Temos um vício em criar pequenas e grandes narrativas em nossas mentes e isso afeta como lidamos com todos os atos e planejamentos do nosso dia a dia. Agora que entramos naquele trocar de ciclos, é interessante nos afastar de nossos anseios para ver como lidamos com eles.

Vamos fazer projetos e promessas, tentar organizar como viveremos os próximos meses, listar os erros que não queremos cometer, enumerar por ordem de prioridade o que desejamos que aconteça e, mais ainda, como tudo vai se suceder. Prontos, bonitos e focados.

E vai dar tudo com os burros n'água.

Porque a vida opera no caos, as variáveis vão se multiplicar, nossas realidades vão se transmutar e nós mesmos não seremos mais os mesmos jajá, logo mais mesmo. Com isso, todas nossas vontades, do jeito que botamos na cabeça, vão ser usurpadas e isso tudo vai gerar sofrimento.

No meu curso de escrita, que tento mais falar sobre o nosso olhar sobre o cotidiano, a nossa visão sobre o eu e o entorno, do que propriamente falar de gramática e figuras de linguagem, dou uma pequena explanação de como somos viciados em narrativa. O exemplo que uso lá é o seguinte: Todos nós conhecemos o Charlie Chaplin, certo? Pois bem. Imaginem o vagabundo ("The Tramp", como chamam-no lá na gringa) caminhando e, com um forte vento, cai no chão o seu chapéu. Todos nós, desde que nascemos, vimos esse tipo de cena acontecer milhões de vezes! Logo, nosso vício é o de completar a cena antes de ela ser encerrada por si só. Botamos em nossos olhos futuros o personagem se dirigindo até seu pertence derrubado, se abaixar e pegar o objeto, colocando-o, assim, de volta na cabeça. Mas o Chaplin, com seu sapato maior que o tamanho do pé, chuta o chapéu em vez de recolhê-lo, causando uma inquietação no expectador, que vai rir enquanto seu cérebro recoloca a narrativa em ordem. Conto isso pra falar como podemos empolgar o leitor com nossa narrativa, quebrando expectativas e provocando excitação.

Bingo!

Se a gente quebra expectativas, mas conseguimos avançar, isso causa empolgação. Mas teimamos em fazer o oposto, montando todos os passos das nossas estratégias e desejos na cabeça, e com isso afunilamos todas as possibilidades, fazendo com que a narrativa se torne uma só, rara em si mesma. E de certo não vamos prosseguir com nossas vidas nesse único corredor de viabilidade. Precisamos contar com atalhos, desvios, troca de rotas e de turnos para que um caminho seja construído. Então, essa não é uma proposta de abandono de planos, nem um juvenil pedido de carpe diem, mas um convite para novos olhares, com ganas e aspirações, mas abertos a mudanças, intercorrências, ziguezagues e mutações. 

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Quando acrescentamos interesses ao invés de jogar fora conveniências, se romantizamos nossos atos e criamos caminhos únicos, sem erros, sem derrotas, sem acordos, vai doer pra cacete.

E de dor, já bastam os instantes atuais que tão doidinhos pra machucar a gente.

Curso de escrita: como o Jader escreve seus contos e crônicas

Escrever é saber onde pisa e criar pontes para que o outro enxergue o que a gente vê. Este curso serve para quem almeja iniciar uma carreira como escritor, quem quer publicar bons textos na internet, nas redes sociais, quem trabalha com conteúdo, com comunicação, com apresentações, artigos, relatórios, criação de textos, documentos, quem trabalha com vendas, com atendimento.

Mas também é um jeito de enxergar o mundo de um jeito diferente, de a gente olhar pra dentro da gente e nos compreender nossas falhas e virtudes, as ajudas que precisamos, o jeito peculiar com que agimos em meio ao caos que é viver. Ajuda muito não só quando digitamos textos, mas quando olhamos, quando agimos, quando pensamos que diabos estamos fazendo aqui?

São dez aulas, feitas por vídeo (sim, ao vivo, nada gravado, e você pode assistir as aulas de qualquer lugar do planeta!) que podem ser individuais ou em dupla (não precisa se aproximar com dupla formada, basta me avisar e eu aproximo outros alunos interessados). O valor do curso todo é de R$1200,00 (mil e duzentos reais), e quem escolhe fazer em dupla paga só metade, ou seja, desembolsa só R$600,00 (seiscentos mangos). 

Quer ver o que penso pro curso, as matérias que passo e todos os outros detalhes? Chega mais aqui no jaderpires.com.br/cursos/ que a gente conversa.

Jader Pires

É escritor e colunista do Papo de Homem. Escreve, a cada quinze dias, a coluna <a>Do Amor</a>. Tem dois livros publicados