Uma nova tendência está transformando o modo de vestir do homem brasileiro: as bolsas começam a fazer parte do dia a dia. Nas grandes cidades está cada vez mais comum observar homens de todas as idades e profissões levando esse acessório tantas vezes mal interpretado a tiracolo. E não estou me referindo aos homens ligados ao mundo da moda, e muito menos às celebridades. A bolsa masculina está presente no comercial de chocolate, no do plano de saúde e na novela das nove.

Em um caso sem precedentes, a Central de Atendimento ao Telespectador da Globo registrou dois itens masculinos entre os dez mais consultados em outubro deste ano: a bolsa tipo carteiro marrom de Renê Velmont, interpretado por Dalton Vigh, e o tênis verde de Wallace Mu, personagem de Dudu Azevedo, ambos da novela global Fina Estampa.

Homens estão buscando referência de estilo em personagens de novela, o que é melhor que nada

Antes que você jogue a primeira pedra, convido-o a tentar entender um pouco mais sobre esse assunto: pare um pouco e pense realmente em todas as ocasiões em que você já usou uma bolsa. Sim, uma bolsa. Uma bolsa no sentindo maior da palavra. Recorrendo ao dicionário: “Recipiente de pano, couro ou matéria plástica, cuja boca possui, às vezes, um sistema qualquer de fechamento, como zíper, botões etc. Há modelos especiais para viagens, compras, ferramentas, caça etc”.

Portanto, encare este fato: você já usou uma bolsa.

Acredito que o grande problema existencial da bolsa no universo masculino brasileiro venha do fato de não termos em português uma palavra específica para bolsa de mulher em detrimento à bolsa de homem, como ocorre no inglês, em que purse é bolsa de mulher e bag é a contraparte masculina.

O outro problema vem da evolução da moda. No Tassenmuseum – Museu de Bolsas de Amsterdam – é possível acompanhar a história deste objeto, que surgiu para ser usado por homens, pois eram os únicos responsáveis durante muito tempo por tarefas externas, desde caça a transações comerciais. Em certo ponto da caminhada pelo museu, que tem suas peças organizadas cronologicamente, as bolsas masculinas somem, e sobram apenas as femininas. Qual seria o motivo?

Um museu inteiro dedicado àquele acessório que você ainda despreza

O vestuário masculino começou a fazer uso cada vez maior de bolsos. Bolsos na frente e atrás das calças, bolsos no colete, bolsos internos e externos na casaca, bolso na camisa. Enquanto isso, na moda feminina, tudo foi sumindo para deixar a silhueta mais limpa, exposta e sensual. Deste modo, as mulheres não tinham em que levar seus pertencentes, enquanto os homens tinham espaço de sobra. Resultado: as últimas gerações estão acostumadas a ver somente mulheres carregando bolsas.

As tentativas de se fazer o homem usar uma bolsa nas décadas de 80 e 90 foram meio desastrosas. Talvez você lembre do notório episódio da série Friends em que o personagem Joey (o maior garanhão da turma) usou uma bolsa. Esse é o tipo de bolsa que assusta os homens – a tal da MURSE: uma junção das palavras man e purse. Este termo não deu muito certo justamente porque remete ao feminino. Sem contar que não tem nenhum sentido, visto que há uma palavra em inglês para bolsa de homem e não havia necessidade de juntar a palavra purse. Bolsa é coisa de homem também.

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Mas o mundo mudou, e hoje vivemos em uma época em que o homem tem que carregar um arsenal que às vezes inclui notebook, telefone, tablet, fios, carregadores, chaves, óculos, documentos do carro, moedas, carteira… O que não cabe mais no bolso vai para a bolsa. Não há bolso que aguente (sem contar que bolso das calças atulhado é feio e desconfortável), e nem adianta pedir um espaço na bolsa da namorada, porque lá também já não cabe mais nada.

E a mochila?

Assim como os homens chineses, que perceberam que uma boa (e cara) bolsa pode ajudá-los a passar uma imagem mais bem-sucedida, facilitando na hora de conseguir um emprego ou uma promoção, os homens brasileiros começaram a perceber que a casualidade da mochila não cabe em todas as situações. É preciso algo diferente. Aqui entra a bolsa carteiro em couro da novela das nove. Ela mantém a descontração, mas ao mesmo tempo deixa o homem mais estiloso e elegante (mulheres, comentem aí em baixo se o homem não ganha pontos se estiver todo estiloso com uma bolsa).

O que nos leva para o terceiro fator que nos ajuda a explicar a ascenção das bolsas para homens: a indústria da moda. Qual o melhor termômetro para se medir uma tendência do que o comportamento de consumo do varejo? Rapidamente os executivos dos grandes grupos de varejo perceberam a nova necessidade latente e começaram a inundar o mercado com mais e mais opções de bolsas para os homens escolherem. Saem as bolsas “fashionistas”, que, embora sejam importantes para posicionar, conceituar e chamar atenção para uma marca, acabam mais assustando o consumidor masculino; entram as opções escuras, sóbrias, em couros de todos os tipos, tecidos de algodão grosso e rústico, tecidos sintéticos. Bolsas carteiro de todos os tamanhos.

Costumo dizer que o homem é o “novo BRIC” do mercado de luxo, com a abertura de lojas exclusivas e com cada vez mais lançamentos de produtos com edições limitadas e parcerias para ser atraído enquanto público. Exagero? As grifes francesas registraram um aumento de 30% no segmento de bolsas masculinas. A italiana Gucci abrirá sua primeira loja exclusiva para homens no Brasil no ano que vem. Venho observando também que grifes nacionais que nunca tiverem bolsas masculinas em seus portfólios lançaram ou vão lançar opções. As grandes cadeias de departamento populares, como Renner e Riachuelo, têm opções com preços acessíveis. Ou seja, não é um fenômeno restrito ao mercado de luxo ou ao continente europeu.

A bolsa para o homem veio para ficar, pelo menos até o próximo ciclo de evolução. Ou quando deixarmos nossos gadgets todos em casa. Mas quem se arrisca a não ficar conectado?

E, se tudo isso não foi suficiente, lembre-se de que nem mesmo o super saco roxo Lampião saía sem sua bolsa carteiro.

Fábio Garcia

Administrador de empresas e colecionador de bolsas masculinas com mais de 150 itens em seu acervo, Fábio Garcia uniu esta paixão e seus conhecimentos vastos sobre o assunto para criar o site <a>Bolsas de Valor</a>."