles de saquê. Uma conversa tranquila e divertida se iniciou, mais pela ânsia de saber um do outro no presente do que para esconder o que um teria a dizer do outro no passado. Não trouxeram remorsos, pesares, mas também nada foi para debaixo do tapete. Conversaram sobre dias bons que tiveram, mas ela lhe contou sobre o filho dela, a maternidade, a relação com o marido e a velha vida nova que estava esperando viver em São Paulo. Assuntos que seriam tomados como espinhosos para ex-namorados eles tratavam na broderagem absoluta, como dois amigos que há muito não tomavam o papo juntos.
Na saída, troca de beijos um no rosto do outro e o abraço que durou bons segundos. Ao entrar no táxi, ele olhou para as próprias mãos e elas não tremiam. Reparou na respiração controlada, constante. Músculos relaxados, dentes sem ranger. Recostou-se sobre o banco traseiro do lado do carona e sentiu-se leve.
Não pode restar nada de ruim depois de um término.
Ficar com raiva, remorso, indignação no fim de um relacionamento? O amor é uma parada muito mais legal.
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