É incrível. Mas o fato de a barba ter voltado ao auge, preenchido o rosto de boa parte das pessoas que conheço e tirado um tiquinho o estigma dos pelos faciais só me faz lembrar que, na realidade, a história deveria ser contada ao contrário. 

Barba é natural, certo? 

Ainda que algumas etnias não tenham a facilidade de cultivar um visual lenhador do Brooklin (ou da Rua Augusta), boa parte dos homens tem hormônios suficientes para deixar a coisa crescer. Outros tantos sofrem a valer com alergias ou preguiça de raspar a coisa toda dia após dia.

A conclusão óbvia a partir disso é: durante o maior tempo possível da humanidade, os homens foram barbudos. Muitas vezes, muito, muito barbudos. Isso sem contar o Oriente Médio, por exemplo, onde a barba faz parte de ritos religiosos. No Egito, a coisa fazia parte de um rito de purificação, por exemplo:

Segundo o historiador grego Heródoto, sacerdotes egípcios de século 6 a.C. raspavam seus corpos inteiros a cada dois dias como parte de um ritual de purificação. Eles ainda arrancavam as sobrancelhas e até mesmo os cílios (ouch!).

A remoção do cabelo era tão importante para os antigos egípcios que os reis eram barbeados com lâminas incrustados de jóias e santificadas. Quando um rei morria, muitas vezes ele era enterrado com uma lâmina de confiança, para que ele pudesse continuasse a ser barbeado diariamente na vida após a morte.

Aí que decidi ir atrás dos motivos que fizeram a navalha imperar no último século aqui pelo Ocidente. O jornalista inglês Martin Brodetsky levanta uma bola:

Uma análise de imagens de mostra que os jovens sem barba começaram a proliferar na década de 1890. A Primeira Guerra Mundial absolutamente raspou tudo (exceto entre os franceses e psicanalistas), já que as barbas poderiam abrigar piolhos.

Estranhamente, entre os franceses, os soldados da Primeira Guerra Mundial foram chamados os “barbudos” por conta dos extensos pelos faciais que ostentavam nas trincheiras.

 

Bom, é uma teoria, certo? Pode estar certa ou fazer nenhum sentido. Mas uma coisa aí segura o debate até hoje: barba é sujeira no imaginário coletivo. Claro que um soldado na trincheira não poderia se dar ao direito de coçar seus piolhos do queixo. O perigo era real e vinha num tirombaço na cabeça. Mas os piolhos não surgem por geração espontânea e nem são inerentes aos barbudos. 

A coisa é que passar dias entrincheirado e sujo de lama naturalmente traz alguns problemas. A gente poderia falar do chulé ou do mau hálito, também consequências naturais para quem vive em condições como essas.

Soldados franceses ajudam os companheiros a fazer a barba e se lavar nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial. A foto foi divulgada pelo museu francês Historial de Péronne

Aí que um dia desses girou o mundo as pesquisas que diziam que barba é nojenta, causa problemas, doenças e pode hospedar germes para uma vida toda. O Terra manchetou assim

“Barbas podem ser tão sujas quanto banheiros, alertam especialistas”.

Pinço então esse trechinho aqui: 

“O médico (Anthony Hilton, diretor de ciências biológicas e biomédicas na Universidade de Aston, na Inglaterra) afirmou que, embora existam comprovações de que as barbas estão cheias de bactérias, não há nenhuma prova de que isso leve a problemas de saúde. “Não é raro encontrar 20 mil bactérias sobre a pele e isso não é prejudicial.”

É facinho passar batido, mas o verbo “pode” entrega o quanto a matéria é um enorme saco de pão preenchido de ar. Um legítimo pastel de vento. Barbas podem ser sujas como latrinas ou limpas como o chão da cozinha da casa da sua mãe após dia de faxina. 

Depende de você, claro.

Nisso, chegamos ao essencial, que desenvolvo nas próximas linhas. Como, afinal, deixar a barba limpinha por uma vida toda? 

1. Todo dia é dia de limpeza

Dê mais minutos para sua barba do que para seu cabelo. Não sei com que frequência você costuma lavar a cabeleira, mas pense que todo dia é dia de caprichar nos pelos faciais. 

O bigode, os pelos do queixo e das bochechas são mais crespos, grossos e tendem a ficar oleosos com facilidade também. Enxague-os todos os dias, se possível mais de uma vez. Essa prática vai eliminar boa parte dos tais germes. Esfregue bem a coisa, por alguns bons minutos.

Em casa não tenho nenhum produto especial. Inclusive – como a maioria imensa dos homens – uso o mesmo shampoo nos cabelos e na barba. Condicionador, por exemplo, já reparei que ajuda bem na maciez da coisa (enquanto já ouvi da boca de um barbeiro que, se usar condicionador, tem que ser bem pouquinho porque ajuda a deixar os pelos mais oleosos). Mas tem uma porção de cremes específicos também. A prateleira do mercado está cheia deles. Só não recomendo usar sabonete comum porque aí a coisa fica ressecada e estranha. Pelo menos no meu caso.

O WikiHow vai direto ao ponto:

Acredite ou não, as pessoas podem ter nacos de pizza embaixo do bigode numa terça-feira pela manhã. Lave o rosto com sabonete e água todas as manhãs e todas as noites.

Você não precisa de nada muito forte, mas apenas algo para cortar a oleosidade que se acumulou. Certifique-se também secar o rosto completamente. Tenha uma toalha limpa e retire o máximo possível de água da barba.

Ah, se o inglês estiver em dia, esse videozinho é bastante ilustrativo:

2. Hidratação é a solução

O que não faltam são produtos que fazem o papel importante da hidratação. Mas o final é bem simples: encontre algum que deixe os pelos hidratados. 

 

  • Shampoo para barba: limpa e hidrata a barba e a pele embaixo dela;
  • Balm de barba: para cuidar da barba que ainda está crescendo, tirando coceiras e irritações;
  • Óleo de barba: quanto maior a barba, mais difícil vai ficando a hidratação natural nas pontas dos pelos. Esse tipo de produto deixa a hidratação mais homogênea e a barba mais macia;
  • Cera de bigode: porque não temos pelos só no queixo, esse tipo de produto serve também para domar a bigodeira entre o nariz e a boca;
  • Loção pós-barba: ajuda a fechar os poros, revitalizar a pele e absorver a oleosidade; 
  • Creme de barbear: hidrata, refresca, lubrifica e protege a pele.

 

Sucesso absoluto

Os produtos são desenvolvidos para o uso durante o banho e a maioria contém proteínas especiais que ajudam um bocado a evitar coceira, deixar os pelos menos rebeldes e eriçados. Tem uma porção de tabus ainda, mas já temos muitos homens que não veem problema em passar cremes para a pele, óleos e quetais. Certamente isso auxilia muito naquela contenção de germes vaticinada por um monte de gente.

Novamente, o WikiHow tem umas dicas bem legais:

Quando sua pele estiver seca, aplique um pouco de loção pós-barba (de acordo com as instruções) para as áreas barbeadas. Vá atrás de algo agradável, mas não tente aromas avassaladores. Quanto menos ingredientes, melhor. Fique longe de produtos com ingredientes estranhos.

Outros ponto importante é aparar regularmente os pelos e não cair na falácia do “nasceu no rosto está feito”. Mas sobre isso já falamos anteriormente, certo?.

A coisa é mais simples que parece. E cuide bem da barba. Pelo menos até a nova moda dizer que a onda é voltar a ter rosto livre de todo e qualquer pelo. Mas aí, nesse caso, nem conte comigo.

* * *

Sobre barba

Como deixar a barba crescer: o passo-a-passo e o emocional

Os tipos de barba, do mundo real ao Instagram: 5 relatos de caras como você e eu

A primeira barba de um homem (ou o que a gente nunca esquece)

Arruma essa barba, rapá: como modelar a barba de maneira real e estilosa

sitepdh

Ilustradora, engenheira civil e mestranda em sustentabilidade do ambiente construído, atualmente pesquisa a mudança de paradigma necessária na indústria da construção civil rumo à regeneração e é co-fundadora do Futuro possível.

Leia também  O Jabuti branco de Chico Buarque