“O infinito é infinito. O infinito é o amor. O infinito nunca acaba porque nunca começou.”
Esse é um trecho da música “Infinito de Pé”, de André Abujamra, um dos palestrantes convidados para o TEDxAmazônia.
Conforme o próprio site já antecipa, “seus arranjos multiculturais com letras nonsense estão cheios de insights inesperados, na linha ‘preste atenção nas coisas que não chamam a atenção’”. A música de Abujamra é toda dessa forma.
A brincadeira com as letras das músicas é tanta que, em “Curriculum”, ele conta em pouco mais de 10 minutos os fatos mais importantes na sua vida pessoal e profissional:
“Oi, meu nome é André Abujamra, estou aqui de pijama na frente do meu computador, na verdade é mentira, estou de cueca, falei pijama para rimar com Abujamra se bem que nem rima é, mas meu primeiro nome é André. […]
Meu pai, pra mim, é gênio e pra ele também sou. Ele é caçula de uma família de 12 e eu sou caçula dele então não conheci meu avô. Que coisa maluca falar de mim, mas com essa moda de reality show resolvi me exibir. Sou grandão, tenho mais de 100 kg, 1 metro e 86, olhos azuis, sou casado com minha mulher, quem casou a gente foi meu pai Decimínio, nosso ilê de candomblé. Falando nisso, ela é a Dani, está dormindo lá no quarto, na barriga tem o nosso nenê, é o Pedro. Como eu amo minha família, meu Deus […]”
Conheci esta música nessa semana. Achei muito ousada (ouça aqui). É como se fosse recitar uma poesia na forma de prosa, cantarolando a melodia de acordo. É estranho, parece que a cabeça vai explodir quando você tenta analisá-la, de tantos detalhes que existem.
André Abujamra é conhecido por fundar, junto com Maurício Pereira,em 1985, “a terceira menor big band do mundo”, Mulheres Negras, fazendo muitos shows no Brasil e no exterior. As músicas eram irreverentes e utilizavam muitos equipamentos eletrônicos que se faziam soar como uma orquestra.
Em 1991, o Mulheres Negras encerrou as atividades e Abujamra saiu para dar um rolê pelo mundo. Quando voltou, fundou a banda Karnak, nome tirado do templo de Karnak, no Egito. Dessa vez era uma big band de verdade, contando com 12 homens, dois atores e um cachorro. Incluiu todas as influências que teve da música que conheceu, em todos os lugares do mundo que visitou. A banda fez mais sucesso no exterior que no Brasil, apesar de muitas de suas músicas serem em português. Foram lançados três CDs antes do fim.
Abujamra começou então a sua carreira solo com dois CDs: O Infinito de Pé e, recentemente, Mafaro, uma piração multimídia cheia de referências de outras culturas e tribos, com a participação de Baleiro, Xis, Curumim, Evandro Mesquita e Luiz Caldas. Veja um teaser com trechos do espetáculo:
Paralelamente a isso, André Abujamra é ator e um respeitado produtor de trilhas musicais para o cinema brasileiro, além de programas infantis como Rá-Tim-Bum.
“Meu conselho para quem deseja fazer música para cinema é: erre, faça. Ideia qualquer um tem, não adianta só pensar, tem de realizar. Um artista se faz de muito trabalho, muito estofo. Não se faz de um disco, não se faz de um filme, se faz de 30 filmes, 40 discos.”
–André Abujamra, no programa Zoom, da TV Cultura.
Entre filmes como Carlota Joaquina, Bicho de 7 Cabeças, Carandiru e Domésticas, a trilha que mais me surpreendeu foi a de Castelo Rá-Tim-Bum, talvez pelo fato de ter me emocionado quando eu ainda era criança. Preste atenção na criatividade da letra e na complexidade em um “simples” filme infantil:
Link YouTube | Faço um convite para você conhecer a trilha completa no Youtube.
Quando o Abujamra-pai diz que o Abujamra-filho tem um pouco de genialidade, eu concordo em gênero, número e grau. Tenho certeza que muitas coisas interessantes sairão da boca dele no TEDxAmazônia, no palco e nas conversas preciosas nos intervalos do evento. Agora é só esperar.
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