Se eu descobri o blues com Os Irmãos Cara-de-Pau, eu me apaixonei de verdade por ele — mesmo ainda sem entender nada sobre blues — no final dos anos 80, ao assistir Coração Satânico. Além de ser um dos meus filmes de terror preferidos, boa parte dele se passa em Nova Orleans, em cenas evidentemente repletas de blues e jazz.
Uma delas me chamou a atenção logo que assisti: trata-se do show de um velho blueseiro — que tem um papel importante na trama — em um pequeno bar, cantando a música Rainy, Rainy Day. Somente anos depois eu descobriria que se tratava de Brownie McGhee, um grande nome do blues, cuja carreira se iniciou nos anos 30 — com o passar dos anos, sua parceria com o gaitista Sonny Terry se tornaria lendária. No início dos anos 90, comprei o CD da trilha e provavelmente foi a primeira vez que ouvi Bessie Smith (Honeyman Blues). Assista até o final dos créditos, que é onde um elemento importante da trama se explica.
Encruzilhada(Crossroads, EUA, 1987)
Direção: Walter Hill
Elenco: Ralph Macchio, Joe Seneca
Outro filme obrigatório em qualquer lista de blues. Fez muito sucesso nos anos, tornando-se um dos maiores sucessos de Ralph Macchio além da série Karate Kid. Mais que uma reverência ao blues do Mississipi, o blues homenageia mesmo sua figura mais emblemática: Robert Johnson — que abordei neste texto aqui.
Encruzilhada narra a jornada de um garoto que, ao lado de um velho blueseiro, parte em busca da canção perdida de Robert Johnson — segundo o roteiro, Johnson, que gravou vinte e nove músicas, teria vendido a alma em troca de trinta canções. Assim, eles mergulham no Mississipi numa jornada musical — temperada pela guitarra de Ry Cooder nas canções incidentais — o que culmina num duelo musical que conta com a participação de um ainda jovem Steve Vai. É um dos filmes mais conhecidos a abordar o blues, e é, certamente, um dos mais respeitosos. Indispensável.
Cadillac Records (Cadillac Records, EUA, 2008)
Direção: Darnell Martin
Elenco: Adrien Brody, Jeffrey Wright
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Lançado em 2008, o filme era uma das grandes apostas da Sony para o Oscar daquele ano, mas fracassou completamente. Assim, ele acabou se tornando mais um projeto pessoal da cantora Beyoncé, que não apenas atua como é produtora executiva. Mas é uma produção caprichada que mergulha na história da Chess, a gravadora mais importante da história do blues.
Sim, muita coisa é romanceada, modificada ou simplesmente ignorada (como os outros irmãos Chess). Mas ainda assim é um bom programa e ideal para conhecer alguns dos principais astros da empresa: Muddy Waters, Willie Dixon, Howlin’ Wolf, Etta James, Little Walter e Chuck Berry — todos eles pilares do blues moderno. A trilha sonora, como era de esperar, é um show à parte — e, mais importante, são interpretadas pelos próprios atores, com bastante qualidade (a versão de Beyoncé para At Last é muito boa).
E Aí, Meu Irmão, Cadê Você? (Oh Brother, Where Art Thou? EUA, 2000)
Direção: Joel Coen
Elenco: George Clooney, John Turturro
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Um dos filmes mais deliciosos dos irmãos Coen, essa comédia se passa no Sul dos Estados Unidos durante os anos 30 (o filme tem um filtro de cores que remete à época) e acompanha três presidiários que escapam da cadeia e partem em busca de uma fortuna escondida.
Além de ser um filme excepcional que é quase uma sátira moderna do poema Odisséia (o primeiro nome do personagem central é Ulisses, o que evidencia isso ainda mais), o filme é uma viagem deliciosa pela música folk dos anos 30. Isso porque as músicas não estão apenas na trilha sonora: elas são partes importantes da trama, muitas vezes servindo como elemento narrativo. Assim, você tem blues, bluegrass, gospel e country…. E a canção Man of Constant Sorrow, dos Soggy Bottom Boys (leia-se: George Clooney, John Turturro e Tim Blake Nelson), que é uma delícia.
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Obs.: Este texto foi originalmente publicado na série Sábado de Blues, lá no Medium do autor, Rob Gordon, que sai – pasmem – todos os sábados.
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