“Se me fosse pedida uma resposta de uma linha à pergunta ‘O que faz uma mulher ser boa de cama’, eu diria ‘Um homem que é bom de cama'” –Robert Guccione (1930-2010).
Semana passada morreu um cara responsável por revolucionar o mercado editorial erótico mundial. Bob Guccione, um americano filho de italianos nascido em pleno Brooklyn, em Nova York, construiu um império graças ao atrevimento de trazer o nu frontal para as páginas das revistas masculinas.
Guccione cresceu em uma família tradicional católica e casou-se com a primeira de sua três esposas muito cedo, antes mesmo de completar vinte anos. O casamento, entretanto, não deu certo. Bob sentia que ainda tinha um mundo para explorar e desejos para realizar. Com esse pensamento, mesmo com uma filha pequena, abandonou sua família e decidiu ir para a Europa para realizar seu sonho de estudar artes plásticas e se tornar um pintor.
Morando e estudando na Velho Continente, Bob conheceu Muriel Hudson, a inglesa que viria a se tornar sua segunda esposa. Com ela, Guccione teve outros dois filhos. Mas a vida em Londres não era fácil. Para sustentar sua família, Bob trabalhava em uma rede de lavanderias enquanto fazia freelances como desenhista para alguns jornais.
O que deu a Guccione o insight para que ele desse início a uma nova carreira foi perceber o sucesso que sua mulher estava tendo com a venda de posteres com fotos de pin-ups. Vendo que havia um grande público masculino em busca fotos de mulheres, Bob criou, então, a Penthouse, cuja primeira edição foi publicada em 1965, na Inglaterra, com fotos tiradas por ele mesmo em um estúdio improvisado.
A revista tentava concorrer com a americana Playboy, que, era a líder de vendas nos Estados Unidos. A Penthouse, entretanto, era diferente. Seu conteúdo era muito mais explícito e sensacionalista do que o da revista de Hugh Hefner. A Penthouse era voltada para o público da classe trabalhadora, sendo a primeira a ter de fato o nu frontal.
Não demorou muito para que Bob e seu império chegassem ao maior mercado consumidor do mundo. Em 1969 a revista foi lançada nos Estados Unidos oferecendo um conteúdo sexual muito mais explícito do que a maioria das publicações masculinas daquela época.
Guccione também não tinha vergonha de jogar baixo. Para aumentar as vendas de sua revista, ele, diversas vezes publicou fotos não autorizadas de modelos e celebridades como Madonna. Um desses ensaios, inclusive, acabou custando à Vanessa Lynn Williams o seu título de Miss America, que ela havia conquistado em 1983.
Poucos anos depois, no início dos anos 1990, Bob inovava novamente, colocando nas páginas de sua revista imagens de sexo explícito, tendência que o mercado norte-americano só começaria a seguir dez anos mais tarde.
O sucesso que a Penthouse fazia permitiu que Guccione investisse ainda mais no mercado editoral. Sob o selo da Penthouse International Inc., foram lançadas diversas novas revistas sobre os mais variados temas. O império criado por ele lhe permitiu uma vida de luxos e acesso a tudo aquilo que ele não teve quando jovem. Sua mansão de 30 quartos, por exemplo, era uma das maiores e mais caras de Manhattan. Bob ainda possuía uma vasta coleção de obras de arte com pinturas e esculturas de nomes como Botticelli, Salvador Dalí, Renoir e Van Gogh.
Ah, e se você assistiu ao filme Calígula (1979) quando era adolescente, agradeça a Bob Guccione, um dos produtores.
Link YouTube | Entrevista na qual ele fala sobre todos os seus projetos, incluindo uma revista de ciência, a Omni.
Entrentanto, uma série de decisões mal tomadas e o crescimento da pornografia gratuita na Internet fizeram com que Guccione perdesse muito dinheiro. Sua mansão e toda a sua coleção tiveram que ser vendidas para que ele pudesse quitar as dívidas que acumulara durante os anos de luxo e luxúria.
Sua última esposa foi a sul-africana Kathy Keeton, com quem ele permaneceu casado até 1997, quando ela morreu. Pouco tempo depois Guccione foi diagnosticado com câncer, primeiramente na garganta e, depois, em estágio terminal no pulmão. Ele morreu no último dia 20 de outubro.
Da equipe do PdH, fica registrado o adeus e o nosso muito obrigado a um homem que nunca se preocupou em servir de exemplo, mas que mostrou ao mundo que vale a pena ser um pouco atrevido.
Puxe uma cadeira e comente, a casa é sua. Cultivamos diálogos não-violentos, significativos e bem humorados há mais de dez anos. Para saber como fazemos, leianossa política de comentários.