O nascimento do dragão.

Vinha ao mundo, no dia 27 de Novembro de 1940, entre as 6h e 8h, no ano e na hora do dragão. O que, pela tradição chinesa, representaria uma vida prospera e de poder. Lee Jun Fan, como foi batizado, e ainda na maternidade, apelidado de Bruce por sua enfermeira, mas que só passou a adotar o nome mais tarde, quando entrou para escola.

Esse aí foi para a Hong Kong ainda criança. Como era filho de um famoso cantor de opera, rapidamente começou a fazer trabalhos no cinema. Em 1946, aos seis anos, Lee fez seu primeiro filme chamado The beginning of a boy. No mesmo ano, Lee participou de mais dois filmes. Ao assistir seus trabalhos mais antigos, podemos identificar os traços que o fariam famoso no futuro, como ator, e artista marcial. Bruce participou de apenas um filme em que não tinha cena de luta, chamado O Órfão.

Bruce e o Mestre Yip

Como praticamente todas as crianças que começam a praticar alguma arte marcial, Bruce Lee foi incentivado por uma briga de rua quando tinha apenas 13 anos. Lee caiu na provocação tomou uma grande surra. Essa seria a primeira e última vez que perderia uma luta. Começou então a treinar um estilo de Kung Fu chamado Wing Chun instruído pelo lendário mestre Yip Man, que tem alguns filmes inspirados em sua trajetória. Bruce Lee treinou com Yip Man até os 18 anos.

Um grande lutador

Quando falamos em Bruce Lee, logo pensamos em seus vários filmes. Não é raro encontrar pessoas que acreditam que Lee foi apenas um ator, desconhecendo completamente seus feitos e influencia para o mundo das artes marciais. Talvez nenhum homem tenha mudado tanto o mundo da luta como Bruce Lee fez.

Nunca se limitando ao universo do Kung Fu, demonstrava grande interesse em várias outras artes. Aos 18 anos entrou para um torneio de Boxe, derrotando o campeão que estava invicto por três anos. Bruce Lee foi o primeiro a agregar várias artes marciais, utilizando apenas o que era eficiente em cada uma, transformando-se em um lutador mais eficiente.

Lee desenvolveu o Jeet Kune Do, um conceito de arte marcial, inicialmente sendo um ponto de partida filosófico para explicar o modo com que mesclava as artes marciais e catalogava os pontos mais eficientes de cada uma delas, mas longe de ser um sistema de combate engessado. O objetivo era mostrar que cada lutador é livre para mudar e se adaptar a novas técnicas sempre que necessário.

Pra ele, o JKD era simplificar, desprender-se de qualquer estilo e se moldar as necessidades. “A arte deve se moldar ao lutador e não o lutador a arte”. Defendia não se prender, nem mesmo ao próprio Jeet Kune Do. Não apenas sendo um lutador, Bruce se preocupava constantemente sobre o que estava praticando e como alcançar a maestria. Antes de organizar seu método, Bruce treinou pelo menos dez outros estilos, desde a esgrima, até o wrestling e jiu-jitsu (tradicional).

O Físico do Dragão

Vários são os relatos sobre o físico de Bruce Lee. Alguns deles são assustadores de serem lidos atualmente, quando não temos como comprovar a veracidade, mas trazem um pouco do que podíamos esperar dele.

“Bruce tirou a camiseta, e eu fiquei admirado de novo, como sempre acontecia quando via o físico dele; tinha músculos sobre músculos.” – Chuck Norris

Após um desafio em que ganhou do adversário em 3 minutos, Bruce se sentiu frustrado, achou que ficou muito cansado, e atribuiu seu cansaço a falta de condicionamento físico. Ele ficou sem folego após a luta.  Bruce resolveu então ampliar seus horizontes e pesquisar sobre as mais variadas formas de se exercitar. Como não havia muita informação sobre treinamento físico disponível, ele assinou todas as revistas de fisiculturismo que existiam. A fonte de informação mais comum naquela época. Lee também comprou dezenas de livros e cursos de fisiculturismo e musculação, testando tudo que lia no próprio corpo.

Bruce Lee não aceitava limitações. Um aluno conta que, enquanto corria uma distância que não estava acostumado, ele disse para Bruce: “acho que vou morrer, temos que parar”. Bruce calmamente respondeu “Então morra”. Isso o deixou tão nervoso que conseguiu concluir a corrida. Logo em seguida, foi perguntar sobre essa atitude. Bruce respondeu:

“Porque é melhor mesmo que você morra. É sério, se sempre impuser limites ao que faz, fisicamente ou de qualquer outra maneira, isso vai se disseminar por todos os outros setores da sua vida. Vai atingir seu trabalho, sua moralidade, todo o seu ser. Não há limites. Há patamares, mas não podemos parar neles, precisamos ir além. Se morrer; Morreu. Todo homem precisa se exceder constantemente”

O Filósofo

Bruce Lee entrou na universidade de Washington em 1961, aos 21 anos. A filosofia exerceu um impacto enorme em tudo que faria desde então. Seus livros são famosos por não abordarem o combate de uma forma direta, mas por tratar as artes marciais em pontos de vista filosóficos.

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O próprio Bruce Lee afirmou que a luta servia apenas como uma metáfora para os seus ensinamentos. Frequentemente influenciado pelo Budismo, Taoísmo, e pelo Krishnamurti. Mesmo assim, Bruce Lee afirmava que não acreditava em Deus e nem possuía uma religião.

Não se limitando a qualquer linha especifica de filosofia, Bruce Lee leu centenas de livros, reunindo aspectos ocidentais, orientais, modernos e antigos em princípios que contribuíram para seu próprio crescimento espiritual. Nesse processo de aprendizado que se tornaria sua filosofia pessoal, focado na libertação do espírito por um autoconhecimento maior. As artes marciais foram apenas uma ferramenta para expandir seu potencial e compartilhar seu ideal com os outros.

Link YouTube | A entrevista perdida de Bruce Lee. Agora, claro, encontrada

Sua filosofia inspirou inúmeros praticantes de artes marciais a seguirem esse caminho, a refletirem mais sobre o que fazem, e a melhorar como seres humanos.

“Ele era único, e foi um ídolo para muitos. O melhor em alguém como Bruce é que ele inspira milhões e milhões de jovens que querem seguir seus passos, tornarem-se lutadores, trabalhar no cinema. E passam horas e horas por dia praticando. Alguém como Bruce Lee proporciona uma tremenda inspiração, o que ajuda jovens do mundo inteiro. Ele deixou uma marca profunda em todo o planeta, e acho que, por isso, será admirado por muito tempo”. – Arnold Schwarzenegger

Morte de Bruce Lee

Durante as filmagens de o Jogo da Morte, Bruce começou a dar sinais de que não estava bem. Chegou a ficar pálido e desmaiar em uma das salas de edição do filme. Levado ao hospital e se recuperou. Chegou a emagrecer 6 quilos nesse período. Para segurar o estresse das mais de 12 horas de gravação diária, e os treinos que insistia em manter, consumia haxixe e abusava de analgésicos.

Depois que decidiu encerrar seus trabalhos, Bruce recebeu permissão médica para fazer uma viagem mais longa, e foi procurar um neurologista em Los Angeles. O médico informou que estava com a saúde em dia, mas havia um acumulo de fluidos no cérebro, devido a uma convulsão que teve antes de entrar em coma. O médico receitou um medicamento para epilepsia.

Pouco tempo depois em Hong Kong, para finalmente concluir as filmagens de Jogo da Morte, Bruce estava no apartamento da Taiwan Betty Ting Pei, com quem diziam que Bruce tinha um caso. Segundo ela, Bruce Lee pediu um analgésico para as fortes dores de cabeça. Betty tentou acordá-lo algumas horas depois, mas sem sucesso. Bruce Lee foi levado ao hospital Rainha Elizabeth, mas morreu no caminho. Segundo os médicos, a causa da morte foi um edema cerebral, provocado por uma reação alérgica a um componente químico do remédio.

Sua morte reuniu várias especulações. Desde que ele teria morrido de overdose de remédios misturados com outras drogas como cocaína. Teoria de que ele teria forjado a própria morte para finalmente viver em paz. E a principal, de que teria sido assassinado pela máfia chinesa por ter se recusado a fazer parte dela.

Essa última, reforçada quando Brandon Lee, filho de Bruce e Linda Lee, morreu acidentalmente nas filmagens de O Corvo. Brandon foi baleado acidentalmente pelo ator Michael Massee, que utilizava uma pistola calibre 44. As balas de festim foram substituídas por balas de verdade. O incidente ajudou a sustentar a teoria de que a máfia chinesa estava por trás da maldição da família Lee.

Uma vida mesclada de momentos de iluminação e momentos bem obscuros

Mais de 50 mil pessoas estavam no funeral de um dos maiores lutadores de todos os tempos. Bruce Lee teve uma vida intensa. Treinou muito, foi dos melhores em tudo o que fez. Deixou filmes fantásticos, uma arte marcial poderosa, exemplos e mais exemplos de treinos e muita filosofia para expandir a mente e extrapolar todos os limites do corpo e dos pensamentos. Bruce Lee deixou muita coisa boa em uma vida rápida e maleável, como a água. “Seja a água, meu amigo“.

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Ilustradora, engenheira civil e mestranda em sustentabilidade do ambiente construído, atualmente pesquisa a mudança de paradigma necessária na indústria da construção civil rumo à regeneração e é co-fundadora do Futuro possível.