Uma lista. Cuidadosamente tricoteada em silêncios, o que lhe era uma dúvida de final de festa foi se transmutado em documento grande e complexo, quase um tratado entre nações em conflito. Quais seriam os amigos do casal que ela pegaria? Durante seu aniversário ele foi brincando com isso na cabeça, via a receptividade dela na chegada dos convidados, os abraços e sorrisos, o encaixe que a conversa com eles dava. Ela sempre teve muito jeito no trato com as pessoas, aconchegava qualquer prosa, o magnetismo imediato das pessoas com excesso de carisma. 

Quando todos foram embora, no tirar das roupas para caírem na cama, ele ainda fez piada dizendo que tinha enumerado alguns caras que ela ficaria numa boa. Ela, nua, perguntou se ele também ficaria com ela numa boa. A conversa acabou naquela noite.

Nas semanas que se seguiram, o catálogo ganhou mais alguns nomes. Sete, nove, doze. Amigos do trabalho dela, o vizinho do dezoito, o garçom gato do bar que sempre os atendia antes de todo mundo. Assombrava-lhe por demais a maneira simples com que ela atraía todo mundo e como se moldava perto de cada homem, parecendo ser sempre deles. Todos, ao ter contato com ela, se adaptavam à sua fala, aos assuntos dela, se abriam e gesticulavam mais que o normal. Pelo menos era a visão que ele estava começando a moldar nos olhos.

E quanto mais repetia os nomes na cabeça, mais em seu fluxo mental ia impregnando a dúvida. Mas será?

Claro, de início botou seu pau na frente de todos os outros. "Ela não me trocaria por nenhum deles", falou baixo no ponto de ônibus enquanto chacoalhava a cabeça negativamente. Seu rosto parecia um rabisco, incrédulo com os próprios pensamentos. Mas daí chegava um e mandava o disco certeiro pra ela ouvir, não errava nunca. O outro era empolgado com os esportes ao ar livre, a levava para correr toda semana. A cada jantar em que ela contava alguma façanha de qualquer deles e lá vinha a lista na sua cabeça. Chegou a organizá-la por quem ela iria atrás primeiro caso terminassem, se acontecesse de não estarem mais juntos. Com quem ela mais se abria, qual deles provavelmente a comeria melhor, quem desses relacionados teria as qualidades que ela procura em alguém.

Começou a se aproximar da derrota e vê-la como realidade. Certa noite varou a madrugada com o celular nas mãos avaliando o perfil de cada um deles. Foi atrás de saber como era cada um deles, o que pensavam e faziam, o que postavam. Como cada um deles se colocava no mundo como homem e o que eles tinham que ele poderia não ter. O que eles tinham de melhor que ele não tinha, onde estavam suas vantagens diante das falhas de cada um dos amigos e vizinhos e garçons. anotava tudo e catalogava cada vitória e cada débito. No dia a dia, conforme os elencados apareciam, ele comparava suas análises com a realidade. Ele queria saber onde ele sobrava e onde ele faltava. "Eu sabia", repetia em cada acerto.

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Dessa maneira, foi também invertendo um pouco o jogo e atribuindo à ela suas observações, tirando-a de seu lugar de perfeita a cada atitude que julgava desqualificá-la. Quanto mais perto de cometer erros ela ficava, mais ele a colocava perto dele. Mais errados eles pareciam ao seu ver. Disso para imaginá-la buzinando na frente da casa de um deles, os beijos, ela transando com cada um deles, viagens em que um dos amigos dirigia o carro enquanto ela cantava propositalmente desafinada no banco do passageiro com os pezinhos descalços no painel.

Começou a desejar que tudo isso acontecesse. A vontade de estar certo começava a ficar maior que a de querer manter a relação. 

O amor? Que amor?

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Jader Pires

É escritor e colunista do Papo de Homem. Escreve, a cada quinze dias, a coluna <a>Do Amor</a>. Tem dois livros publicados