O Bruno Passos já foi na mosca com o artigo ““Eu não ligo pra roupa” – ou – o complexo de macheza tupiniquim”. O brasileiro médio passa horas na frente do espelho, cada vez mais se preocupa com o que veste, com seu perfume, sua bota ou seu tênis. Passa horas em outlets, navega por sites especializados toda semana, adora camisas retrô de futebol, compra gravata e calça jeans skinny. Mas se alguém elogia seu modo de vestir sai com a mesma mentirinha de sempre:
“Ah, eu não ligo para roupa”.
Acredite: para além dos costumes seculares, há uma enormidade de caminhos para você conseguir aproveitar o melhor do seu potencial estético, digamos assim. E, claro, é sempre saboroso olhar fotos do passado e trombar com insistências infelizes ou esses tortuosos caminhos que você obrigatoriamente passou. Sim, é exatamente daquela época em que você só usava preto, camisetas de bandas já caducas de velhice ou de excesso de overdrive e insistia em deixar o cabelo crescer sem dar a menor atenção para ele.
Passados os 25 anos de idade já não é preciso mais vestir essas máscaras. Nem fingir que não está nem aí nem nunca reparou no que chama sua atenção no modo de agir, de falar, de se portar e de vestir naqueles artistas ou amigos que você acha massa. O lance é analisar seriamente seus erros e acertos do passado, bem como deixar claro para você mesmo de onde é que saiu aquela repentina coragem de investir num cachecol ou em passar a cuidar minimamente da barba. Isso é maturidade. Não tem nada a ver com frescura.
Cabelo, cabeleira, cabeludo, descabelado
Aqui começa o truque. Para que seu corte de cabelo faça sentido, vale equilibrá-lo com o formato do rosto. O meu rosto, por exemplo, é praticamente um círculo exato, o que faz com que eu precise usar recursos para alongá-lo. O exercício é simples: se já tenho o rosto circular ou arredondado, imagina se eu cultivar um cabelo que tenha formatos mais arredondados? Portanto, nada de black power ou manter as pontas de trás na mesma proporção do resto do cabelo. O grande truque do rosto é buscar o equilíbrio. Alguém que tenha um queixo mais pontudo ou um traço de fisionomia mais alongado – vide Adrien Brody -, dificilmente ficará adequado com um corte de cabelo mais topetudo. As chances de cair na caricatura em cenários como esse são bastante consideráveis.
Bem, depois de muito tempo caindo exatamente em todos esses enganos aí de cima, a ideia de partir para algo mais próximo ao gigantismo cinquentista e birrento de James Dean surgiu. A ideia caiu bem demais dentro do conceito de respeitar as características do formato do rosto, alongando verticalmente a cabeça, deixando-a menos arredondada.
Barbudos do mundo, uni-vos
É engraçado como as coisas ganham novos significados. A primeira vez que deixei a barba crescer pelo rosto todo – sem contar aquelas penugens que começaram a brotar no queixo e aquele princípio de bigode – foi no ano de 2007. Era como se automaticamente passasse a ser condenado como um representante de um séquito muito específico e não era raro ouvir dos mais velhos que eu deveria repensar a minha escolha. Tinha sempre a piadinha do Los Hermanos.
Bem, analisando algumas imagens antigas vejo que as críticas não eram exageradas. De fato, faltava saber usar melhor os fios que insistem crescer dia após dia. Lembra a questão da geometria do seu rosto? Na barba é bom sempre respeitar as linhas laterais do rosto, bem como nunca se esquecer de brincar com a proporção dos pelos. Depois de anos sem saber bem como chegar lá, percebi que a grande sacada no meu caso seria tentar alongar o queixo. Meu mestre? Jake Gyllenhaal, que abandonou há alguns anos aquele visual de mocinho de novela das nove ou herói hollywoodiano. Não que ele não fosse um cara absolutamente capaz de escolher os papeis certos (Brokeback Mountain e Donnie Darko, por exemplo), mas não parece que a carreira dele ganhou densidade tal qual os pelos no rosto?
Roupa é um grande barato
Tal como as músicas que você ouve ou seus filmes favoritos, nada mais natural que seu estilo se alternar. De repente aquela calça cargo que você achava super máscula não passa de um engodo naquela fotinho maneira com a molecadinha de uma década atrás. Camisetas largas, bermudas para além do joelho ou tênis de skate o tempo todo também já não fazem o menor sentido, certo?
Pense em situações onde você não conhece ninguém ou quase ninguém. Pode ser o primeiro dia de trabalho, uma festa, a estreia na casa dos sogros ou um primeiro encontro. Em todas elas sua roupa será seu “olá, tudo bem?”. A grande vitória é conseguir unir penteado, barba (ou ausência dela) e o restante.
Para além do estilo, se mais sóbrio ou incrementado, há um princípio infalível para caminhar na direção correta: o corte das roupas. Alto, baixo, gordo ou magro, o corte da roupa precisa favorecê-lo. Eu mesmo demorei um bocado até entender isso. Calça com barra muito alta ou sem barra nenhuma só pode dar errado, bem como uma camisa muito folgada ou apertada demais.
Bem, o segundo passo é um tanto quanto instintivo. Acaba caminhando sozinho. Ainda que você não chegue a formular conscientemente na sua cabeça, aquele bando de caras que você acha massa vão acabar por influenciá-lo ao extremo. Quando era moleque, vivia por aí entre um show ou outro de hardcore, seja no palco ou fora dele. Para além dos exageros comuns a qualquer pirralho, alguma influência há de se manter.
Para o dia a dia, por exemplo, acabou que o Fugazi, banda cabeçuda do punk, perpetuou-se na minha vida: camiseta lisa, calça jeans ou de chino e tênis baixo. Sobriedade, né? Algo como se a roupa quisesse dizer “bem, acho que você vai precisar ouvir o que tenho a dizer, já que o que uso não é nada demais”.
A coisa vem e vai. Para além do dia a dia, há sempre um compromisso mais formal. O que não quer dizer de maneira alguma que você precise se recriar. Em geral, pequenas mudanças fazem enormes diferenças. Troque um tênis por uma bota, uma camiseta lisa por uma camisa xadrez, lisa ou de microestampas e lá está você pronto para ouvir: “Está chique hoje, hein?”
Acessórios para quem precisa
Como bem lembrou um dia desses o Jader Pires, o editor aqui da casa, não dá para o cara querer bancar o rebelde e meter um relógio de pulso. “Qual é? O rebelde que precisa lá saber as horas?”. Por outro lado, um bom relógio sempre será um acessório de responsa. Um óculos maneiro sempre vai fazer diferença.
Falando nisso, e voltando naquele ponto de que uma hora ou outra suas referências voltam à mente mesmo que sem querer, quando estava por Nova York trombei com uma armação de óculos encarnada, que me chamou a atenção na hora:
Não sei se ela te lembra algo diretamente. Na hora o meu pensamento foi de que ela combinava com o formato do meu rosto. Outro ponto positivo é o fator “não está na moda, mas sempre vai estar na moda”. Tempos depois, já de volta ao Brasil, acabei descobrindo de onde vinha a carga positiva sobre o modelo de óculos: Malcolm X e toda aquela leva de gente importante dos 1960.
De óculos de grau para os escuros vai um passo, certo? Algumas armações vão atravessar a existência humana e, assim como as baratas, vão superar até mesmo um desastre atômico. Duas delas são o óculos “aviador” e o Ray-Ban Wayfarer. Basicamente todas as pessoas do planeta já tiveram um deles. E pessoas de alto calibre acabaram como embaixadores informais dos modelos. O Wayfarer, por exemplo, é o preferido desse carinha aqui debaixo.
Para além de transformar seu óculos numa peça de destaque, há um preceito básico. Lembra aquela coisa das pequenas mudanças fazerem toda diferença? Acredite, elas fazem mesmo. A moda masculina se expandiu. O leque nunca foi tão amplo. Relógios, meias, cintos, perfumes…
Cada um desses detalhes podem ser mais que detalhes.
Podem criar impressões em quem olha para você. Mas você pode transformá-las em peças para destacar sua personalidade. Um relógio incrementado pode sugerir apreço por compromissos, pontualidade. Parta do ponto de qual aspecto da personalidade você gostaria de expor, como você gosta de entrar em contato com quem conhece (ou não) e tente não criar falsas interpretações. Normalmente são esses deslizes que podem causar ruído, más impressões.
E aí, qual é a sua grande sacada na hora de se vestir?
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